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Artigos-->LEMBRANDO MICHELINE COULOMBE SAINT-MARCOUX -- 20/10/2011 - 15:48 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


LEMBRANDO MICHELINE COULOMBE SAINT-MARCOUX_edn1" name="_ednref1" title="">[i]



 



L. C. Vinholes



 



Uma das figuras do mundo musical canadense com as quais tive oportunidade de manter contatos durante minha estada naquele país foi, sem dúvida, a compositora Micheline Coulombe Saint-Marcoux. Vivendo eu em Ottawa e ela em Montreal, apesar da curta distância entre as duas capitais, nossos contatos foram quase que exclusivamente mediante telefonemas. Assim como ela, figuram na minha lembrança, entre outros, os nomes do pianista e compositor Bruce Mather autor de um vasto e variado repertório sinfônico e camerístico incluindo Musique pour Champiny que lhe valeu o conceituado Prêmio Jules Legér; do pianista Douglas Voice (1937-1998), membro do corpo docente da Escola de Música da Universidade de Ottawa, chefe do Setor de Piano, diretor dos Estudos de Pós-Graduação, em diversas ocasiões chefe-interino da referida escola, hoje lembrado pelas Bolsas de Estudos de Piano instituídas em sua memória; e do compositor, pianista e educador argentino-canadense Alcidez Lanza, amigo e colaborador de Gilberto Mendes nos festivais de Santos, durante muitos anos diretor do estúdio de música eletrônica do Departamento de Música da Universidade McGill, intérprete das minhas peças gêmeas um e/ou outro (1954), para piano, no recital de 8 de fevereiro de 1982, no Festival de Música Canadense da Universidade Carleton, com um programa em que todas as demais peças eram para piano e fita magnetofônica, inclusive a obra Arksalalartôq, de Micheline, realizada em Paris em 1971.



 



Conheci Micheline por ocasião do VIII Curso Latino-Americano de Música Contemporânea em São João del-Rei de 7 a 21 de janeiro de 1979, período durante o qual o intenso programa que cada um de nós desenvolvia não nos permitia ter tempo bastante para trocarmos idéias e opiniões. Ela tinha quase todo seu tempo livre absolvido pelo dinâmico corpo discente de jovens músicos e compositores do Brasil e de países da América Latina. Mesmo assim foram gratificantes os diálogos que tivemos durante os quais Micheline entrou em minúcias sobre certos aspectos do processo de criação de suas obras “Zones” (1972), apresentada na noite dedicada à Música Eletroacústica do Canadá (09/01) e “Regards” (1978) no recital com gravações de obras instrumentais de compositores canadenses (18/01), quando foi apresentada também a “Eine Keine Bläsermusik” (1975), de Bruce Mather.



 



Apesar dos pesares todos nós sempre encontrávamos alguns minutos para satisfazer a curiosidade um do outro. Foi assim que ficou notório o quarteto de companheirismo que se formou entre Micheline, a cantora paulista Ana Maria Kieffer, o compositor croata-iugoslavo Milko Kelemen e este autor.



 



Em 1981 surgiu mais uma oportunidade para aprofundar nossa amizade. Foi por ocasião do X Curso Latino-Americano de Música Contemporânea, realizado de 4 a 18 de janeiro daquele ano, em Santiago de los Caballeros, na República Dominicana, integrantes que fomos do seu corpo docente.



 



Tendo que viajar pela primeira vez para um país de língua espanhola, Micheline, por recomendação de José Maria Neves e Coriún Aharonián, presidente e secretário executivo do evento, combinou que nos encontraríamos no aeroporto de Miami para chegarmos juntos em Santo Domingo. Foi ali, durante longa espera, que tivemos diálogo saudosista salpicado de lembranças do curso de São João del-Rei. Durante o vôo de Miami à capital dominicana aproveitamos para sintonizar afinidades, preferências e opiniões relativas à perspectiva da produção musical de vanguarda no Brasil e no Canadá.



 



Na chegada em Santo Domingo às primeiras horas da manhã, Micheline recebeu a notícia de que sua bagagem, incluindo partituras e apontamentos preparados para as aulas e palestras que daria no curso, não tinha sido embarcada em Miami. Depois de muita discussão e desinformação e a providencial interferência de organizadores do curso e representantes do Governo local foi confirmado que a bagagem chegaria pelo vôo previsto para o final da tarde. Os demais participantes que chegaram em outros vôos tomaram o ônibus fretado e seguiram viagem pouco antes do almoço. Micheline e eu - que decidi ficar para acompanhá-la e tranqüilizá-la -, esperamos até o entardecer nas modestas dependências do aeroporto. Chegadas as bagagem, duas malas de tamanho médio, tomamos o ônibus de linha, passamos a noite mal-dormida, com muita chuva, e alcançamos a pousada nos arredores de Santigo de los Caballeros quando o dia já havia clareado e os companheiros de curso tomavam o café da manhã.



 



Voltando à conversa com Micheline, que ocupou parte da nossa viagem noturna, pude verificar que sua produção musical era variada, incluindo obras de caráter serial, e que ela continuava a cultivar com entusiasmo suas idéias relativas à música eletroacústica. Quando perguntei sobre a duração dessas obras ela comentou que a de maior duração era Moustières, de 1971, com 9’50’’, apresentada dia 17 de junho daquele ano no Festival de Bourges. Sempre satisfazendo minha curiosidade, fez referência ao fato de ter recebido, em 1967, o Prêmio Europa de composição com o qual permaneceu em Paris durante dois anos reiterando os estudos com Pierre Schaeffer no famoso Grupo de Pesquisas Musicais do então Escritório de Radiodifusão e Televisão Francês (ORTF). Contou-me ainda com entusiasmo ter sido selecionada em 1977 pelo Conselho Canadense das Artes e recebido apoio financeiro da Fundação Victor M. Lynch-Staunton que permitiu uma temporada na Europa e as experiências da espera demorada de sua filha no aeroporto de Helsinki que resultaram no tema da sua ópera Transit, à qual se referia como uma “obra dramático-musical”. Cheguei a conclusão de que a maior parte da obra de Micheline era dedicada a combinações instrumentais, algumas vezes incluindo voz e, também, fitas previamente gravadas.



 



Durante os quinze dias de duração do curso chamou minha atenção o entrosamento de Micheline com seus alunos, principalmente nas aulas coletivas e a parceria com os demais integrantes do corpo docente. Sua paciência e dedicação cativavam.



 



De volta ao Canadá outra vez, até meu retorno ao Brasil em 1987, nossos encontros voltaram a ser esporádicos, nossos contatos não se intensificaram apesar de ter sido permanente e duradoura a amizade que se solidificou em duas semanas nos ares da pitoresca Calle del Sol de Santiago de los Caballeros.



 



Micheline tinha apenas 46 anos quando de sua passagem em 2 de fevereiro de 1985, deixando não só sua filha Delphine, seu esposo professor Jacques Saint-Marcoux e a todos nós.




 





 




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