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Artigos-->A LEI CONTRA A PALMADINHA -- 20/10/2011 - 15:44 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A LEI CONTRA A PALMADINHA



Francisco Miguel de Moura*



Essas considerações em forma de crônica me vieram à mente após tomar conhecimento de que as autoridades brasileiras estão cuidando de votar uma lei proibitiva da palmadinha e, por extensão, do cocorote, do puxão de orelha, enfim, de todos esses gestos que produzem um bem tremendo sem deixar nenhum trauma, nenhum arranhão ou ferimento físico. E no futuro vão servir como despertador, em reflexões como estas da personalidade de seu filho:

- Ah, como me lembro das palmadinhas de minha mãe, do piscar de olhos severos de meu pai, como se prometendo castigo. Eles me queriam bem, por isto me repreendiam quando estava errado.

Nenhum menino de rua vai murmurar assim. Ao contrário, sabe-se de histórias de meninos e meninas criados na rua, expostos ao crime, que, quando tentam regenerar-se, pensam justamente na falta do pai, na falta da mãe, na falta da chinelada.

A palmada é tão educativa que não tenho ainda capacidade de dizer a que altitude ela chega.

A palmadinha não dói quando o amor é o próprio motor dela, apenas uma manifestação física forte, para acordar e mostrar o mundo à criança, através dessa metáfora do sofrimento que ele, o mundo, pode oferecer no futuro sem ela.

A palmadinha não doi quando aplicada com amor, no filho renitente que, digamos, quer bater no rosto materno.

A palmadinha é manifestação de vida.

A palmadinha... Logo que se nasce pegamos as primeiras palmadinhas para acordar. E dela não lembramos, sabemos pela boca dos outros. E se não der a palmadinha e a criança não acordar? A parteira (ou parteiro) é assassina por falta de palmadinha, pois a criança pode vir a sofrer de asma ou de outra doença respiratória. Ninguém calcula – saber ninguém sabe – o trauma que sofremos ao nascer. Disse um psicólogo, cujo nome a memória me fez o favor de esquecer, que se tivéssemos consciência da amplidão e profundidade desse trauma, jamais nasceríamos.

As autoridades brasileiras ainda não se tocaram que a família é uma instituição diferente de uma empresa. Legislar sobre a família é perigoso, precisa dobrar de cuidado e preocupação. Toda família deve ter sua privacidade, independência, liberdade para educar seus filhos. Dela não devem ser retirados esses atributos por presunção de que os pais podem vir a infringir, no futuro, os direitos da criança. Entre esses direitos estão aqueles da educação, do sentimento, do amor e das normas da verdade moral – que ainda existem, ninguém sabe por que milagre. Sem castigo não há direito nem torto. A palmadinha não dada se transforma em palmadão e vai recair sobre a criança. A proteção da lei faz aumentar a pena – adiada – sobre a criança.

“Mamãe, mamãe, / eu me lembro o chinelo na mão / o avental todo sujo de ovo... / Se eu pudesse eu queria outra vez, mamãe, / começar tudo, tudo de novo!”

A ternura contida na música antiga e na palmadinha da mamãe, quem medirá? A lei? Dura lex, sed lex. Mas, entre mãe e filho era impossível. Ainda é impossível.

A doçura dos pais, mesmo quando olham ou ralham com reprovação, é um presente, um alimento necessário à construção do ser que se está formando. A mãe dá palmadinha, o filho chora, e a própria mãe retribui com um beijo.

Há um ditado dos mais velhos, dentre aquelas frases que guardam tanta sabedoria, que diz: “faça seu filho chorar, antes que você venha a chorar por ele”.

No Brasil de hoje, chegamos a uma situação extrema: os filhos são quem ameaçam bater nos pais. É preciso ver a arrogância desses garotos criados ao lado da tevê, do “vídeo game” e da internet. A violência para eles é um valor sagrado, tais como vêem nos filmes, nas novelas e nos programas de televisão.

O que causou isto? Por que a indulgência e mesmo a impotência dos pais? Sociólogos e psicólogos de nomeada acham que somos egressos da época em que reinou a lei do “é proibido proibir”. Não ganhamos a revolução e ficamos com a culpa – esse sentimento de culpa vai-nos levando para o poço da errônea educação com que estamos conduzindo a família.

E então se pergunta: Qual o remédio?

Voltar à educação dos nossos pais, dos nossos avós, com as necessárias correções, e lembrar sempre do que dizia Che Guevara aos seus comandados:

“Hay que ser duro, pero sin perder la ternura jamais”.

___________________

*Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, da União Brasileira de Escritores e da Associação Internacional de Escritores e Artista, com sede nos Estados Unidos.



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