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Artigos-->A POÉTICA RENOVADA: ADRIANO LOBAO -- 20/10/2011 - 15:40 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A POÉTICA RENOVADA: ADRIANO LOBÃO



Francisco Miguel de Moura

Poeta,romancista, crítico literário



Renovar é difícil, só com muita paciência e bons temperos. Na verdade, mutatis mutandi, o que digo é o mesmo que Paulo Freire (1921-1997) escreveu: “Mudar é difícil, mas é possível”. Esse pensamento que me surgiu é pertinente. Tive a impressão, na leitura de Adriano Lobão Aragão, que ele é um renovador. E vi, lendo o prefácio ao livro Yone de Safo, Ed. Amálgama, Teresina, 2007, que Wanderson Lima já identificara a face de renovação do poeta, perguntando, ao comentar o poema O Engenheiro Inglês: “Qual a motivação desse poema?” E ele mesmo responde: “A poesia de Lobão se constrói sob o signo do historicismo, esse texto é, em primeira instância, um perfeito pastiche do estilo de H. Dobal. Só em segunda instância ele é uma crítica”. Mas Wanderson Lima explicara anteriormente “o inegável trato poético, o bom gosto e a escolha de interlocutores” que, Lobão iria agregando com “fragmentos e estilos de H. Dobal, Gerardo Mello Mourão, Homero na tradução de Carlos Alberto Nunes, alguns líricos lusos, a Bíblia, Cabral de Melo Neto”. O prefaciador não apenas o apresenta com velada critica: põe fé no poeta.

Realmente, Adriano Lobão Aragão, jovem de ar tímido e ensimesmado, é um poeta talentoso e dele muito se espera. Certamente, dele muito se ouvirá falar na literatura. No momento, refiro-me ao livro recente, As Cinzas as Palavras, Edições Amálgama, Teresina, 2009, onde prossegue na sua linha de aprofundamento nos clássicos - antigos e modernos – e o faz com uma poética crítica e com sabor de atualidade. Conta com outra roupagem, aquilo de que a poesia da modernidade mais gosta: a intertextualidade e a intratextualidade, traduzindo seu mundo em poesia, com discursos e sensações perpassados por outros. Cabe aqui uma digressão: Após o advento da obra póstuma Cours de Linguistique Generale, de Ferdinad de Saussurre (1857-1913), resultante de cursos dados aos seus alunos A. Ridlinger, Charles Bally e Albert Sechehaye, a Lingüística torna-se o estudo científico da linguagem, quando é feita a separação entre língua e fala, sendo esta o ato individual e, portanto, sujeito a fatores externos, e aquela, um sistema de valores que se opõem uns aos outros e que está depositado como produto social na mente de cada falante de uma comunidade, com homogeneidade. Mas Lingüística e Gramática não brigam, convivem no mesmo escritor, com sabedoria como faz Adriano Lobão.

O estabelecimento da Lingüística é o começo da modernidade poética, os poetas de então ganham novas formas de libertação, não mais sendo obrigados a simplesmente repetir metáforas e metonímias. O uso de tudo o que a literatura imprimiu até então enriqueceu o consciente e o inconsciente coletivos, para as variações mais estranhas, às vezes chegando ao obscurecimento do discurso. Derivadas da ciência lingüística surgem a intertextualidade e a intratextualidade, ambas já usadas nos discursos clássicos, porém de forma disfarçada.

Na poética de Adriano Lobão não faltam intertextualidades e intratextualidades. A leitura do poema Uns versos (pg.15), tornam suficientemente claras minhas afirmações: “entre linha limpa descanso sutil não se desdobra / claro enigma em superfície inerte paz abandonada / o inexato revelar de obscuras possibilidades” (e segue em todo o poema). Isto já era comum, no Brasil, a partir da Geração de 45, de onde vem H. Dobal. Mas, nas suas últimas obras, Dobal parte para uma temática e um texto mais natural, aproximado da terra e do pensamento contemporâneo de satisfação imediata. O poema Há ainda este tempo, que começa o livro de Adriano Lobão, é muito característico do discurso da citada geração e da geração do Caetano e Torquato Neto, por exemplo.

Encontramos, assim, as causas da proximidade do signo do historicismo, com outro, o da modernidade, através de seu discurso interpolado e enfático nas metáforas com metonímias, nas sinestesias com cenestesias. Tudo isto já existia na poética barroca, como vemos no poema As odes os signos, de Adriano Lobão, o que não havia era a sociedade moderna, agora entrelaçando toda a literatura:

“estas odes que aqui se erguem como estranhos obeliscos / emanam como desencanto louvando o próprio canto / palavra perdida lançada em busca de alheio signo// este verbo disperso em distante campo de poeira / areia estéril onde não canta tágide nem musa / estância onde não se encontra em seus cantos engenho e arte // nem alegre lembrança vestida de esquecidas ânsias / nem rústico altar profano onde sem música se dança // aquém dos verbos de outrora além dos versos de amanhã // decantados em prosa elegia e hino assim recordam / estas odes aqui erguidas em busca de signo alheio”.

A pequena diversidade na matéria/conteúdo dos seus livros vai por conta de um estilo maturado na substância história principalmente. Poemas bem construídos, com cheiro e sabor dos clássicos, baseados em altas leituras. O autor é professor de literatura, adivinha-se: - basta que analisemos o mundo de antíteses e paráfrases, referências e alusões, sem falar na tônica inversões/invenções... Por tudo isto e por muito que não é possível ser dito aqui, Adriano Lobão Aragão é um dos melhores poetas da geração Amálgama, deste século XXI, um milenista como diria Herculano Moraes.





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