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Ensaios-->UM PÁSSARO CHAMADO HUMANIDADE -- 18/03/2003 - 08:54 (WASHINGTON ARAÚJO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OS PRECONCEITOS contra as mulheres vêm de muito longe. Estão nos provérbios (Fevereiro tem 28 dias. É o mês em que as mulheres falam menos.) e nas canções populares (Paraíba masculina, mulher macho sim senhor) de diversos povos.

Nos conselhos dos mais velhos e na obra de filósofos, em sermões religiosos, nos textos de renomados pensadores, não é muito difícil encontrar, cronológicamente, alguns focos desse preconceito, tanto na religião quanto na literatura, na vida social ou política.

“Estamos cientes que não existem quaisquer fundamentos morais, práticos ou biológicos que justifiquem a superioridade masculina” declarou a Casa Universal de Justiça em 1986 e que “só quando as mulheres forem bem recebidas em todos os campos da atividade humana, em condições de igualdade, é que se criará o clima moral e psicológico do qual poderá emergir a paz internacional.” Para que nossa geração seja responsável pela culminação de um novo estágio civilizatório – o da Unidade Mundial – repassemos os tropeços históricos, tendo como porta-vozes nada menos que as mais conceituadas personalidades em suas épocas.

Muitas autocríticas poderiam ser feitas pelo cristianismo. Em seu nome, santos e teólogos hostilizaram o sexo feminino.

No Gênese (2:22), temos a formação da mulher: “E a costela o Senhor Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe.” São Paulo advertia contra as mulheres. Santo Tomás de Aquino afirmava ser a mulher um ser “ocasional” e “acidental”. No Livro de Provérbios (11:22), a mulher é redimida enquanto posse do homem: “A mulher virtuosa é a coroa de seu marido, mas a que procede vergonhosamente é como podridão de seus ossos.” Em outro versículo (31:10), é levantada a questão da honra: “Mulher virtuosa, quem a achará?” para na frase seguinte avaliá-la como mercadoria: “O seu valor excede em muito o de finas jóias.”

Santa Tereza de Jesus (1515-1582), em seu Caminho da Perfeição orienta o caminho da submissão marital ao escrever que a mulher, para ser bem casada, se seu marido está triste deve mostrar-se triste; e se ele está alegre, ela, ainda que não o esteja, há de mostrar-se.” Eurípedes (485-406 a.C.) toma Hipólito como seu alter-ego e argumenta ardoroso que “a mulher é um flagelo desmedido que posso provar; o pai que a gera e cria estabelece um dote a quem a leve, a quem o livre de tamanha praga!” Abomina as inteligentes pois “Afrodite lhe inocula o pecado” e lhes destina a sentença final de que “a mulher não deveria ter nenhuma serva em torno de sí e sim viver no meio de mudos animais, assim não tendo a quem dizer, de quem ouvir palavra.” O mesmo Eurípedes coloca estas palavras na boca de sua Medéia: “afinal, se a natureza fez-nos a nós mulheres de todo incapazes para as boas ações, não há para a maldade artífices mais competentes do que nós.”

Virgílio (70-19 a.C.) define a mulher como sendo sempre “coisa variável e mutável”. Publío Siro (Séc. I), em suas Sentenças declara que “a mulher ou ama ou odeia; não há outra alternativa.”

É atribuída a Petrônio (6-66 d.C.) esta estrofe: “Confia teu barco aos ventos, mas às meninas não confies tua alma, porque mais segura é a onda que a fidelidade da mulher.” O mesmo Petrônio refere-se à mulher para ser implacável com seus desafetos: “Aquele para quem uma mulher não é castigo suficiente, merece várias” enquanto Petrarca (1034-1374) visita o tema para não conceder o status humano à mulher: “a mulher é coisa móvel por natureza.”

Para Guillaume Bouchet (1514-1594) existem “mil invenções para fazer as mulheres falarem, e nem uma para as fazer calar.”

O renomado Montaigne (1533-1592) insiste em deixar às mulheres os afazeres domésticos: “A ciência e ocupação mais útil e honrosa para uma mulher é o governo da casa.” E depois escreveria que o papel da mulher seria o de “sofrer, obedecer, consentir.”

A volubilidade feminina é afirmada por Miguel de Cervantes (1547-1616) nessas palavras: “é condição natural das mulheres desdenhar a quem as quer e amar a quem lhes tem aversão.”

Shakespeare (1564-1616) coloca estas palavras na boca de Hamlet: “Leviandade, teu nome é mulher!” E no Ato V de Antonio e Cleópatra dispara que “a mulher é prato para os deuses, quando não é o diabo que o prepara.”

La Bruyére (1645-1696) foi enfático, negando-lhe a moderação como característica: “as mulheres são dos extremos: são melhores ou piores que os homens.”

Chesterfield (1694-1773) escreve a seu filho em 5/11/1748, para aconselhar que “um homem sensato apenas brinca com elas (as mulheres), graceja com elas, agrada-as, lisonjei-as, como faz com uma criança brincalhona e precoce”, para concluir dizendo que “nunca as consulta sobre assuntos sérios ou nelas confia.”

Montesquieu (1689-1755), do alto de sua sabedoria sentencia que “nas mulheres jovens, a beleza supre o espírito. Nas velhas, o espírito supre a beleza.”

Voltaire (1674-1778) invocava um argumento pseudobiológico para explicar a “inferioridade” da mulher: “o sangue delas é mais aquoso.” Depois, em O Ingênuo, afirmaria que “Deus criou a mulher para que domasse os homens.” Rousseau (1712-1778) estava convicto de que cabia às mulheres “agradar aos homens, serví-los, fazerem-se amar por eles, educá-los quando pequenos, cuidar deles quando crescem, consolá-los, tornar-lhes a vida agradável e doce.”

Diderot (1713-1784) escreve que “embora exteriormente pareçam civilizadas, elas continuam a ser, interiormente, verdadeiros selvagens.” O poeta Byron (1788-1824) sustentava que a mulher deveria ler somente livros religiosos, edificantes ou, então, livros de culinária. Lamennais (1782-1854) dizia-a de “estátua viva da burrice”.

Se na época de Péricles os atenienses geradores da demo-cracia negavam à mulher a cidadania, vinte e dois séculos depois Napoleão Bonaparte (1808-1873) ainda pontificava em nome do sexo masculino: “A mulher é nossa propriedade e nós não somos propriedade dela. Ela nos dá filhos, nós não damos filhos a ela. Ela é, pois, nossa propriedade, tal como a árvore frutífera é propriedade do jardineiro.”

Para Henri-Becque (1837-1899) “só há duas espécies de mulher: as que comprometemos e as que nos comprometem.”

Cânone da opressão masculina, encontramos estas palavras de Benito Pérez Galdós (1843-1930): “A mulher é um estorvo social, uma forma de obscurantismo, e se o homem não tivesse de nascer dela, deveria ser suprimida.”

Nietzsche (1844-1900), em seu consagrado Assim Falou Zaratustra, escreveu: “Vais ver mulheres? Não esqueças o chicote.” E, em 1888, afirmaria ainda que “quando uma mulher se torna erudita, é sinal de que há algo errado . . .”

Jules Renard (1864-1910) definiu a mulher como “um caniço gastador.” Paul Valéry (1871-1945) conclui que “a mulher é inimiga do espírito, quer dê, quer recuse o amor.”

Mas ainda encontramos nesta retrospectiva das citações de pensadores, filósofos, escritores e poetas alguns lampejos de sobriedade:

Schiller (1759-1805) resgatando a realidade feminina de forma impecável, sincera, bela. Ele em seu poema Dignidade das Mulheres escreve: Honrai bem as mulheres! Elas trançam e tecem Rosas celestiais para a vida na terra; Trançam os laços beatíficos do amor, E na graça dos véus de seu leve recato, Com mãos abençoadas animam, vigilantes, O fogo duradouro de belos sentimentos.

O Marquês de Maricá (1773-1825) lança um interessante e genuíno método de aferir um povo: “Pode-se graduar a civilização de um povo pela atenção, decência e consideração com que as mulheres são educadas, tratadas e protegidas.”

Balzac (1799-1850) “sentir, amar, sofrer, devotar-se, será sempre o texto da vida das mulheres” e filosofa que “as mulheres vêem tudo ou não vêem nada, segundo as disposições de sua alma: a única luz delas é o amor.”

Analisemos, agora, um pouco da situação da mulher no Brasil, nas primeiras décadas deste século. Uma época em que as mulheres sairam às ruas para conquistar o direito ao voto. Qual a reação no Congresso Nacional?

Nos anais de nosso legislativo máximo encontramos alguns excertos de discursos inflamados, condenando esta luta. Citamos apenas dois trechos dessas elocuções:

Estender o voto à mulher, é uma idéia anárquica, por que, no dia em que for convertido em lei, ficará decretada a dissolução da família brasileira. A concorrência dos sexos nas relações da vida ativa anula os laços sagrados da família. — Senador Muniz Freire

Conquanto reconheça que a mulher tem capacidade intelectual e aptidão para exercer o direito do voto, não deve exercê-lo; por que sua única missão deve constituir em ser o Anjo tutelar da família. — Senador Serzedêlo Correia

Esta situação de menosprezo pela mulher na vida política, não era algo isolado, apenas no Brasil. Um simples exemplo dessa constatação é este excerto do editorial da revista Harper, de novembro de 1933: “Nada mais antibíblico do que permitir que as mulheres votem.”

Vista neste contexto, a mulher foi negligenciada em sua maior dimensão, a do amor. Grandes mulheres se destacaram ao longo dos séculos. Suas realizações são inumeráveis. Quão grande foi o valor de uma Maria Madalena que, nos primórdios do cristianismo, manteve-se inabalável em sua crença, quando a fé dos apostólos fraquejava.

Ou o exemplo de uma Zenóbia (Séc. III d.C.), que após a morte de seu esposo, o governador-geral de Atenas, assumira o governo vindo a enfrentar o poderoso Império Romano; anexou a Síria e o Egito e com sagacidade política conduziu sua nação. A história registra que o governo de Roma declarou “não importa que comandante enviemos, não podemos derrotá-la, portanto o próprio Imperador Aureliano deve ir e dirigir as legiões de Roma contra Zenóbia . . .”

E que dizer de uma Joana D’Arc, a personificação da coragem e da fé, a inflamar não apenas uma nação, mas antes a própria civilização cristã?

Tahirih (1817-1852) marcou o século passado com transcendente heroísmo. Filha de um sacerdote muçulmano, tornou-se famosa pela conjugação da beleza, eloquência e sabedoria. Abandonando o uso do véu, a despeito do costume milenar entre as mulheres de sua pátria, o Irã, e participando de acalorados debates sobre temas místicos e espirituais, acumulou seguidas vitórias contra os expoentes masculinos mais representativos do pensamento de seu tempo. Tendo o governo iraniano lhe aprisionado, apedrejada nas ruas, exilada de cidade a cidade, anatematizada, correndo risco de vida, foi incansável na defesa dos direitos de suas irmãs de sexo. A um ministro da corte do Irã, em cuja casa estava encarcerada, foi incisiva: “Podeis me matar, mas não podeis impedir a emancipação da mulher!”

A inspiração de Tahirih proviera de sua fé nos ensinamentos da Fé Bahá’í que, com tanto ardor, abraçara. Esta Fé ensinava que a humanidade assemelhava-se a um pássaro, no qual uma asa era o homem e a outra, a mulher e que para que este pássaro pudesse alçar vôo, era necessário que houvesse equilíbrio entre as asas.

A Organização das Nações Unidas (ONU) designou o ano de 1975 como o “Ano Internacional da Mulher” e que resultou no estabelecimento de 8 de Março como o Dia Internacional da Mulher, logo institucionalizado pela ONU. A escolha da data nos remete ao 8 de março de 1857. Naquele dia, na cidade de New York, 159 operárias de uma indústria têxtil foram queimadas vivas em uma fábrica, num incêndio criminoso, durante uma greve em que reinvindicavam igualdade salarial e redução da jornada de trabalho. É, portanto, um eloquente tributo à árdua luta da mulher, através dos tempos, por seus direitos.

Em 1992, quando a Organização Internacional do Trabalho (OIT) declarava ainda faltar 475 anos para que a mulher “alcance igualdade com os homens nas esferas superiores do mercado de trabalho” era o momento para refletir que, como afirmou ‘Abdu’l-Bahá (1844-1921), se até agora o mundo foi governado pela força, tendo o homem subjugado a mulher – devido à sua maior força física e às inegáveis características agressivas – podemos ver que a balança da história está mudando; a força perde seu ímpeto e com satisfação observamos que a intuição e as qualidades espirituais de amor e serviço – qualidades estas nas quais a mulher é forte – tornam-se ascendentes. Consequentemente a Nova Ordem Mundial será menos masculina, mais permeada pelos ideais femininos ou, melhor dizendo, será uma Era na qual os elementos masculinos e femininos estarão em maior equilíbrio.

Para o estabelecimento da paz mundial, um dos pré-requisitos mais importantes, embora dos menos reconhecidos, volta a refletir a Casa Universal de Justiça, “é a emancipação da mulher ou seja, a concretização da plena igualdade entre os sexos”; e conclui que “a negação dessa igualdade perpreta uma injustiça contra metade da população do mundo e promove entre os homens atitudes e hábitos nocivos que são levados do ambiente familiar para o local de trabalho, a vida política e em última esfera, para as relações internacionais.”
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