Na chegada da noite
sinto um cheiro podre na janela
procurando residir em meus pensamentos.
Não bastasse o olfato do momento
para medir o imenso sofrimento
que invade minha vida,
dilaceras minhas lembranças
com sensações amargas
do tempo perdido,
do amor pérfido.
Sinto um cheiro azedo
que me vem de dentro da alma,
navega pelo meu corpo
e atraca junto da minha janela,
osmose sinistra de um cais maldito
na fotografia perdida do meu tempo
que se fez e se faz a muito distante
na eternidade de um espírito errante,
cansado de tantas lutas e batalhas
em uma guerra que jamais será vencida,
encenação póstuma de uma história,
de uma canção que nunca foi ouvida
por que jamais foi escrita ou cantada,
apenas declinada em pensamentos
e em imagens difusas de um corpo,
de um cadáver vilipendiado
nas mãos do seu próprio
e nefasto destino.
Momento certo de descansar
e descobrir que já é hora
de voltar para casa.
A mesa é posta,
a ceia é servida,
o Pai olha e me beija,
me acolhe em seu coração.
É hora de voltar para casa.
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