OUVIR E ENTENDER MÚSICA – parte TRÊS - O PROCESSO CRIADOR
por Coelho De Moraes baseado na obra de Aaron Copland
Como é que o compositor faz a sua música?
Um dos mistérios é o problema da inspiração. Mas o compositor não se preocupa tanto com isso como se imagina.
Para um compositor, compor é tão natural quanto comer e dormir ou trabalhar numa refinaria, como seria para um metalúrgico. É o seu trabalho. A inspiração não é uma virtude especial. É mais fácil ouvi-lo se perguntar: “Será que estou com vontade compor hoje?!” Nem há o trauma da tela branca.
Você pode esperar pela inspiração. Você não pode ficar parado, se ela não vem. O profissional senta-se á mas e compõe alguma coisa. Há técnicas e conhecimento para isso. A inspiração não passa de um sub-produto.
Hoje, com harmonias mais complexas há necessidade de estar junto ao seu instrumento de trabalho. Na época de Haendel ou Haydn os jogo harmônico era diferente e talvez se pudesse compor andando pelas Campinas. Stravinsky disse que o compositor nunca deve estar longe de sua matéria sonora. Fique perto de seu piano.
Em suma, o método não importa, mas sim o resultado.
Como é que o compositor dá início ao seu trabalho? Por onde é que ele começa? – Todo compositor começa com uma idéia musical. Idéia musical não é uma idéia literária, ou filosófica ou extra-musical. 1) Pode ser que aconteça que o tema musical lhe veio à memória, depois de uma associações que ele não conseguirá explicar. O compositor escreve aquele tema e a partir desse fragmento temático ele começará a compor o resto. 2) Pode ser que o compositor pesquise o folclore de sua terra e extraia dali temas variados que ele justaporá em uma terceira via, alterando-lhe os tons, e o ritmo. 3) Pode ser que o compositor deite no papel pautado uma série de notas experienciais; motivos curtos, elementos sonoros que darão início ao processo de composição. 4) Pode ser que o processo se inicie com ritmos percussivos; tais ritmos sugerindo caminhos e dando motivação psicológica para o compositor. 5) às vezes a idéia é um tema literário ou o tema de uma propaganda.
O compositor pode anotar todas as idéias e fazer um arquivo delas. Vai guardando para uso posterior. Procura o significado emocional de seu tema. Pode testar com os amigos e obter uma resposta. Buscar a qualidade emocional do tema e saber altera-lo no meio do caminho.
Lembrar que o “tema” é uma sucessão de notas. Para que essa sucessão de notas tenha efeito usamos as dinâmicas, alteração de volume, de velocidade, que mudará o significado da sucessão.
Se o tema é simples ele pode sugerir múltiplos aspectos.
Se o tema é complexo sua variantes serão em menor número.
Não se fala em beleza temática ou melódica. Beleza é valor cultural que muda de povo para povo. Schömberg declara que Belo é tudo aquilo que é expresso claramente, sem subterfúgios. Confusão é barulho sem critério, além de não ser arte não terá conotação com a Beleza. Portanto a frase: “Eu acho lindo!” só tem valor para quem fala e não passa de uma referência superficial.
Após a escolha temática e sua qualidade cabe escolher se é tema próprio para sinfonia ou câmera.
Tudo isso são atributos técnicos do compositor.
E a tekné dos gregos significa arte para os latinos.