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Ensaios-->Bush e A Química Pagã -- 11/02/2003 - 00:59 (Lindolpho Cademartori) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Química Pagã



Uma Crítica da Concepção da Guerra do Século XXI





Por Lindolpho Cademartori



_______________________________________________________________________________________________________________________________________







“As forças militares de ontem –

enormes arsenais de tanques de guerra,

quarteis-generais fixos e soldados inflexíveis –

não só são inúteis em face das novas ameaças.

Elas também desviam escassos recursos de

defesa de uma modernização urgente e iminente.”



Lord Robertson, Secretário-Geral da

Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)





1. De Napoleão a Bin Laden: Duas Metamorfoses no Paradigma Conceitual da Guerra



Tem-se como conceito retor o fato de que foi a eclosão das guerras napoleônicas o responsável pela ruptura paradigmática da estratégia militar em voga até o século XVIII. A exemplo do verificado por Clausewitz, e, hodiernamente, por Anatole Rapoport, o advento de uma nova concepção de batalha e o surgimento dos exércitos de massa – modelo este que seria amplamente desenvolvido e copiado pelos eventualmente lacônicos Estados-Maiores de regimes totalitários, desde o improviso funcional dos bolcheviques no esteio da Guerra Civil de 1917-1921 ao desespero do Oberkommando nazista recrutando garotos de dezesseis anos para integrar as fileiras das já combalidas Waffen-SS, em fins de 1944 e princípios de 1945. – napoleônicos constituíram fatores preponderantes para a metamorfose prático-conceitual da guerra. Se até o século XVIII a manutenção de um exército era uma empresa dispendiosa e um “necessário luxo institucional”, de modo a ser a deflagração de um conflito armado um expediente limitado, restrito e com objetivos modestos e oportunistas, o nouveau modèle de guerre concebido por Napoleão primou pela desprofissionalização do exército, pelo elevado teor ideológico insculpido na determinação dos combatentes e, como observa Rapoport, tratava-se de uma força de combate composta por “gente que acreditava que se batia por alguma coisa.”[i]. Em terminologia clausewitziana, é lícito afirmar que, em princípio (ou em tese), o Exército Revolucionário Francês pautou-se pela observância dos princípios intrínsecos à natureza da guerra: o caráter nacional do conflito, a racionalidade de propósitos e a instrumentalidade do conflito.[ii]

Tal como concebida no século XVIII, a guerra era majoritariamente uma arte de manobra. O bojo conceitual da guerra agregava importantes fatores protocolares e estéticos, de maneira que um exército tinha sua competência aferida tanto pela sua apresentação no campo de batalha quanto pela sua determinação e eficácia. Assim sendo, fazia-se uso até mesmo de determinadas demandas estéticas em aspectos estratégicos pragmáticos, sinergizando a apresentação estético-estrutural do exército com a sua eficácia combativa quando em batalha. Cumpre ressaltar que o processo se pautava por tais axiomas em virtude da natureza do paradigma da guerra de então, o que se traduz pelo fato de que a eficiência de uma unidade de combate depende da coordenação de seus elementos, de sorte que isso se torna particularmente verossímil se tais elementos forem obrigados a deslocarem-se observando ordens expedidas através da comunicação por voz. Ora, tais ordens só logram eficácia caso os soldados se mantenham em formação cerrada, estejam eles imóveis ou em movimento. Conseqüentemente, é de fácil depreensão a conclusão de que a única virtude a ser exigida do combatente era a obediência, dada a essência cronogramática e pavloviana (!) da estratégia militar de então, não lhe sendo cobrados o comprometimento ideológico – o soldado sequer estava ciente da causa pela qual estava a combater – ou habilidades específicas – tendo como função a mera reprodução dos movimentos para os quais fora treinado, não se resvalava contexto à apreciação de eventuais habilidades dos soldados, as quais poderiam inclusive ser úteis à subjugação do adversário. De sua feita, o oficial tinha por suas atribuições semelhantes à de um maestro: o traquejo necessário à coordenação dos movimentos de uma unidade de combate, qual era exigido pelos relativamente difundidos preceitos da ciência militar. Segundo observa Rapoport, a diferença entre uma batalha bem executada e uma parada militar soberbamente perfilada (ou, ainda segundo Rapoport, um “bailado”) era de árdua percepção no século XVIII.[iii]

Como já foi desenvolvido, o referido paradigma de estratégia militar foi minado por Napoleão na decênio derradeiro do século XVIII, sendo que, no decurso dos conflitos gestados no âmago do processo revolucionário francês, e, posteriormente, nas guerras napoleônicas, os exércitos continuavam sendo conduzidos ao campo de batalha e manobrando tal qual se fazia no século XVIII. A natureza ativa do conflito, porém, havia mudado, e a falha em compreender tais transformações teve um custo altíssimo para os adversários de Napoleão.



Se o nouveau modèle de guerre do final do século das Luzes congregava em sua base fatores políticos, ideológicos e nacionalistas, a nova metamorfose no paradigma da estratégia militar do século XXI alicerça-se em fatores primordialmente culturais, religiosos e axiomáticos. Trata-se do que, na argumentação de Huntington[iv], define-se por diferenças basilares entre as concepções de mundo das as distintas civilizações, sendo que do embate direto entre duas delas – a ocidental e islâmica[v] – resultarão as principais vertentes a serem adotadas pela dinâmica polítca global no século XXI. São, com efeito, transformações dignas de uma análise mais criteriosa. E tais transformações, mesmo guardando diferenças nítidas, preservam também semelhanças que não podem ser ignoradas. Se entre os adversários de Napoleão – Inglaterra, Rússia e Império Austro-Húngaro, entre outros poucos de relevância menor – reinava o consenso de que o principal estandarte da França beligerante a ser contido era a difusão da ideologia revolucionária, entre os oponentes de Bin Laden e das milícias islãmicas descentralizadas – o Ocidente como um todo – resta a certeza de que o fator precípuo a ser suprimido é a tentativa do Islã de rechaçar e golpear os principais axiomas da civilização ocidental. Não há, assim, um elemento ideológico de importância desestruturadora na nova concepção de guerra do século XXI. Ainda fazendo uso parcial da argumentação de Huntington[vi], conquanto as guerras napoleônicas foram deflagradas e combatidas em virtude de diferenças reais – políticas, econômicas, ideológicas e nacionalistas - entre Napoleão e a Santa Aliança, o prelúdio conflituoso entre o Ocidente e o Islã se dá em razão de diferenças fundamentais – culturais, religiosas e axiomáticas -, de maneira que a natureza deste último, por ser mais enraizada, engendrará uma escalada de violência gradual superior e cronologicamente mais extensa que aquelas empreendidas em fins do século XVIII e início do século XIX.

Fora dos critérios culturais-religiosos-axiomáticos que caracterizam o contexto material da nova concepção de guerra do século XXI – contexto este que, neste artigo, terá uma importância inferior à conferida ao contexto formal, ou seja, a estrutura prática e o conjunto de novos padrões estratégicos característicos do novo paradigma da estratégia militar – a transformação se opera de forma mais prática e menos subjetiva, embora ainda relativamente obscura. O formidável poder de fogo da máquina de guerra ocidental, formalmente iconizada pela OTAN, atua de forma tal que seu dinamismo e sua capacidade de resposta não mais atendem às demandas ativas da definição de guerra fortalecida por Osama bin Laden e sua Al-Qaeda em 11 de setembro de 2001, e, ao longo de 2002, pelo advento dos atentados terroristas empreendidos por células terroristas vinculadas à “colméia” central do fundamentalismo islâmico (a exemplo do atentado ocorrido em 28/11/2002, em um hotel de proprietários israelenses na cidade de Mombaça, no Quênia, cujo principal suspeito de autoria é a organização de bin Laden, e a explosão de uma bomba, em outubro de 2002, em uma discoteca na ilha de Bali, na Indonésia, de suposta autoria de uma facção extremista islâmica local - a Jemaah Islamiya, ou Comunidade Islâmica, a qual é vinculada à Al-Qaeda - que preconiza a consecução de uma jihad nos moldes das defendidas por ativistas palestinos do Hamas e pela própria Al-Qaeda.) e os sucessivos fracassos da diplomacia norte-americana em conceber uma solução pacífica para o conflito israelo-palestino – o que foi interpretado pelos palestinos, de forma parcialmente correta, como um aval de Washington à política de ocupações levada a cabo por Ariel Sharon e seu frágil gabinete de governo.

Fatos expostos, a estrutura militar, estratégica e de inteligência arquitetada pela Estados Unidos no pós-Segunda Guerra com vistas à contenção da expansão soviética no leste europeu (in casu, alude-se à OTAN, sem embargo das ramificações similares da estratégia norte-americana com o propósito de conter a influência comunista no hemisfério ocidental, no Sudeste Asiático e no Extremo Oriente, com uma óbvia negligência estratégica em relação à África) não mais se adequam à atual dinâmica geopolítica global. Durante a Guerra Fria, o SACEUR – Supreme Allied Commander in Europe – da OTAN e os agentes da CIA e do MI6 em Berlim Ocidental, Viena e até mesmo em capitais comunistas como Praga tinham como adversário estratégico um alvo político-geográfico fixo: os satélites soviéticos do Leste Europeu e a própria União Soviética. A KGB, por seu turno, era uma instituição política soviética de caráter regular e legítima contraparte da CIA; tratava-se de um conflito ideológico que se perfilava em dois níveis complementares (primeiramente os blocos ideológicos, e, secundariamente, os Estados que os constituiam) e que se encontravam em relativo patamar de igualdade. Portanto, se os expedientes político-diplomáticos e as manobras e ardis dos serviços de inteligência falhassem, a OTAN sempre poderia compensar a superioridade numérica das forças do Pacto de Varsóvia através de uma retaliação nuclear em nível tático, e, em uma situação mais drástica, de um ataque nuclear estratégico cujos alvos primários seriam cidades como Moscou, São Petersburgo, Kiev, Minsk, Varsóvia, Praga, etc., e instalações militares e industriais soviéticas e de países integrantes do Pacto de Varsóvia. Assim, compensar-se-ia a superioridade numérica do bloco soviético através da superioridade tecnológica do bloco ocidental e da melhor elaborada estratégia de controle do espaço aéreo europeu e bombardeios tático-estratégicos por parte da OTAN; se as forças soviéticas e alemã-orientais invadissem Berlim Ocidental e rendessem o limitado efetivo anglo-franco-americano na cidade, as marinhas grega e turca, auxiliadas por uma força-tarefa anglo-americana, poderiam bloquear os Estreitos de Bósforo e Dardanelos e praticamente estrangular a capacidade operacional da frota de superfície soviética estacionada no Mar Negro; na eventualidade de uma guerra, caso a frota submarina soviética lançasse seu poderio ao Atlântico e tentasse afundar os comboios norte-americanos que zarpavam rumo à Grã-Bretanha, haveria a Royal Navy para, ao leste do Atlântico, cercar os submarinos soviéticos, ao passo que, ao oeste, a Frota do Atlântico da Marinha dos EUA poderia assumir o flanco esquerdo e formar um cerco naval aos submarinos soviéticos, de modo que tal ação, combinada à estratégia de bloqueio da frota de superfície soviética nos Estreitos de Bósforo e Dardanelos, virtualmente colocaria a Marinha Soviética hors de combat, o que faria com que o Kremlin pensasse duas vezes antes recorrer ao expediente nuclear e lançar seus mísseis contra Washington, Nova Iorque, Chicago e Londres.

O que resulta da superada hipótese conflituosa previamente exposta é o fato de que o agregado estrutural político-diplomático-militar soerguido durante a Guerra Fria tinha como adversário um complexo legítimo e semelhante, sendo que a divergência basilar entre ambos era a concepção ideológica que os motivava. Em 2003, as dezenas de milhares de ogivas nucleares estocadas pelas Forças Armadas dos EUA representam um instrumento cuja efetividade de contenção não é sequer dez por cento daquela que representavam em outubro de 1962, quando Kennedy e Kruschev afrontaram-se em uma sinfonia de blefes e ameaças veladas que culminaram no lacônico desmonte e retirada dos mísseis soviéticos de Cuba. A incontestável máquina de guerra norte-americana – e seu espelho de ação formalmente multilateral, a OTAN – goza hoje de uma pujança tecnológica incomparável no mundo, embora seu poder de dissuasão contra inimigos não-estatais seja pífio e praticamente excluído das negociações políticas (se houvessem negociações políticas, visto que as entidades, organizações e células terroristas operam de forma ilegítima e à margem da ordem internacional formal e reconhecida.). Contemporaneamente, o inimigo se reveste da prerrogativa do anonimato e nele tenta garimpar impunidade, recursos escusos e meios através dos quais possa impor uma concepção estratégica na qual o objetivo pivotal é a morte do maior número de civis possíveis, conjugado ao golpe simbólico contra bastiões do poderio da civilização que se pretende humilhar, vergar ao desespero e, por que não dizer?, ridicularizar.

No tocante à percepção do Ocidente, não seria sensato dizer que o inimigo é invisível, mas de identificação criteriosa e suscetível a mudanças rápidas que ocorrem à margem da própria acepção clausewitziana da guerra inter-estatal. As células e organizações terroristas são reais e operam de forma material, e não em um transcendentalismo inoportuno que nos remeteria a uma filosofia cataclísmica da guerra[vii]. Em verdade, o modelo de guerra que o fundamentalismo islâmico transformou em estandarte foge parcialmente às três principais filosofias da guerra, quais sejam a política, a escatológica e a cataclísmica[viii]. Primeiramente porque tanto a filosofia política quanto a escatológica e a cataclísmica tratam a natureza da guerra como uma abstração assentada em princípios e razões reais – a guerra é gerada por disputas, interesses, divergências e rivalidades reais - , porquanto a guerra que bin Laden deflagrou à civilização judaico-cristã ocidental é fundamental – não se trata de uma disputa circunstancial real, de um interesse nutrido pela raison d´etat ou, nos termos de Clausewitz, de submeter o adversário à sua vontade através do emprego da força e da violência. O que Osama bin Laden e a Al-Qaeda desejam é a própria destruição do Ocidente[ix], em um exemplo raro de irracionalismo atroz que massacra irremediavelmente o já inobservado preceito de que a guerra deve ser circunspecta ao campo de batalha, não abrangendo as populações civis e demais alvos que não possam ser utilizados para fins militares.[x]




2. A Reorientação da OTAN e as Conseqüências das Transformações



Quando uma respeitada acadêmica francesa afirmou, em julho de 2001, que o cerne das divergências entre os Estados Unidos e a Europa estava nas distintas prioridades de suas agendas políticas, ela depreciou o que chamou de “obsessão americana” pelos estados-párias e pelas armas de destruição de massa, porquanto teceu generosos elogios à preocupação européia para com o “futuro do planeta e seus alimentos”. Ao que parece, Dominique Moisi[xi] não levou em conta o fato de que não há futuro para o planeta sem que se monitore e anule os esforços de estados-párias (ou, para agradar aos relativistas de plantão, “estados cujos líderes não são propriamente confiáveis”) para adquirir armas de destruição de massa, bem como de que grande parte dos alimentos do planeta pode ser contaminada se um fundamentalista megalômano detonar um artefato nuclear em Chicago ou em Londres. Afirmou, ainda, que “a China não é a União Soviética, e a Guerra Fria acabou.”. A China, embora não seja a União Soviética, é formalmente regida pelo mesmo esteio ideológico que transformou a maior nação do mundo em um laboratório de uma experiência política fatídica e criminosa que se estendeu por setenta e quatro anos. E quanto à Guerra Fria ter acabado, trata-se de uma dúvida irresoluta. Tendo feito tais alegações em julho de 2001, não se pode culpá-la por não ter antevisto a aproximação de um contexto de novas tensões globais e do início da redefinição da dinâmica geopolítica global. Afinal, ainda faltavam dois meses para que a História retornasse das férias.

O que se pode afirmar com certeza relativamente inconteste é que Dominique Moisi estava equivocada, ao passo que os Estados Unidos estavam relativamente certos. A ampla concentração de esforços no intuito de desarmar os rogue states atestou seu fundo de verdade, embora a negligência para com as organizações terroristas vinculadas ao fundamentalismo islâmico tenha custado caro a George W. Bush. Quando analistas, acadêmicos, politólogos e até mesmo membros da administração Bush e de gabinetes de governo europeus murmuravam sobre uma certa ausência de razões práticas que justificasse a manutenção da portentosa estrutura da aliança militar atlântica, bin Laden orquestrou o mórbido paroxismo do pessimismo schopenhaueriano ao comandar, à distância, a colisão de dois jatos comerciais contra o World Trade Center e outra aeronave comercial contra o Pentágono, tendo ainda seqüestrado outro avião cujo termo foi consumado ao espatifar-se nas redondezas de uma cidadezinha da Pensilvânia.

Malgrado o equívoco no foco de concentrações europeu e a imperdoável negligência norte-americana, a OTAN reconheceu os atentados de onze de setembro contra os Estados Unidos como um ataque à própria Organização, visto que, pela primeira vez em cinqüenta e dois anos de existência, a aliança invocou o artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte, que dispõe acerca da auto-defesa e reconhece que um ataque contra um membro do Tratado do Atlântico Norte configura uma agressão a todos os demais membros do referido Tratado. Fazendo uso dos dispositivos de auto-defesa coletiva (collective self-defense), a OTAN encerrou por estreitar os laços do vínculo cultural transatlântico que unem os Estados Unidos à Europa, de sorte a promover a difusão dos axiomas democrático-liberais ocidentais, e, contradizendo os analistas, acadêmicos, politólogos e membros dos governos norte-americano e europeus, atestou a justificativa de sua manutenção como sendo os instrumentos defensivos – e, de certa forma, ofensivos – de que o Ocidente dispõe para preservar sua segurança genérica. Assim, embora os fins aos quais se destinavam mantivessem sua integridade essencial, os métodos dos quais a OTAN lançava mão para alcançá-los estavam superados, podendo vir a comprometer toda a estrutura de mobilização e a dinâmica contra-ofensiva da aliança, deixando a civilização ocidental sobremaneira vulnerável em virtude de uma inadequação metodológica. Em contrapartida, as lideranças da OTAN e dos governos ocidentais, cientes dessa impropriedade de métodos, passaram a conceber “novas estruturas e capacidades para levar adiante aquela missão (a de subjugar as ameaças terroristas que ladeiam os Estados Unidos, nações ocidentais e aliadas) sob novas circunstâncias.”[xii]. Não obstante, o documento que estabelece as novas diretrizes retoras da Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos da América (NSS-NSC/2002) enfatiza que a OTAN deve elaborar capacidades operacionais para deslocar, em curto prazo, forças especialmente treinadas com alto potencial de mobilização, quando quer que as mesmas sejam solicitadas para responder a uma ameaça contra qualquer membro da aliança.

Não é necessário ser um observador perspicaz para entrever, nos liames subjetivos da “nova estrutura operacional” da aliança atlântica, uma intenção velada por parte dos think-tank conservadores-liberais e dos falcões republicanos da administração Bush de conferir à OTAN uma independência de facto e de jure em relação às Nações Unidas, com ênfase ao Conselho de Segurança (CSNU). Isso ocorre em razão de o CSNU, sem embargo de sua constituição restrita a dez membros rotativos e cinco permanentes com a prerrogativa do veto, ser uma instituição onde os interesses da aliança podem oscilar ao sabor das deliberações de dois dos cinco membros permanentes, quais sejam a Federação Russa e a República Popular da China, embora a tendência de aproximação entre a Rússia e a OTAN (vide o estabelecimento do Conselho Rússia-OTAN na ocasião da Cúpula de Roma, em 28 de maio de 2002) faça com que Moscou delibere, de modo inconstante e com freqüência irregular, ao sabor da pauta em discussão, em favor dos interesses dos três membros permanentes do CSNU que também integram a OTAN – Estados Unidos da América, Grã-Bretanha e França[xiii] -, legando o papel de oponente estratégico à China. Dada a constituição e o próprio rol atributivo do CSNU – o órgão deliberativo “realista” e geopoliticamente pragmático vinculado à ONU, fórum multilateral e pluralista de orientação “idealista” e programática -, é natural que Washington ausculte métodos de ação independentes das Nações Unidas, de forma a promover a acepção preconizada na Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos da América, segundo a qual “a aliança deve ser capaz de agir onde quer que nossos interesses estejam sendo ameaçados, criando coalizões sob mandato da própria OTAN, assim como contribuindo para coalizões baseadas em missões.”[xiv]. Para tanto, faz-se necessária uma desvinculação ativa parcial dos Estados Unidos em relação à ONU, combinada a uma calculada reestruturação da OTAN, de seus propósitos e de sua capacidade de mobilizar coalizões sob seu próprio mandato, independentemente do CSNU.



3. A “Marcha para o Leste” e Outras Medidas



A metamorfose estrutural da OTAN implica em uma associação de fatores e medidas práticas, algumas das quais foram lúcida e perspicazmente assinaladas pela Estratégia de Segurança Nacional norte-americana. Com vistas à contenção ao combate do terrorismo e da “ilegítima” acepção de estratégia militar emblematicamente representada por bin Laden, pela Al-Qaeda e pelas milícias descentralizadas palestinas, entre outros, a aliança já deu cabo de algumas medidas, tais como expandir a estrutura da organização e admitir novos membros[xv], os quais em um passado não muito distante engrossaram as fileiras do extinto Pacto de Varsóvia. Importa mencionar que a “Marcha para o Leste” empreendida pela OTAN não encontrou resistência ou oposição significativa em relação à Rússia, que, ainda segundo a Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, não é mais um adversário estratégico de Washington (pecha esta que, com efeito, agora reserva-se à China). Paralelamente a tal iniciativa, o Estado-Maior da aliança deve reorganizar a disposição de forças da OTAN na Europa, com vistas a permitir um deslocamento de efetivos de força-tarefa em uma situação emergencial, bem como, qual verificado pela NSS-NSC/2002, certificar-se que as forças militares das nações integrantes da aliança tenham contribuições de combate apropriadas a fazer em uma coalizão militar. Uma maior integração das forças multinacionais da aliança, aliada à flexibilidade das estruturas de comando (com o propósito de atender às novas exigências operacionais e às novas configurações de força), seriam de grande utilidade, não negligenciando um aspecto de importância precípua no eventual sucesso que a OTAN vier a lograr: a necessidade iminente e imprescindível de se extrair vantagens da superioridade tecnológica e dos recursos humanos das pujantes economias de seus países membros, com o findo de imprimir transformações fundamentais à estrutura das forças militares da aliança, de maneira a suprimir inimigos reais e potenciais, assim como de reduzir a vulnerabilidade das nações ocidentais e aliadas.

Assim, a mudança no bojo da política externa norte-americana, que na administração Clinton pautou-se pela tentativa de elaboração de uma relativamente nova ordem mundial pós-Guerra Fria com base na premissa do multilateralismo, expresso no conceito de Engajamento e Expansão (E&E), rumo a uma conduta de orientação unilateral que substitui a contenção e a “defesa defensiva” pela “preemptive action”, ou ação preventiva, da Doutrina Bush encontra seu respaldo na própria reformulação das estruturas de defesa multinacionais (i.e. a OTAN) e na preferência dada pela Casa Branca às ações que independem do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O fomento dado ao desenvolvimento das nações desfavorecidas, o incentivo à livre iniciativa, ao primado dos Direitos Humanos, ao livre mercado e às demais diretrizes de desenvolvimento que têm como objetivo as nações periféricas e não-imunes à disseminação do terrorismo configuram o agregado de medidas formais e intermediárias da defesa da supremacia hegemônica norte-americana no mundo, ao passo que as mudanças na estrutura OTAN – e na própria Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos, fator este de importância preponderante – representam a alternativa militar capaz de cooptar o inimigo e impedi-lo de malograr os interesses da América e das demais nações ocidentais e aliadas. Ato contínuo, faz-se sensata a afirmação de que as medidas formais e intermediárias transmitem à comunidade internacional o resquício de multilateralismo e integração que permaneceu no cerne político da Etratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos após os atentados terroristas de onze de setembro, sendo que tais medidas são secundárias e de relevância menor se comparadas às transformações da OTAN, da Estratégia de Segurança Nacional e nos novos postulados estratégicos das Forças Armadas dos Estados Unidos da América.



4. Bush e a Química Pagã da Nova Guerra



Seria demasiadamente precipitado uma análise acadêmica técnica e criteriosa acerca das conseqüências duradouras das hipóteses de metamorfose previamente desenvolvidas. A iminência da invasão do Iraque por parte dos Estados Unidos, a continuidade do trabalho dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) no país de Saddam Hussein, as hipóteses a respeito da cobiça norte-americana em relação ao petróleo iraquiano (as segundas maiores reservas subterrâneas do planeta encontram-se no subsolo do país, sendo superadas apenas pelas reservas sauditas), o recente prelúdio de crise ensejado com a decisão norte-coreana de retomar seu programa nuclear, a realização de manobras e exercícios militares em Taiwan com a presença de forças militares norte-americanas, a pauta tangente às células e organizações terroristas no Sudeste Asiático e a própria postura européia face à reestruturação da aliança militar ocidental, entre outros fatores, são fatos que, em virtude de ainda não terem se dado por concluídos ou virtualmente definidos, não permitem uma abordagem mais incisiva e eivada de hipóteses conclusivas. Não foge ao comparação, porém, as relativas – e parciais – semelhanças (e diferenças irônicas) entre a política de George W. Bush no concernente à “guerra contra o terror” e as diretrizes de Otto von Bismarck com respeito à contenção das aspirações e do nacionalismo francês. Quando o Chanceler alemão afirmou, em discurso ao Reichstag, em 11 de janeiro de 1887[xvi], que a superioridade da França poderia basear-se nas alianças que ela poderia vir a urdir, e que ele próprio não acreditava que tais alianças pudessem vir ser produzidas, suas palavras soaram ao mesmo tempo proféticas e equivocadas. Proféticas porque não a superioridade, mas a resistência francesa face à pujança da máquina de guerra alemã, de fato baseou-se na Entente Cordiale, e, portanto, no sistema de alianças que a Quai d´Orsay foi capaz de elaborar; e, de forma óbvia, foram equivocadas porque o vaticínio de Bismarck quanto à incapacidade francesa de produzir tal(is) aliança(s) estava errado. Bush, por sua vez, crê que a resistência e a continuidade das ações terroristas por parte de organizações islâmicas fundamentalistas residem na capacidade que tais entidades têm de encontrar abrigo em nações condescendentes com suas ações, em suas habilidades para adquirir armas de destruição de massa, no fundamentalismo estrutural inerente às sociedades muçulmanas e na já suprimida inércia do “Mundo Livre” em reagir a tais afrontas. Tal qual Bismarck, Bush conhece o método através do qual o adversário pode arruiná-lo e subjugá-lo, e, ao contrário do Reichskanzler, sabe que o inimigo pode disponibilizar os meios através dos quais irá alcançar seu propósito. Em parte, Bush preveniu-se, embora seu equívoco fatal possa residir na falta de sensibilidade e traquejo diplomático em compreender os meandros de uma cultura fartamente distinta da ocidental, de sorte a gerar um embate frontal com uma civilização que ocupa uma posição geográfica e politicamente central no planeta. Trata-se de um ônus com o qual nem os Estados Unidos ou o Ocidente podem arcar, e, para a sua própria sorte (e para a da civilização judaico-cristã ocidental como um todo), é acepção comumente aceita o desejo de que o seu desfecho não seja semelhante ao do Segundo Reich.



Entre paralelos, distinções, contraposições conceituais e hipóteses difusas, surge, egressa da caótica indefinição contextual, uma bizarra sinergia que envolve um sutil paralelo entre as aspirações hegemônicas da casa de Habsburgo no século XVI e os contemporâneos anseios norte-americanos em sustentar uma hegemonia que se contempla sucessivamente submetida a contestações até mesmo no próprio Ocidente. De tal forma, resulta uma combinação de elementos cronológica e contextualmente distintos – os Habsburgo do século XVI e os Estados Unidos do século XXI -, de ordens e sistemas internacionais completamente diferentes e de fundos materiais – tecnologia, acesso à informação, o próprio conceito de estratégia militar, etc. – incomparáveis. Essa química pagã de fatores e métodos ilegítimos e anárquicos que contrariam os mais basilares preceitos éticos e morais da filosofia da guerra, as comparações subjetivas e a expectativa ante o futuro que ainda não se desvelou encerram por conferir às circunstâncias um ar transcendental, e, pelos metafísicos de plantão, apocalíptico. Com efeito, tais especulações não passam de bravatas toscas e infundadas. Todavia, e sem mais delongas nas comparações históricas, não se pode negar que a sinergia e a química pagã de ilegitimidades e desordem de bin Laden e Bush e a “nova guerra” representam uma linha de ruptura com uma ordem já arcaica, e, havendo partes interessadas em preservar a ordem cujas rodas desprendem-se em um desmoronamento histórico ímpar, arma-se o dinâmico cenário no qual há de ser travado o embate entre as falanges da conservação e as forças da ruptura. Porque, a exemplo do que afirmou Thomas Mann, toda Era que teme a si mesma tende a restaurar-se.



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Bibliografia



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HUNTINGTON, Samuel. Clash of Civilizations? Foreign Affairs, Summer 1993.

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MOISI, Dominique. The Real Crisis Over the Atlantic. Foreign Affairs, July/August 2001



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WATSON, Adam. The Evolution of International Society: A Comparative Historical Analysis. London and New York: Routledge, 1992.





Notas:




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[1] Lindolpho Cademartori, 20, é acadêmico de Direito na Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mails: lindolpho@brturbo.com, lcademartori@revistaautor.com.br



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[i] In CLAUSEWITZ, Carl von. Da Guerra. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. Cf. o Prefácio da obra, à p. XXI.

[ii] O ideário clausewitziano acerca da natureza da guerra ideal pode ser condensado da seguinte forma: “a guerra é um instrumento racional de política nacional”, ao que os termos instrumento, racional e nacional são esboços pivotais de sua concepção. Em relação ao conceito da guerra ideal, a guerra deveria ser racional porque pauta-se pelo expediente da subtração de prós e contras, avaliando-se os custos e os benefícios gerados pelo conflito; deveria ser instrumental em virtude de o conflito não ser um fim em si, mas sim um meio empregado para que se logre o(s) fim(ns) almejado(s) e; a guerra deveria ser nacional, vez que seu objetivo precípuo é a satisfação dos propósitos de um Estado nacional, e também para que o esforço mobilizado por uma nação a serviço da guerra encontre uma justificativa plausível.

Importa verificar, ainda, que a compatibilidade da conduta da Armée Révolutionnaire com a cartilha clausewitziana sobre a natureza da guerra é meramente inicial, dada a posterior deturpação ideológica e maniqueísta que sobreveio aos ensejos imperiais de Napoleão, conduzindo-o à absurda decisão de trespassar o Velho Mundo com seu Exército, instaurando uma ordem política autoritária que se estendia do Flandres à Prússia. A arregimentação de combatentes de diversas nacionalidades (de saxões a prussianos, passando por insossos camponeses russos, entre outros), as inviáveis pretensões de hegemonia francesa pan-continental e a bravata do “processo revolucionário contínuo” conspurcaram, respectivamente, os caráteres nacional, racional e instrumental das guerras napoleônicas.

[iii] Op. cit. pp. XXI.

[iv] HUNTINGTON, Samuel. Ver o artigo Clash of Civilizations?, publicado na Foreign Affairs do verão de 1993. O tema foi posteriormente desenvolvido de forma mais complexa e acadêmica na incisiva e profética obra Choque de Civilizações, publicado no Brasil pela Objetiva.

[v] Huntington não faz referências diretas a um eventual choque de civilizações entre o Ocidente e o Islã, mas a uma aliança entre o Islã e a China com o propósito de resistir à influência e dominação ocidentais

[vi] Faz-se uso da estrutura de argumentos de Huntington, e não propriamente de uma comparação feita pelo autor. Huntington não compara as similitudes e distinções entre a concepção de guerra napoleônica e a nova metamorfose da estratégia militar após os atentados de 11/09/2001, mesmo porque sua obra é anterior às ações ocorridas em Nova Iorque e Washington.

[vii] Rapoport, na já referida obra, traz à luz explicativa o ponto de vista cataclísmico da guerra, segundo o qual a guerra é uma catástrofe que sobrevém a uma determinada parcela da humanidade ou à espécie como um todo (tal como os profetas que aludiam à guerra como o flagelo de Deus). Possui, assim, duas variantes: a etnocêntrica e a global. Em sua oscilação etnocêntrica, diz Rapoport que “a guerra é uma coisa que pode acontecer a nós, trata-se especificamente de uma coisa que os outros se dispõem a fazer-nos. Vemo-nos numa posição em que não tiramos qualquer benefício da guerra. As nossas próprias medidas defensivas não são meios de alcançarmos objetivos, mas sim meios de impedirmos o desastre ou diminuir seus efeitos. (A necessidade de medidas de defesa civil – abrigos antiatômicos, fall-out, etc. – é comumente justificada pelos seus proponentes tendo como base o ponto de vista etnocêntrico-cataclísmico da guerra.)”. (op. cit. p. XVI) Em sua variante global, assinala o autor que “a guerra é um cataclismo que aflige a humanidade. Ninguém em particular é responsável pela guerra e ninguém deve ganhar nada com ela. (...)” (op. cit. p. XVII). A referência ao “transcendentalismo inoportuno” da filosofia cataclísmica da guerra, de responsabilidade do autor deste artigo, refere-se à insensatez da variante global da filosofia cataclísmica da guerra, vez que a inferência de que a espécie humana como um todo sai prejudicada com a guerra é de uma superficialidade e ingenuidade absurdas e inaceitáveis, dado o fato de que as guerras – ou a maioria delas – resultam em vencedores e perdedores, sendo que os primeiros necessariamente obtêm conquistas significativas. Assim, as células e organizações terroristas de orientação fundamentalista islâmica não se escoram no tosco argumento da filosofia global-cataclísmico da guerra.

[viii] CLAUSEWITZ, op. cit., pp. XI-XVII.

[ix] Não seria da alçada do autor deste artigo o incurso no risco de definir o que - ou quais países – constituem a civilização ocidental. Segundo Huntington, O Ocidente seria compreendido pela Europa Ocidental e pelos Estados Unidos (em uma imperdoável negligência em relação à Austrália e à Nova Zelândia), muito embora outros autores incluam também a América Latina sob o manto do Ocidente. Huntington, em seu artigo Clash of Civilizations?, classifica a América Latina como uma civilização à parte, aparentemente esquecendo o fato de que a América Latina tem grande parte de sua herança cultural derivada das nações ibéricas, Portugal e Espanha. Em tal linha de raciocínio, não seria correto chamá-la de “civilização latino-americana”, e sim de “civilização ibero-americana”, de forma a excluir Portugal e Espanha da civilização ocidental e incluí-las, junto às nações “latino-americanas” (ou ibero-americanas”), na civilização “ibero-americana”.

[x] Não que Osama bin Laden ou a Al-Qaeda sejam os responsáveis pela violação fundamental do preceito de circunspecção da guerra ao campo de batalha, regra moral e formal já amplamente violada, em menor escala, na Primeira Guerra Mundial, e, em escala bisonhamente maior, na Segunda Guerra Mundial (vide os bombardeios em Londres, Amsterdam, Bremen, Hamburgo, Dresden e Tóquio e as condutas do Sexto Exército Alemão em Stalingrado – para não mencionar as barbaridades nazistas logradas no Leste Europeu, a guerra racial na Polônia e a guerra de aniquilação [Vernichtungskrieg] de 1941-45 e a ensandecida política hitlerista conhecida como Mitteleuropa, todas manifestações complementares do Holocausto - e a do Exército Vermelho na contra-ofensiva russa cuja apoteose deu-se em 30 de abril de 1945, quando da tomada de Berlim pelas forças soviéticas), bem como nos conflitos ocorridos após 1945, com ênfase às guerras civis dos frágeis Estados africanos, ao genocídio empreendido pelo ditador cambojano Pol Pot e às guerras balcânicas resultantes da fragmentação da unidade iugoslava.

[xi] MOISI, Dominique. The Real Crisis Over the Atlantic. Foreign Affairs, July/August 2001

[xii] Cf. VIII – Develop Agendas for Cooperative Action with the Other Main Centers of Global Power. In “The National Security Strategy of the United States of America. September 2002. National Security Council and The White House, p 25. Trad. livre. Disponível na Internet: www.whitehouse.gov/nsc/nss.html Acesso em: 06/12/2002. Hora: 16:14:29.

[xiii] O esteio de conduta francês no Conselho de Segurança da ONU vem operando um distanciamento gradativo da postura adotada pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha. Em verdade, tal distanciamento opera-se desde as discordâncias entre de Gaulle e a dupla EUA-Grã-Bretanha, sofrendo reveses oscilantes de aumento e diminuição durante o governo de Miterrand e alcançando um relativo – e precário – equilíbrio com a chegada de Chirac ao poder. Lato sensu, pode-se dizer, sem incorrer em erros crassos e equívocos imaturos, que a política adotada pela Quai d´Orsay diverge constantemente do posicionamento de Londres e Washington, às quais recorrem à independência em relação ao CSNU e preferem agir sem a chancela da comunidade internacional. De sua feita, a França opta por conferir seu aval – e seus esforços – apenas às ações que sejam chanceladas pela ONU, numa nítida manifestação de apoio ao multilateralismo.

[xiv] The National Security..., p. 25.

[xv] Em 21/11/2002, por ocasião da reunião de cúpula da OTAN em Praga, sete países da antiga Cortina de Ferro – Bulgária, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Letônia, Lituânia e Romênia - foram convidados a se tornarem membros da aliança atlântica, concretizando as aspirações da OTAN em agregar à sua estrutura os ex-satélites soviéticos no Leste Europeu. Junto à Hungria, Polônia e República Tcheca, que aderiram à OTAN em 1999, já perfazem dez os países da Europa Oriental a integrarem a aliança.

[xvi] Les origines du Pangermanisme. Collection de documents sur le Pangermanisme. Préface de Ch. Andler, Paris, L. Conrad, 1915, pp. 180-183.
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