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Teses_Monologos-->A Banalização é a Moda -- 08/06/2002 - 15:20 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A BANALIZAÇÃO ESTÁ NA MODA (2)
(por Domingos Oliveira Medeiros)

Atrasildo mora no Brasil. É brasileiro. E no Brasil, como é sabido, a sociedade é dividida em classes sociais que vai de A até Z. Muita divisão de classes para poucas chances de ascensão social. Mas, enfim, é esta a realidade. Atrasildo pertence a classe Média Baixa. Aquela que não consegue ficar melhor de vida, mas está sempre correndo o risco de passar para o segundo grupo.

Tal qual acontece com os times de futebol, e as escolas de samba, por ocasião do Carnaval.

Mas há uma peculiaridade. O Atrasildo herdou de seus pais uma espécie de maldição. Jamais conseguiu acompanhar os avanços tecnológicos. Melhor dizendo, chega sempre atrasado no lance. Atrasado em relação à possibilidade financeira de adquirir a última novidade tecnológica. E tudo começou, para o Atrasildo, por ocasião da entrada da televisão no Brasil. Lá pelo início dos anos 60. Atrasildo, era ainda um jovem adolescente. Muito curioso, inteligente, insistente e bastante esperançoso. Como, aliás, somos todos nós brasileiros; eternos inconformados, mas eternamente bem humorados.

Quando a televisão aqui chegou, com as cores preto e branco, o pai de Atrasildo, também da classe média baixa, não conseguiu, logo de imediato, adquirir um televisor. E toda à noitinha, ele e o Atrasildo iam para o vizinho, assistir, de favor, a televisão.

Atrasildo ficava encantado com as imagens e a fala que a telinha mostrava. Ele ainda não se preocupava com o conteúdo da programação. Ficava mais atento ao fenômeno tecnológico, em si. E o tempo foi passando, até que ele arranjou uma noiva e resolveu casar. Como qualquer integrante de sua classe social, teve que alugar um vestido de noiva, pois não podia comprar a última moda disponível nas lojas. E desse modo entrou para o rol dos homens sérios. Casaram-se e tiveram filhos. O suficiente para manter Atrasildo fora do contexto tecnológico. Seu dinheiro só dava mesmo para mantê-lo na classe média baixa. Assim mesmo, até que um novo plano econômico surgisse.

As despesas eram grandes e, por isso mesmo, com os salários reduzidos, Atrasildo sentia-se, cada vez mais, incapaz de acompanhar o avanço tecnológico. Na hora de consumir esta ou aquela novidade, chegava sempre um pouquinho atrasado. O celular foi do mesmo jeito. Só conseguiu comprar um quando o aparelho já era utilizado até por marginais dentro das cadeias. Mas a lembrança da televisão não lhe saia da cabeça.

Até que um dia, muito depois de quase todo mundo ter adquirido a televisão colorida, Atrasildo resolveu não tirar férias. Valendo-se do crediário, comprou sua televisão. Houve até uma pequena festa de inauguração, quando o aparelho chegou na sua casa. Atrasildo mudou até de fisionomia. Estava muito contente. E mudou de hábitos, também.

Corria do trabalho direto para casa para, junto com a família, ligar a TV e assistir a todos os programas. Filmes, jornais, esportes, novelas, desenhos animados, filmes, jornais, esportes, desenhos animados, filmes, jornais, enfim, a mesma rotina de sempre. E quando ele já começava a enjoar da programação, novos programas começaram a aparecer. Programas variados: Na banheira com Gugu, Fantástico, Domingão do Faustão, Baú da Felicidade, Tudo por Dinheiro, Programa do Ratinho, Note e Anote até chegar novamente no Vale a Pena Ver de Novo. E a coisa foi esquentando. Atrasildo verificou que a televisão não era aquela coisa que ele sempre sonhara. Havia muita repetição de filmes e de programas. Até de novelas. O próprio noticiário jornalístico era uma repetição entre os canais. Todo davam as mesmas notícias. Se o assunto era incêndio, apareciam bombeiros e pessoas queimadas e feridas em todas as emissoras. Se o assunto era seqüestro, a mesma coisa. Estouros de cativeiros por todas as partes. Sem pagamento e fiança. Entrevistas com as vítimas. Sempre alegres e tecendo elogios ao tratamento vip que lhes tinham sido oferecido pelos marginais. Adeusinhos e mais adeusinhos.

Mas as coisas não ficaram só por aí. A televisão começou a “inovar ”mais ainda. Na busca de audiência, vieram as apelações. Nos jornais, a violência e a corrupção passaram a dominar a temática diária. Os filmes, por sua vez, faziam apologia ao erotismo, à banalização do sexo pelo sexo, à violência e à corrupção. . E os novos programas foram aparecendo: entrevistas com atores e atrizes, onde surgiam perguntas do tipo qual a cor de sua calcinha, qual a melhor posição para o sexo, e assim por diante. Receitas culinárias não faltavam. Feitas na hora. Como se todos os brasileiros tivessem condições de se alimentar todos os dias. Masoquismo explícito.

Outras vezes apelava-se para os palavrões, ao vivo; outras vezes para a desmoralização, para a humilhação, para o vexame de pessoas diversas. Garotas e garotos de programas, que se apresentavam em diversos canais, apresentando suas razões para a vida que levavam. Brigas de casais, estelionatários bem sucedidos, crimes de colarinho branco, políticos mentirosos, eram os temas que dominavam os espaços da televisão e que eram bastante explorados. Até que chegamos na Casa dos Artistas e no Big Brother. Trancados dentro de uma casa, um casal de jovens demorou uma semana para fazer o que qualquer casal de adolescentes faz em dez minutos. Beijaram-se.. Depois, bem mais tarde, praticaram o sexo implícito. Fora de contexto. Todos de sunga, na casa, cuja fechadura estava sempre escancarada para todos.

No primeiro programa desse tipo, havia um português, segundo a imprensa, que ganhava a vida como go-go-boy em Paris e uma atriz loura, de filme pornô. E outra senhora, que confessou ter gasto mais de R$4 mil só em calcinhas, para participar do programa. Contava, ainda, o programa, com um empresário e mais a top model Gisele Bundchen, que, segundo dizem, não teria topado nada com nenhum dos parceiros. E tinha mais um quarentão, também segundo a imprensa, que teria sido liberado publicamente pela esposa, para atacar qualquer vulto bonito que aparecesse. O importante mesmo era o dinheiro. Ao inferno com a ética e a moral.

O primeiro eliminado foi o coroa quarentão, que tentou incorporar o personagem feito pelo Supla. Mas acabou sendo rejeitado pela galera. Um casal, Xaiane e Kleber, aparece, em momentos de intimidade, na rede. Rolam por cima um do outro e houve-se o estalo de um beijo. Na orelha e que produziu muito barulho. Barulho que o rapaz reclamou.

Alessandra, que sonhava em ser capa de Playboy demonstrava a toda hora preocupação com os seus fartos seios. De silicone, segundo os jornais. E havia, também, um homossexual em cena, que imitava Maria Bethânia. Tudo se passa sem um roteiro prévio. Sem qualquer planejamento. Não há roteiro. Não há, na verdade, nada. Tem-se a impressão que aquelas pessoas não tiveram a oportunidade de uma boa educação, de uma boa leitura, tal a inexistência de uma boa conversa e de bons padrões culturais, suscetíveis num grupo que se reúne para interagir. Mais parecem um bando de bichos na jaula, grunhindo e fazendo sexo.

É como disse a grande imprensa: . “A Globo não conseguiu transformar o Big Brother num programa de TV. O programa não passa, portanto, de cenas de tédio grupal”.

E os programas desse tipo viraram moda. Passaram a ter várias versões. E ganharam fama. E, tudo indica, audiência. Pois as versões são cada vez mais sofisticadas.

Mas tenha calma Atrasildo. Resta-lhe ainda uma última esperança. Que vem da própria televisão. Basta você gritar bem alto: Quem poderá nos salvar ? Chapolin, é claro!...Pois não vejo saída a curto prazo para mais uma bobagem que está rendendo muito dinheiro neste país. A banalização está na moda.

Domingos Oliveira Medeiros
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