O meu sujeito poético, ontem tresloucado e céptico,
vem hoje célere e urgente,
qual porteiro de prédio elegante,
precipitar-se para me abrir,
a pesada porta incandescente
onde arde o eterno fogo ardente
das almas em danação.
Cantam-me canções de rara sabedoria,
os que planam em perpétua agonia:
"Apenas se capta o infinito, enquanto .
dos rios secos nascerem regatinhos,
e dos dias sem história escorrer nova fragrância.
Os amores opalinos? São a esperança
dos regaços maternos, que são saudade,
dos longos Invernos, noites de frio eterno.
E as palavras sábias? A frieza das paredes
onde escorre a humidade da noite,
ou a geada da manhã em tempo
de madrigais tristes, nos beirais das andorinhas.
Não, "ainda" é tão opaco como "sempre".
E sempre é a certeza do nunca." Calam-se
sem mais dizer, tendo dito o que disseram.
E o meu sujeito poético fechou-se, patético,
no Inferno incandescente. E as palavras
ardem-me agora em fogo lento,
queimadas uma a uma sem piedade...
Fica hoje por fechar o meu poema
sem esperança, nem saudade,
nem dor que não possa tornar-se amena.
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