Chamaram de Touro Bandido
Por não querer ser montado
E dar com chifre em atrevido
E em peão desavisado
E dele eu não olvido
Por muitos ficou querido
Alguns, o querem capado
Sua imagem para a nação
Esta terra brasileira
Teve a conotação
De um bicho sem estribeira
Fizeram um grande festão
Mas não livraram o peão
De uma queda bem ligeira
De mocinho e bandido
Inventaram uma estória
O touro com brio ferido
Não pediu por moratória
E por ser bem decidido
Deixou de lado o apelido
Virou figura notória
É um bicho diferente
Diferente dos demais
Na história é parente
De muitos outros animais
Muitos dos seus ascendentes
Com outros antecedentes
Não conheceram currais
O Rabicho da Geralda
Ou um outro Barbatão
Daqui ou de Serra Pelada
Deixaram-lhes por lição
Que touro é pra trepar
E na manada mandar
Ser montado ? Isso não !
Deu entrevista o Ananias
Sorriu na televisão
Tremendo contava os dias
Para a tal confrontação
De Pais Nosso e Ave Marias
No meio de romarias
Rezou pra mais de milhão
Isso ocorreu em Barretos
Na Festa do Peão
A arena tava cheia
Tinha gente de montão
O touro era prato cheio
Era o vilão do Rodeio
Pra todo aquele povão
As apostas antes feitas
Dividiam ao meio a chance
Mocinho versus bandido
Cara-pálida e Comanche
E sem haver sorteio
Uma parte do rateio
Foi para a Liga do Câncer
Chega enfim o grande dia
Apostas de grandes quantias
Era grande a divisão
De um lado o Ananias
Do outro o Touro Bandido
Já por muitos preferido
Ia lutar com o peão
O peão se divertia
O touro preso no cercado
Bem calmo permanecia
O outro a falar pra danado
Não provaria de pata
Não era aquilo bravata
Dali sairia montado
Abriu-se então a porteira
Era visão de dois mundos
E um barulho infernal
Ambos bastante imundos
E aquele faroleiro
O peão de boiadeiro
Não ficou lá dois segundos
A platéia em delírio
Plena de muita emoção
Gritava o nome do bicho
Com tamanha exaltação
Mostrou alí pra que veio
E em Barretos rodeio
Teve touro campeão
Humilhado e disfarçaando
Um pouco bem cabisbaixo
Mas ainda ameaçando
O peão pisou em falso
Esquecendo, não lembrando
Daquele momento, quando
Que ele ficou embaixo
Mas se a mídia inventasse
De entrevistar o touro
A gente talvez escutasse
Resposta que era um estouro
Não sei se é pra valer
Será que alguém vai querer
Se assentar no meu couro ?
Que prazer isso lhe dá
Não acho isso comum
Por que não monta em Muié ?
E faz lá um Zum...Zum...Zum...
Não sei bem o que ele quer
Mais me parece um Mané
Embriagado com rum
Eu fui ferrado na vida
Só como se for em cercado
Ainda me vem um Ananias
Pra montar no meu costado
O que ele quer provar ?
Se for homem, não posso atestar
Isso é coisa pra veado
Se não houvesse tanta gente
Presente lá no estádio
Seria bem diferente
Pra ele seria um estágio
Entraria numa fria
Ali mesmo ele sentia
O furor do meu Paládio
Acabou-se a entrevista
Sem piada derradeira
O bicho não era humorista
Apelara para a ligeira
Não gostava de frescura
E logo chegou a censura
Acabando a brincadeira
Agora só resta esperar
Que na próxima edição
Venha alguém com humildade
E monte aquele tourão
E o faça sem vaidade
Pois então com mais idade
Não vai bota-lo no chão
