17 – A ÓPERA COMO POEMA SINFÔNICO E A FORMA
-compilações da obra de Joseph Kerman, por Coelho De Moraes –
a idéia é popularizar o tema ópera e as críticas sobre essa arte
Chegamos a Wagner como homem que tomou para si mesmo, arrogantemente, o conceito de ópera e escreveu o Anel para sustentar sua pretensão, sacudindo o mundo musical, criando posições que estão em evidência até hoje.
Francis Fergusson viu Wagner ao lado de Racine numa perspectiva mais longa – o teatro da paixão – em oposição ao teatro da razão. Thomas Mann ensaiou em livro com o título “Freud, Goethe e Wagner”. Há outros autores referendando outros trinômios pilares como : Beethoven, Wagner e Schoemberg.
Repetimos, porém: Wagner e Debussy assumiram posições radicalmente opostas. Wagner tendeu em direção ao ideal da ópera como poema sinfônico e Debussy em direção ao ideal da ópera como peça cantada, e apesar de nenhum dos dois ideais ter sido atingido – o que é natural em termos de idéias – os resultados foram imponentes e de longo alcance. Pelléas et Mélisande é a ópera mais refinada, auto-consciente, reprimida e extravagante; Tristão e Isolda é de longe a mais radical, a mais imaginosa, a mais difícil de se chegar a um acordo a respeito.
No caso do Tristão, os preâmbulos são longos, às vezes não dramáticos, tediosos, mas cada um deles se encaixa nesse clima incandescente em vista. Desnecessário dizer; é a música quem desencadeia a conversão em Tristão e Isolda, e dá o sentido de verdade à visão mística extrema.
A forma musical em ópera, o elemento articulador essencial do drama, é sempre mais bem compreendida como reflexo, ou como a imagem original, da forma musical tal como existe segundo a sua época. Quando a arte da ópera foi criada Monteverdi reuniu elementos de estilo operístico a partir de vários gêneros musicais daquele período vigoroso, confuso e de transição. O ordenado plano barroco da ária e do recitativo de Metastásio encontra expressão também na música instrumental da época. A técnica operística de Mozart é paralela a seu estilo sinfônico. De forma similar, a continuidade operística de Wagner adota, define e consuma o ideal formal característico da música romântica.
Wagner levou o ideal orgânico a um clímax monstruoso: uma continuidade única, pulsante, ostensiva, carregada de temas, durante quatro horas – até mesmo durante quatro noites.
Sturm und Drang – os ideais românticos da Alemanha postos em palcos especialmente construídos para a consumação de toda aquela paixão emocional e musical que afligia a época