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Artigos-->PRIMEIRA VISITA À PENÍNSULA DAS CORÉIAS -- 06/09/2011 - 21:59 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


PRIMEIRA VISITA À PENÍNSULA DAS CORÉIAS_edn1" name="_ednref1" title="">[1]



 



L. C. Vinholes



 



O registro pelo Correio Braziliense dos 50 anos das relações diplomáticas e comerciais entre o Brasil e a Coréia do Sul e as notícias da exitosa apresentação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro no 3º Festival Mundial de Teatros Nacionais, em Seul, em outubro de 2009, fizeram-me recordar dois eventos um mais recente e outro e outro de 1963/1964.



 



Em 24 de maio de 1998 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Seul e acertou com o presidente Roh Moo Hyun uma série de negócios e compromissos políticos entre o Brasil e a Coréia, inclusive acordos de investimentos e parcerias e protocolos de intenção, assinados por empresários que fizeram parte de sua comitiva. Era esperado que se concretizasse o acordado entre a Companhia Vale do Rio Doce e a Posco coreana, possibilitando a criação de uma “joint-venture” para por em funcionamento no Maranhão uma siderúrgica capaz de produzir mais de sete milhões de toneladas/ano de chapas de aço. Por outro lado, negociações prometiam que São Gonçalo do Amarante, no Ceará, ganhasse um complexo para produção de chapas de aço com financiamento da Dongkuk Steel Mill coreana. Os coreanos estavam com dinheiro e a prova disto é que a companhia Kepco prometeu investir no Brasil US$1,5 bilhões o que era esperado com entusiasmo pela Eletrobras.



 



Voltando ao passado, cumpre lembrar que em meados de 1963 a Embaixada do Brasil em Tóquio, que, comulativamente, tratava dos assuntos relativos à República da Coréia, acertara com o Itamaraty por em prática compromisso assumido pelo embaixador Décio de Moura por ocasião da sua visita a Seul para entrega das credenciais como nosso primeiro embaixador naquele país. Na ocasião, cogitava-se promover eventos a fim de tornar o Brasil melhor conhecido pelos coreanos. Esta providência se justificava pelo fato de que, na época, crescia o interesse pela imigração para o Brasil e lá pouco se conhecia a respeito dos hábitos, costumes, cultura e artes dos brasileiros.



 



Por sugestão do saudoso embaixador Murilo Gurgel Valente então primeiro secretário encarregado de negócios em Tóquio, por ser responsável pelo setor cultural e falar também o japonês - idioma conhecido dos coreanos da época com mais de 40 anos de idade -, estive na Coréia de 10 de janeiro a 3 de fevereiro de 1964, às vésperas da abertura da embaixada do Brasil na capital coreana ocorrida em outubro do mesmo ano.



 



No desempenho das tarefas agendadas, tive sempre o incondicional apoio do pintor Lee Se Duk, presidente da Associação de Belas Artes e professor da Universidade Nacional em Seul, que não mediu esforços para facilitar meu trabalho. A programação contou com o patrocínio e apoio financeiro do conceituado jornal Tong-A Ilbo, circulando desde abril de 1920. Por sugestão do diretor do referido jornal, para facilitar nossos contatos, hospedei-me no Hotel Sindo, situado a menos de 100 metros, de construção modesta e ambiente espartano.



 



Da programação tiveram destaque os seguintes eventos:



 



a) O filme colorido Aquarela do Brasil, produzido pelo diplomata Raul Smandek, apresentado em seções vespertinas, em uma semana foi assistido por mais de 3.000 pessoas.



 



b) A exposição de gravuras contemporâneas brasileiras no Centro de Informações da Coréia de 14 a 25 de janeiro de 1964, com catálogo em coreano ilustrado a cores, contou com 58 gravuras de Lívio Abramo, Oswaldo Goeldi, Edith Behring, Iberê Camargo, João Luiz Chaves, Roberto De Lamônica, Marcelo Grassmann, Hermano José Guedes, Fayga  Ostrower, Rossini Perez, Isabel Pons, Arthur Luiz Piza, Carlos Prado e Ana Letycia Quadros. Na inauguração, além de numeroso público, compareceram o vice-ministro da Informação Pública Chung Byug Cho, o presidente do Tong-A Ilbo Hi Sung Lee e seu editor-diretor executivo Sang Man Kim, o vice-presidente da Associação de Belas Artes Sung Suk Lee e os renomados artistas plásticos Yoo Young-kuk, Ro Yong Myeung, Chun Sung Woo, Chung Chang-Sup, Ha Chong Hyun, Kim Jong Kin, Park Seo Bo, Kim Youg Ju, Kim Tchah Sop, Bae Yoong, Kim Sang Yu e, logicamente, meu cicerone Lee Se Duk. Durante a mostra, em sala anexa e em três seções diárias, foram exibidos os filmes Arte no Brasil de Hoje, Alvorada da Esperança e Rio Welcome You. A gravura de Isabel Pons intitulada Pássaro Escuro, de 1961, foi adquirida pelo jornal Tong-A Ilbo e a quantia apurada doada à Cruz Vermelha da Coréia na pessoa do seu vice-presidente Too Jong Kim, primeira contribuição à campanha lançada pelo presidente Park Chung Hee. No período da mostra, os jornais Tong-A Ilbo (11), Han Kuk Ilbo (1) e The Korean Republic (2) publicaram quatorze artigos sobre os artistas brasileiros ilustrados com fotos das obras exibidas. Diariamente a mostra teve mais de 1.500 visitantes e o total alcançou a cifra de 25.554 pessoas.



 



c) Depois de Seul, a exposição foi leva à cidade-porto Pusan onde foi exibida na super-loja local e inaugurada apelo prefeito Hyu Nok Kim, constituindo-se na primeira mostra de arte estrangeira ali realizada e que teve 5.211 visitantes nos cinco dias em que esteve aberta ao público.



 



Em sintonia com a mostra em Pusan, a rádio local KLKB transmitiu programa de 40 minutos com obras de compositores brasileiros.



 



d) Proferi palestra no Hall-Café Renascença de Seul sobre as tendências da música clássica e dos diversos estilos da música popular brasileira. Estiveram presentes alunos das universidades e escolas de música de Seul, os compositores Paik Byung Dong, Sang Keun Lee, Dong Whan Kim, os críticos Park Yong Ku, Che Yung Hwan, Tschang Gu Rhie e o pianista Hos Up Lee.



 



e) Dei entrevista ao vivo na Rádio Towa HLKJ da capital coreana, tendo como interlocutora a compositora Soon Ae Kim.  Na ocasião, conheci o compositor Ahn Eak Tae, autor da música do Hino Nacional da Coréia que, vivendo na Espanha se encontrava em visita à pátria, fez questão de relembrar os dois encontros com Villa-Lobos, em Paris.



 



f) Em transmissão ao vivo pela referida rádio, minha obra aleatória Instrução 61 foi executada pelos músicos da Orquestra Sinfônica de Seul sob a direção do maestro Mon Bok Kim, ex-aluno de Eleazar de Carvalho, nos cursos internacionais do Festival de Música de Tanglewood (EUA).



 



g) Na companhia do arquiteto Kim Chung Up, admirador incondicional de Oscar Niemeyer, visitei a Universidade de Seul e o novo prédio da Embaixada da França por ele construído em 1962 com linhas que lembram a escola de Le Courbusier. Kim sonhava com o projeto para a embaixada do Brasil que segundo ele poderia ser paga com o fornecimento de café brasileiro ao mercado coreano.



 



h) A guisa de intercâmbio com os artistas brasileiros, o gravador Kim Sang Yu ofereceu obras de sua autoria à Isabel Pons, Iberê Camargo e Arthur Luiz Piza e a compositora Soon Ae Kim suas partituras às compositoras Eunice Catunda, Geny Marcondes e Suzana Tresca.



 



Durante minha estada na Coréia, o diretor do Tong-A Ilbo em contato com o Serviço de Informação dos Estados Unidos (USIS, sigla em inglês) acertou a visita que, em 17 de janeiro, fiz à Panmunjon, Zona Desmilitarizada no paralelo 38 que, desde o armistício de 1953, divide a península coreana em Sul e Norte. Naquele dia realizava-se a 182º reunião da Comissão Militar do Armistício para continuar as negociações sobre a queda na terça-feira, dia 14, do jato pilotado pelo capitão Rosuh Parkl da Força Aérea aliada, a cerca de 28 km ao norte do paralelo 38, numa região situada entre o monte Teadok e Bauryong. Na ocasião, do lado de fora e pelas janelas laterais dos pavilhões espartanos ali construídos para as negociações bilaterais, apreciava a troca de farpas entre o chefe da delegação norte-coreana, major-general Chunghwan Chang, e o major-general Seedlock, delegado “senior” do Comando das Nações Unidas (UNC).



 



Depois de muita insistência, a delegação das Nações Unidas conseguiu esclarecer que o piloto não tinha sobrevivido; que seus restos mortais seriam entregues depois de negociações, no nível de secretários; e que a delegação norte-coreana negava a devolução dos destroços do avião abatido. Em um dos intervalos das negociações, quando os delegados e os visitantes, cada um nas suas áreas, tomam chá e café, tive oportunidade de conversar com o oficial norte-coreano Lee - nome bordado na sua lapela -, que, como eu, se encontrava do lado de fora do pavilhão. Inadvertidamente e para desespero do meu guia do USIS, Robert B. Ebert (Chief of Community Liaison), e alvoroço dos soldados aliados, acompanhado pelo referido oficial, atravessei a linha simbólica que divide os dois lados, um meio-fio de 20 cm de altura e, fui tirar fotos das fotos do avião abatido coladas em painéis encostados em um declive do terreno a poucos metros de distância.



 



De posse das fotos, retornei ao Seul ouvindo o oficial Lee sorridente comentar: “és, certamente, o primeiro brasileiro a entrar no Norte da Zona Desmilitarizada. Feliz retorno ao Brasil”. Num aperto de mão agradeci sua gentileza. Na volta, percorrendo novamente os 56 km até Seul, assim como na ida a Panmunjon, o que vi pela janela do ônibus do UNC eram tanques e carros de assalto cruzando de um lado para outro em terrenos que mostravam resquícios de terem sido produtivos campos de arroz.



 



 




 






_ednref1" name="_edn1" title="">[1]Nota do autor: artigo de janeiro de 2010 registrando lembranças da visita à Península da Coréia do Sul e do Norte, entre 10.01 e 03.02.1964.




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