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Ensaios-->ENSAIO DE UM LIVRO ESCRITO A TRÊS MÃOS - PAI E FILHOS -- 02/12/2002 - 16:34 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DEDICATÓRIA

Dedicamos nosso trabalho, às pessoas que mais estimamos nesta vida: Nossa mãe, Fátima Calil Fonseca, aos irmãos, Fernando, Fábio e Patrícia Calil Fonseca, aos cunhados Dr. Ari, Rosângela e ex-cunhada Rosana. Aos sobrinhos, Fernando Filho, Elisa e Marina; Henrique; Maria Eugênia, Humberto e Maria Vitória; Lucilo Neto, Marcondes e Alexandre; e Gabriel.

Dedicamos com carinho especial, às nossas esposas guerreiras, Dra. Elenízia e Alcione.

Bruno e Ricardo.

PREFÁCIO

Objetivamos condensar neste livro, algumas crônicas e poesias, que retratam o nosso cotidiano. Três autores, pai e filhos, através de perspectivas diferentes, gizando sobre o mundo que nos cerca.

A iniciativa de editar este livro, tomada por Bruno Calil Fonseca, enfeixou-se em seguida com a conjugação de esforço com o irmão Ricardo Calil Fonseca, vislumbrada como forma de manifestar gratidão ao nosso genitor Dr. Lucilo Constant Fonseca, de quem recebemos ao longo dos tempos, o exemplo de que o exercício da leitura preenche de bom conteúdo as nossas vidas.


Bruno e Ricardo
PARTE I

LUCILO CONSTANT FONSECA
ASAS DO PENSAMENTO

Ouvindo-se o chilrear das andorinhas, não há quem não se deixe levar às velhas reminiscências.
Voltamos, em lembrança do tempo da meninice. E, com isto, nos vêm à memória fios de telégrafos e linhas de energia elétrica, apinhados destes pequenos pássaros. Como se fossem fatos mais longínquos ainda capelas e igrejas brancas, banhadas de cal, com seus telhados enegrecidos pelo tempo; tendo, em seus beirais, uma superpopulação destas barulhentas aves.
Nas asas de nossos pensamentos, vimos evolar-se no espaço de um céu profundo dezenas de milhares de andorinhas. Interessante é que como evocamos o passado, ora sim, ora não; também, as andorinhas se fazem presentes, outras vezes não.
Estes pássaros são de arribação.
Há épocas em que eles se comunicam, de modo desconhecido por nós. Fazem giros, após giros, sobre as cidades em que passaram algumas estações do ano; para, em uma só revoada, partirem para outras plagas; por vezes, situadas a milhares e milhares de quilômetros.
Isto se dá quando as andorinhas vão fazer os seus veraneio, nos lugares soprados pelas águas do mar. Momentos há em que chegamos a ter saudades da presença buliçosa dos pássaros que foram embora; sem nos dizer adeus. Tudo isso ocorre em nosso íntimo, como sentimento de idéias vagas, que se perdem na lembrança do pretérito. Quando menos esperamos, quando tudo já parecia totalmente esquecido, chega em nós a lembrança do passado, que se faz presente; com a chegada inesperada das andorinhas. Estas com seus vôos ligeiros e chilros peculiares nos dão a idéia de que nós nos retornamos ao passado ou este se fez outra vez presente.
1980
FILISMINO, FILISMINO!

Se bem me lembro, há mais de quatro décadas que, certa manhã, à garupa da besta montada por meu pai, vi de modo impressionante, uma vivenda original. Era, aproximadamente, dez horas da manhã, quando nós, naquela cavalgadura, atravessamos da margem direita à outra, o rio Urú. As suas águas, eram espalhadas, claras e com rasura tal que, bem permitia uma travessia a vau.
O sol da manhã fazia seus raios brilharem, na superfície recortada das águas do rio. Tendo ultrapassado, de uma margem à outra, qual não foi o meu assombro encontrar, num lugar ermo, um soberbo e vistoso sobrado.
Meu pai era proprietário de muitas terras, na região denominada Mata do Pará. Este fato justificou a nossa ida a cavalo, em uma determinada manhã, de dezenas de anos atrás à fazenda Brumado. É bom dizer que, naquele tempo, não existia no Estado de Goiás, cidade pavimentada. Excetuando-se naturalmente, Goiânia, parcialmente calçada e a Cidade de Goiás, que grosseiramente, tinha e tem as suas ruas recobertas por enormes e irregulares pedras. O atraso era a marca de toda uma província interiorana, como sói ter sido a deste Estado, em meu tempo de criança. Se fosse para relatar a precariedade de Goiás àquela época, seria necessária uma enorme obra, para conter a descrição de todo marasmo que o caracterizava. Não havia propriamente cidades, mas sim currutelas. Com ruas e largos poeirentos ou lamaçais, na época das chuvas. Festinhas nos lugarejos, por ocasião de seus santos padroeiros, com parquinhos de diversões instalados, donde se faziam ouvir altos-falantes, com todo seu volume, a transmitir vozes de cantores famosos da época. Em primeiro plano, estava o nome de Vicente Celestino, depois, a seguir, os de Francisco Alves, Francisco Petrônio, Gardel e outros.
O importante desta assertiva, da inexistência total de progresso, foi demonstrar a intensidade do impacto causado em nosso espírito ao sentir o grande contraste. Uma vez que, a gente havia vivido e familiarizado com um meio totalmente retrógrado. Atrasado até mais não poder. E, daí, dar com à vista sobre uma edificação espantosa e imponente. Erigida no seio ignoto de uma região rural e totalmente agreste. O casarão debruçava as suas faces, a poucos metros acima da margem do Rio. Ele tinha o seu frontispício voltado em direção à estrada, que nos conduziu para lá. Realmente, estava abobalhado, com o aspecto majestoso do sobrado. Nos parecia qualquer coisa ligada a um conto de fadas.
Considerando o fato de que, aquele tempo, era ainda criança, contudo, tive a capacidade de estabelecer um confronto, entre a suntuosidade do sobrado, com a modéstia dominante não somente àquela região, mas por todo o Estado de Goiás, e quiçá do Brasil, quase que por inteiro.
Era inacreditável como aquela beleza arquitetônica e singular pudesse provocar tamanho impacto no espírito da gente. Aquela manhã representou realmente a abertura de um saco de espanto. A começar pelo próprio ambiente, inteiramente bucólico. Seguindo esta mesma linha de raciocínio lembra-se da beleza sentida na travessia do rio Urú, e não para concluir, nas enumerações, mas sim pelas impressões causadas e visão tida do magnífico sobrado. Após tanta surpresa, alguma coisa nova tinha que acontecer. Meu pai e eu, após apearmos da cavalgadura e atendendo a solicitação para adentrarmos ao sobrado. Assim o fizemos.
A esta hora, um fato inusitado se deu. Uma criança que mais ou menos devia ter minha própria idade, entrou à sala e assentou-se defronte a nós. Até ai, nada de novo, o “sui generis”, para mim, foi o fato de que aquele menino tinha uma enorme mecha de cabelos brancos.
Após transcorrerem muitos anos, movido pela curiosidade, um dia quando pernoitava em uma fazenda do Brumado, quase junto ao córrego do mesmo nome, indaguei ao dono da casa sobre o antigo sobrado. Ele me informou que não o conheceu, mas que sabe de sua ruína. Acrescentando que a mesma se acha situada em um pontal formado pelo rio Urú, e o ribeirão denominado Brumado.
A notícia nos causou um choque tremendo, visto que, o casarão teve sua vida física real, mas para mim tratava-se ainda do desmoronamento de um castelo de sonhos. Curioso perguntei: - Por que e como? em resposta falou-me que o dono do sobrado na época que o conheci, era um tal de Filismino, cidadão este que veio do Estado de Minas Gerais. Esta informação me foi passada pelo senhor que bondosamente me acolheu. Tanto era certo se tratar do Sr. Filismino que o seu filho vive e reside à cidade de Itapuranga. Esta informação me foi dada pelo meu anfitrião. E que o mesmo tem a sua característica indelével constituída pela dita mecha de cabelos brancos. Continuando o seu relato, disse mais: que a demolição se deu sem que provocasse a menor consternação a seu dono, justificando a sua barbárie, com a afirmativa de que a destruição se fazia para encontrar possíveis guardados de ouro nas paredes colossais do majestoso sobrado.
Honestamente sou incapaz de pensar sobre tudo isto, sem que venha a me perguntar: Filismino, oh! Filismino, por que fez isto? E a par de tudo, sentir uma grande revolta.
27/07/81.

OS SINOS


O sentido deixado pelo ecoar dos campanários é0 recebido de modo diverso pelas pessoas.
Por vezes os seus ecos representam uma chamada aos ofícios religiosos. Para outras, representam uma aproximação com Deus.
O ecoar desses instrumentos sonoros e seculares, não deixa de ser, de certo modo, uma cronologia.
Ouvimos, constantemente, a expressão - é meio dia; são seis horas da tarde... Ave-Maria!
Relativos ao sentimento da humanidade, os sinos trazem sensibilidades diversas. É de uma alegria profunda e contagiante, quando estão a chamar os fiéis para a Santa Missa.
O seu poder de transmitir emoções, é tão duro quanto o material que os fazem. Temos involuntariamente a lembrança do bronze; este com peculiar cor escura, verde-cinza.
O aspecto deste instrumento metálico, não importa! Às vezes é simples, apresentando um badalo para ser acionado, através de uma corda.
Ora outra, nos afigura aos moldes dos carrilhões. Estes se movimentam em seus eixos, para assim poder produzir a sua própria voz.
Os sinos nos fazem lembrar, de uma das obras de Victor Hugo, “O Corcunda de Notre Dame”; quando o seu personagem, Quasimodo, movimentava os carrilhões da famosa igreja, denominada Nossa Senhora de Paris.
A voz do sino, é como nós mesmos. Ora, de lânguido langor e; outras vezes, de alegria tão grande, que nos eleva aos céus, aproximando-nos de Deus.
1980.


TIRO PELA CULATRA
A pior arma inventada pelo homem, para dizimar a caça silvestre, não foi a espingarda, a carabina e nem tão pouco o revólver; foi na realidade, a lanterna.
Os aliados perigosos, contra toda sorte de animais, que povoam os quadrantes da terra - e o homem e o cão. Por muito tempo, deram sustos aos esquilos, as onças e as capivaras. Esta dupla perigosa de “hommo” e o “canídeo”, sempre, pôs em pânico todos os animais, que povoam as matas e os campos.O homem, com sua malícia e artimanha, adestrou o seu companheiro de tal sorte que, de per-si ou em fila, põe qualquer animal, por mais feroz que seja, ou rápido, hábil em subir as árvores, sempre em dificuldade para escapar à perseguição do intermediário do homem; dotado de um faro excepcional, que o leva a denunciar a presença da caça. O quadro acima, nos dá conta da dificuldade que tem qualquer bicho de sobreviver. Quando ele tem pela frente, dois inimigos comuns, perigosos e cheios de artifícios.
Contudo, nem sempre acontece de um animal caçado não conseguir fugir à perseguição cruel, de que seja vítima.
Uma caçada, feita em bons termos, com já as vi tantas, é organizada da seguinte forma. Geralmente, nos domingos, feriados e dias santos, os amadores ou profissionais desse esporte depredatório e cruel, se reúnem em determinado lugar. Aí, dependendo da distância, de onde pretendem deflagrar a guerra, contra os indefesos animais, a maior parte deles, comparece a cavalos.
O número, geralmente gira em torno de meia dúzia. E de cães se eleve à base de duas dezenas. No encontro, discutem os detalhes. Aí, uma corneta estridente, soa no ar. A cachorrada, tocada pelo mesmo instinto do homem, se torna impaciente, rosna e quer a separação das trelas. Instintivamente, parece conhecer a vontade de seus donos. Assim, em debalada carreira, de um espigão a outro, os cachorros se abrem em forma de leque. Desse modo, é que eles conseguem movimentar os animais, que estejam presentes em uma faixa de quilômetros. Experimentados que são, leva, forçosamente, qualquer caça encontrada a tomar um determinado rumo e a uma passagem forçada. Nesse ponto, de aglutinação, onde o homem, estrategicamente espera pela passagem da caça, é que se dá o desfecho do episódio.
Ela com o coração a sair pela boca, espavorida, com o ladrar incessante e insultante dos cães, se vê na contingência de correr para o exato lugar onde está a sua espera, o homem. Nessa hora, este sempre tem um brinquedinho de mau gosto, que se chama espingarda. Justo com este tipo de arma, é que os homens cruelmente fazem fogo cruzado contra a caça, a vítima indefesa.
O resultado, é óbvio dizê-lo. Vez que só temos a imaginar um veado, uma paca, um catitú, seja lá o que for, uma caça qualquer, traçada de chumbo, a verter sangue.
Ai está tipicamente, a chamada caça de Fila.
Como a gente acabou de ver, a bicharada, sempre passou dificuldades com a dupla terrível - homem e cão. Aquele sempre a remexer com a cabeça, acabou um dia, a descobrir que, um amontoado de rodelas de cobre e zinco, separados por um isolante elétrico qualquer e submerso o conjunto em uma solução de ácido sulfúrico produzia eletricidade.
Aí está a pilha. Para cá o processo se afeiçoou até chegar às atuais lanternas. Após esta descoberta, o homem passou a ter mais uma alternativa.
Já não apenas caçava, mas também esperava. E o que é a espera? É simples de explicar e, ao mesmo tempo, difícil de aceitar a covardia do homem.
Os bichos, aterrorizados com a famosa dupla, passara a ter o hábito de buscar o alimento, para sua sobrevivência durante a noite. O homem conhecedor das espécies vegetais que servem de alimento às caças, a exemplo da flor da caraíba, do pequizeiro, da fruta do tarumã e sem contar algumas dezenas de outras plantas, sabe onde deve fazer a espera.
Há um provérbio que diz: “Um dia do caçador, outro da caça”! Disto já dei conta, muitas vezes.
Um uma das feitas, por contingência, fui obrigado a prestar socorro a uma vítima de um episódio sangrento, travado entre homem e caça. Neste, o homem saiu levando a pior. Ele excitado, pela visão inusitada de uma vara de caititus, precipitou-se em fazer tiro sobre os animais. Aconteceu que a espingarda calibre 32 orientada no rumo dos porcos selvagens, foi acionada, e, daí, ao invés do tiro sair pelo cano, voltou o cartucho pela culatra, indo contra a cabeça do franco atirador. Vi a mistura de fragmentos do cérebro e sangue. Tentei retirar o acidentado do meio da roça, donde se encontrava. Sua cabeça pendida, em uma touceira de cana, me afigurou um verdadeiro quadro tétrico. Duas horas depois, ou pouco mais do acidente, o homem passou de uma vida a outra. Entre vários fatos, que permanecem em minha memória, ficou a lembrança de comentários que se faziam referindo-se a um parente meu. Este, um dia foi caçar. Aconteceu que ao aproveitar a luz tênue da lua para fazer fogo na caça que teria vindo saborear os frutos de uma árvore - o fez em seu cão. Era sabido por todos, que este senhor tinha um desvelo especial por um pequeno cachorro, de cor preta, criado com muita estimação. O animalzinho, levado pelo bom faro, seguiu a seu dono. No lusco-fusco da luz, misturado com o sereno da noite, por um momento, o cachorro passou a ser paca. E, recebeu na cabeça uma pesada carga de chumbo. O esperador, presunçoso, desceu da mangueira, para apanhar a caça.
Grande foi sua dor ao verificar que, ao invés de ter matado uma paca, havia liquidado o seu mimado cãozinho - Veludo.
18/4/1980.

AVE DA PAZ

Nos dias de hoje, muito se fala em ecologia. Esta é por certo ciência que busca responder as indagações, relativas ao equilíbrio da natureza.
O equilíbrio a ser mostrado, relaciona-se aos dois reinos da natureza: animal e vegetal. A depredação de um reino ou de outro, sempre se verificou na face da terra.
Como ainda, hoje, se dá; e, de futuro, irá acontecer.
Os animais, se alimentam de vegetais. É bom dizer que também há vegetal que se alimenta de animais. Esta depredação se estabelece também dentro de um só reino. Animais a devorar outro e vegetais que parasitam outras plantas.
O equilíbrio ecológico, é o fiel da balança, que trás uma possibilidade de o homem viver bem, na face da terra.
Por falta deste equilíbrio, por vezes, determinadas espécies de vegetais e animais se extinguem.
A manutenção da vida nos reinos, dependem muito do modus vivendi, de cada espécie. Este modo de vida, é um relacionamento necessário entre os seres. Por exemplo, o homem, as abelhas e as formigas vivem em sociedade. Equivale dizer: animais da mesma espécie, que se locupletam mutuamente, e vivem juntos.
Existe a simbiose, neste caso, são animais de espécies diferentes que buscam benefícios mútuos. A exemplo se vê. O pequeno pássaro pluviano egípcio que, ao lado do crocodilo, busca uma convivência pacífica. O crocodilo alimenta de peixes e outros animais. E, por vezes se sente incomodado com os resíduos de alimentos nos seus interstícios dentários. Este fato, o leva a abrir a sua bocarra, para receber em seu interior o pássaro, que lhe trará o alívio desejado. E, ao mesmo tempo, se satisfazendo com a ingestão dos referidos resíduos.
Reforça-se aqui a simbiose, através de outro exemplo: o pulgão e a formiga.
Passando para outra forma de vida, lado a lado, a de referir-se o que se chama de bando.
Neste caso, os animais são da mesma espécie. Mas, sem que haja, contudo, uma troca de benefícios: as araras, renas, gazelas, e, ainda, gado de várias espécies. Outro exemplo a citar é dos pombos. Estas aves têm uma apologia toda especial. Vez que, tem a sua sobrevivência garantida, através de uma farta proliferação. Não fosse isso, já seriam uma espécie extinta. Porque são as mesmas vítimas de um enorme processo de depredação. Especialmente, pelas aves de rapina.
O lado científico e didático do exórdio, no momento, não interessa. É mister dizer, que sobre esta espécie animal, muita coisa pode ser acrescentada.
Senão, vejamos o que se pode falar sobre os pombos. Constam da Sagrada Escritura o dilúvio, dele a figura de Noé, com sua família, e os casais de animais.
E ainda a arca como meio de salvação. Deste evento, fez parte a soltura do corvo. Após o dilúvio, o mesmo foi solto e não mais retornou.
O pombo que em liberdade sobrevoou as águas, voltou à arca, trazendo em seu bico um raminho de oliveira. Este fato foi um sinal importante para Noé.
Também, deu esta ave uma demonstração clara de sua vontade de proliferação. Uma vez que a mesma trouxera o galho que se destinava à feitura do ninho.
Sob o aspecto religioso, a Trindade Divina: Pai, Filho e o Espírito Santo em um só Deus em três pessoas. O Espírito Santo manifestado ao homem, em forma de um pombo. Daí, concluímos - esta espécie animal significa muito para a humanidade.
O pombo tem sido, o símbolo da paz e do amor. Para o homem, é o modelo da dedicação do casal - o carinho.
A manifestação de afeto, é um exemplo bom para ser seguido.
As pessoas que se dedicam a criação carinhosa destas aves, são os columbófilos.
Várias são as espécies de pombos; as comuns que vivem cercando as moradias dos homens, a jurití, tão famosa pelo seu arrulho triste, a torquás de peito carijó e bico cor de acre; a do bando, assim chamada pelo seu agrupamento intenso. A mato-virgem, pelo seu cantar triste e sonoro. Há as pequenas rolas: caldo de feijão, assim denominadas pela sua cor. Cita-se ainda a rolinha carijó, também conhecida por fogo apagou. E, por último, lembra-se aqui do pombo correio, capaz de retornar a sua morada, quando conduzido a milhares de quilômetros.
O seu sentido de orientação é sem paralelo, comparado a outras aves e mesmo ao homem desprovido de aparelhos.
O grau de civilização de um povo, revela-se pelo cultivo à criação destas aves.
Haja vista, que em Brasília, na praça dos Três Poderes, se erigiu um pombal. A exemplo de Paris, Londres e outras muitas capitais, importantes do mundo.
No momento, é de praxe que as grandes festas e as grandes manifestações de alegria de um povo, se revelem de muitos modos, mas sem esquecer jamais, uma revoada de pombos; A AVE DA PAZ.
3/4/1980.

OBSESSÃO
É mesmo realmente incrível o ocorrido a poucos dias numa velha casa sede de fazenda. As pessoas que ali habitam estavam estarrecidas.
Diziam que, na noite anterior, a moça Márcia, habitante daquela velha moradia, contudo ter físico débil, havia se transformado em um verdadeiro pandemônio.
Que, no mínimo, seis pessoas afeitos a trabalho duro no campo, portanto, dotados de muita força, tiveram a necessidade de segurar a moça. Esta, tomada de um espírito mau, perdera a sua docilidade peculiar e se transformara em um ser bruto.
A sua agilização se fazia acompanhar de impropérios. Acusava seu irmão de covarde, exigia dele que lhe vingasse a morte, verificada há anos em um município do Estado de Minas Gerais.
Os assoalhos antigos e parcialmente destruídos, da velha casa, rugiam sob o peso incontrolado, das pessoas que lutavam tenazmente, no afã de controlar a referida moça. Esta, tomada pelo espírito endemoniado, tinha em si mesma a transformação da sua constante meiguice, candura, em um monstro agressivo. De um salto, ela atingiu o alto de um guarda-roupa, e dali apanhou um litro de gasolina que se espatifou no chão.
O espaço, para aquela singular luta havia se reduzido ao cômodo de dormitório. Após uma peleja de horas, aqueles rudes trabalhadores braçais haviam, com dificuldade conseguido fazer com que o corpo de Márcia demonstrasse inteira exaustão. Ela colocada em um leito apresentava no momento, uma tranquilidade que denunciava a liberdade de seu corpo, pelo afastamento do espírito obsessor.
Naquele instante se fizeram ouvir vozes no exterior daquela residência. Ai as pessoas deixaram Márcia adormecida e foram ver o que se passava lá fora, onde a escuridão marcava, com muita força, uma deplorável impressão a todos. Quando constataram que lá não havia ninguém. Regressaram, ao quarto. Márcia pelo seu espírito obsessor, soltou uma risada diabólica e criticou as pessoas presentes, como ingênuas.
A esta hora, afirmou que deixou o corpo de Márcia e pelo lado de fora da casa, proferiu vozes a fim de que dessem liberdade à moça; para que conseqüentemente, também, pudesse gozar desta mesma liberdade.
A obsessão, assim como começou, terminou.
Márcia revelava um estado de angústia, forte dor de cabeça e um tremor convulsivo a percorrer todo o seu corpo.
Há muitos e muitos anos que, em Minas Gerais, se deu um delito assaz fatídico - Nenzico que na tenra idade de doze anos, assassinara com uma arma branca - enorme canivete, marca corneta - um chefe de família, pai de seis filhos. Bem posteriormente, Nenzico já casado e pai de numerosa prole, assassinou o seu próprio sogro e mais um cunhado. A arma deste episódio sangrento, foi uma faca. Nenzico, após ter liquidado os seus familiares, abandonou o local do crime. Com o instrumento e as mãos tintas de sangue, dirigiu-se pela estrada que conduzia à sua casa. À meia distância, junto a uma encruzilhada, foi encontrado o corpo de Nenzico, trespassado por uma faca e com a cabeça quebrada a pau. A versão apresentada à justiça, foi de que se tratava de suicídio. Segundo fazem constar, as pessoas que residem à fazenda onde Márcia mora, o espírito de Nenzico busca vingança, de sua morte, pelos cunhados.
Para tanto, procura tomar posse do corpo de seu sobrinho, um irmão de Márcia. Frente a resistência encontrada, apossa-se desta pobre moça. Dizem mais que, ele na condição de espírito errante, está sempre a asseverarque não encontra lugar algum para descansar. Sofre muito, sem que encontre um ponto qualquer, aqui ou alhures, para poder ficar, e conseqüentemente, poder descansar.
21/07/81.
PASSEIO À PETRÓPOLIS
Atualmente, ignoramos de modo completo o que seja, nos dias atuais, a cidade fluminense de Petrópolis.
Abrindo o baú velho da nossa recordação, reportamos aos idos anos, da década de quarenta.
Aí encontramos, na (velha) lembrança, um passeio que foi uma coisa nova e interessante.
Ao subir a Petrópolis, sentimos a presença silvestre das matas na Serra do Mar. A sua exuberância, no porte e intensidade da vegetação, nos deixou com a impressão de um paredão verde e compacto, que se erguia a nossa frente.
De algum ponto qualquer víamos, à grande distância, o dedo de Deus; formado de um monolítico, que a milênios resiste aos efeitos naturais da erosão.
A estrada sinuosa e acidentada, deixava a impressão de que fôssemos a um mundo completamente diferente daquele que havíamos largado. Ao nível do mar, ficavam para trás, a bela cidade do Rio de Janeiro e Niterói.
A pista asfáltica, delineada pelos meios fios, por vezes parecia mudar de cor. Era como se fosse o dorso de um animal escuro, banhado por intensa neblina. Do meio da mata, intrincada, surgiam rochas alcantiladas, com a projeção de enormes penedos.
-Destes, escorriam águas, em sucessivas cascatas. Na vegetação, eram notadas as freqüentes samambaias e rasteiros pés de moranguinhos. No topo da serra, a neblina se transformava num nevoeiro forte, que se fazia necessário manter os carros com os faróis acesos, em pleno dia. Na entrada da cidade de Petrópolis, à esquerda da rodovia, e a pouca distância, ergue-se o antigo Cassino “Quitandinha”. Obra esta impossível de ficar desapercebida, vez que, além de monumental, tem aspecto completamente diferente dos convencionais. Seu estilo, lembra as construções européias. Mormente, as dos países baixos.
A cidade não nos deixou qualquer impressão, que pudéssemos dizê-la forte.
Lembramos, no entanto, como de modo inesquecível, da casa da Família Real, transformada em museu. Lá são vistos os pertences familiares. O berço da princesa Isabel, onde a mesma dormiu até a idade de 9 anos, a coroa de Dom Pedro; cadeiras, tronos, cetros. Enfim, tudo se torna ainda mais vistoso, através do grande brilho do piso, uma vez que todas pessoas que visitam-no recobrem os seus sapatos com enormes chinelos de flanela. Este fato, tem um toque ao mesmo tempo ridículo e gracioso. Pois os visitantes praticamente não andam, mas patinam pelos imensos salões do velho casarão, da família imperial.
Daquela época, mais um fato nos deixou perplexos.
Pois, no momento, a saúde das pessoas nem sempre constitui preocupação, quando, naquele tempo, decorridas mais de três décadas, lá em Petrópolis, organismos oficiais, ligados à saúde pública, já cogitavam da defesa sanitária das pessoas.
Moço ainda tivemos uma aventura amorosa. Lembramos que a pessoa que se propôs a ser nossa companheira, por alguns momentos, se encontrava em prantos. As casas de prostituição daquela cidade, tinham visita médica obrigatória, semanalmente. Os profissionais, por vezes, não eram necessariamente delicados com as mulheres examinadas. Desse encontro, tivemos conhecimento do fato, que acabamos de narrar.
Logo após, deixamos a cidade que fica no topo da serra, retornamos à grande metrópole do Rio de Janeiro, que mais uma vez, nos recebia. Em seu rosário de luz.
04/1980.

ESTÓRIAS QUE NÃO ASSUSTAM
O interessante se deu em nossa casa de campo. Aliás, em nossa residência, de muitos anos.
Em certa ocasião, nossa filha, ainda menina, ganhou um pintinho. Este provinha de uma estirpe chamada papuira. O pintinho, tornou-se tão acostumado com as pessoas da casa que era para todos um verdadeiro bibelô.
Não demorou muito, para que o mesmo aprendesse a subir em nossa cama de casal. Por vezes, a gente acordava com a movimentação da pequena ave. Esta subia ao topo de nossas cabeças e procurava aninhar-se, entre os cabelos de minha esposa.
Preferia estar com a gente, a ficar na caixa de sapatos. Onde nós o púnhamos, para dormir.
Com o correr dos dias, naturalmente, o pintinho foi se transformando a frangote e, pouco mais em frango.
Nessa faixa etária, o mesmo, não mais nos atendia pelo nome de Tute. Assim, como afastou-se definitivamente da gente. Nem por isso, nós passamos a gostar menos dele.
Agora, já o admirávamos, pela sua beleza. Vez que, o mesmo, passou a ter uma plumagem linda, como se fosse raios de sol. Em suas asas e cauda viam-se cores de anuâncias diversas.
O bonito galináceo, já adulto, não apresentava ainda suas esporas. Estas eram, apenas protuberâncias que insinuavam. Por esta ocasião, nós nos encantávamos ao ver o frango, que se transformava em galo. E, com pavonices, procurava o plantel das galinhas, para efeito do amor. Outras vezes, nosso deleite era vê-lo querer soltar os seus primeiros cantos.
Quase sempre, não passavam de som espremido e sem graça. A sua voz era rouquenha e sem beleza.
Foi nesta época, que minha esposa testemunhou um fato novo. Este se deu no quintal, que se estende frente a cozinha da casa. O galo acercou-se da pata, uma entre muitas que nós criávamos. Ai começou a galanteá-la. De tal modo, e insistência, que acabou por possui-la, totalmente.
Esta fraqueza, da pata em se deixar levar no bico pelo vistoso galã, motivou a maior polêmica da estória. Visto que, no momento exato da ocorrência do crime de sedução, o pato, se aproximava e pegou os dois no flagrante. Chamado por minha esposa fomos testemunhas da discussão. Só mesmo que viu, para crer. Pois, tudo fazia lembrar as pessoas, quando discutem, por haver motivos altamente relevantes e capazes de levar à via de fatos.
O pato, mostrando-se enfurecido, grasnava, frente a companheira infiel. A cauda em riste demonstrava enorme excitação. O seu grasnar à companheira levada, dava plena conotação de um libelo acusatório.
A patinha, massacrada pelas acusações, em dado momento, tomou a postura de quem se defende. Tudo, indicava que a defesa houvesse sido muito eficiente. Mostrou-se vítima de um crime hediondo de estupro. Revelava não ter tido a menor culpa. Pareceu dizer que o galo não quis saber de nada, se ela queria ou não o amor. Tudo dizia, ora olhando para o companheiro, ora olhando para o galo que se mostrava esquecido de sua culpa em cartório. Um tanto distraído, com a briga do casal. A pata deixou claro que o ocorrido foi à força. Neste exato momento, seu companheiro, já estava possesso de raiva. Sua cara era um amontoado de borrões, da cor de lacre. Subitamente, deixou de lado as acusações peremptórias, que descarregava na infiel companheira, e partiu, grasnando, com muita fúria, contra o galo. Este, se desfez de seu contendor, correndo. Alegre e altivo, para junto de suas companheiras - as galinhas.

05/04/1980.
A CIDADE DE GOIÁS

Antiga capital do Estado representa hoje, assim como aconteceu por todos os tempos de sua própria história, uma cidade carregada de um magnetismo forte, atraente e irresistível. Quem a conhece, faz de seu coração um sacrário. Marca, em sua lembrança, um pensamento ligado a vestuta urbe, que tem o dom de sensibilizar as pessoas, com sua perene recordação.
Em seus muros e em seus casarões antigos, muitos deles internamente remodelados, e suas ruas pavimentadas com enormes pedras irregulares, a cidade mantém um presente, com as marcas indeléveis do passado. O centro, atualmente, bem urbanizado, marca a presença do progresso. As suas ruas, becos e largos da periferia tem a carga fluídica do passado. Impossível deixar de lembrar os nomes das vias e praças, na cognominação dada pelo povo. De lembrança, estão ai, Rua do Carmo, D’Abadia, Largo da Força, Beco do Cotovelo, Rua D’água, da Pedra, Nova e do Liceu.
Da antiga Capital, poucos quilômetros antes da gente adentrar-se a ela, a vista de quem está à pequena distância, do arraial de Areais, tende-se a dirigí-la à esquerda. De onde se vê vales sucessivos e profundos. E do modo marcante, a beleza inesquecível do contra-forte do Serra Dourada. As nuâncias policromáticas, são o ponto alto da admiração de todos. A intercalação de luz e sombra, da cor esmeraldina das matas, ao cinza escuro dos penedos alcantilados, provoca o embevecimento, pela beleza grandiosa e ímpar. O encontro com a cidade, se dá no sussurro das águas do Rio Vermelho.
Ao rever as pessoas conhecidas e amigas, nossos sentimentos se amainam, com a cortesia de todos. Estabelece-se ai um calor humano que, jamais pode ser olvidado. Os afazeres da população parecem não prejudicar a boa convivência. Sempre há lugar para um bate papo, informal e amistoso. A cidade parece carregar consigo a presença de um passado remoto. Época em que, grande número das moradias, tinha em seus salões a presença constante do piano. A aristocracia e cultura do povo se generalizavam.
A alegria e faceirice de lindas moças eram uma ocorrência natural de sua vida citadina. A postura fidalga das pessoas idosas, se impunha.
Os domingos e dias festivos davam à cidade mostra da religiosidade de seu povo; inúmeras igrejas se tornavam repletas de pessoas contritas. A civilidade da gente vilaboense, se revelava pelo grande gosto à música. A praça principal, com seu Coreto, lotava com presença de jovens namorados. A Cidade de Goiás não é isto apenas. É um lugar de recordação e tradição. O arraial de Santana, mais tarde Vila Boa de Goiás, simbolizado na Cruz do Anhanguera, deu lugar para se fazer o centro cultural de um povo. Grandes vultos, surgiram no correr de sua história: - Insignes jurisconsultos, filólogos, políticos, militares e poetas; destes, o mais famoso foi José Bonifácio de Siqueira, autor de “Noites Goianas”; ainda literatos e pintores.
Somos obrigados a reconhecer que a antiga Cidade de Goiás foi à escola preparatória para a formação dos homens, que deveriam dar o destino ao Estado.
Goiânia, a nova capital, nasceu e cresceu sob a égide ditada pela vestuta cidade de Vila Boa. Quem teve o feliz momento de ler uma das obras de um autor de contos regionais, do nosso Estado; Bernardo de Guimarães, se sente enriquecido no conhecimento da Velha Capital. Quando o citado autor escreveu “O Ermitão do Muquém”.
Esta narrativa, versa sobre um tal mestre Mateus. Que exerceu sua profissão de ferreiro, no Arraial de Santana. Deste conto se depara a briga entre dois jovens valentes, Gonçalo e Reinaldo. Por causa de uma doce donzela, de nome Maria.
Ainda hoje, a poucos quilômetros da cidade, existe um lago, com o nome de “Lagoa Reinaldo”. Neste lugar se deu o encontro fatídico, dos dois referidos mancebos. Vez que ali foi morto um pelo outro, levado por uma grande paixão, pela linda Maria. Gonçalo, após assassinar seu contendor, fugiu às longas paragens do Muquém. Redimindo-se de seu crime, tornou-se um eremita, que na descoberta de uma imagem de Nossa Senhora, veio a dar a tradicional Romaria do Muquém.
Esta estória, não terminou ai. Assim, como nenhuma outra história tem, realmente, um final. Vez que o presente, se encarrega de fazer outras novas.
E assim, como a Cidade de Goiás desempenhou um papel preponderante no passado, o faz no presente. Um outro que merece ser escrito, com letras de ouro, a história da Cidade de tantas recordações, que é Goiás.
04/1980.
PORTA CAPEMA
Há sempre uma impressão nova e boa, ao descansarmos os olhos sob as páginas de livros de História Universal. Principalmente, quando esta versa sobre episódios ocorridos longe de nós, no tempo e no espaço.
Roma, hoje capital da Itália; país ocupando a porção geográfica da península itálica, acrescida da ilha Sicília e outras, foi a cidade-estado fundada em 753 anos A.C., segundo a história. A sua fundação se deu por vontade e trabalho de dois irmãos: Rômulo e Remo.
A pequena Cidade, na época de sua origem, distanciava do mediterrâneo 18 Km. Construída às margens do rio Tibre, junto às sete colinas. Após algumas centenas de anos a pequena aldeia já se havia transformado em uma cidade-estado; naturalmente, como as demais de seu tempo, cercada por enormes muralhas.
Estas visavam fazer defesa das comunidades circunscritas por elas. Meio buscado para a proteção contra povos belicosos, a exemplo dos hunos, visigodos e vândalos etc.
As guerras, sempre foram uma constante naquele tempo, entre as cidades. Difícil era a paz. Os romanos, não fugiam a esta regra, razão pela qual dilataram as suas divisas políticas. Construíram um vasto império.
Grande parte da Ásia-Menor, e de outros países, banhados pelas águas do Mediterrâneo, ficaram sob o domínio do governo de Roma. A exemplo disto: A Palestina, à época do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, se encontrava sob o jugo do cetro romano.
De muitas pelejas entre o governo de Roma, com outros povos, a mais singular de todas, foi àquela precedida por um trabalho diplomático entre Roma e Alba. As duas cidades-estados, se opuseram em forma de guerra. O trabalho preliminar do referido conflito via de uma ação diplomática, foi sublimada com um acordo sui generis. Deste entendimento, se estabeleceu que dentre todo o exército romano fossem escolhidos três soldados, em melhores condições de vitória. Este mesmo processo foi usado pelo exército albano.
Em resultado, os romanos escolheram três irmãos Horácios; e por parte de Alba, três irmãos Curiácios.
Por força de entendimento entre as duas partes, a luta dar-se-ia fora dos muros de Roma.O espetáculo foi grandioso! Uma vez que os dois povos se empenhavam e torciam com ardor pela vitória de seus representantes. A luta, teve começo.
No primeiro encontro, os três Albanos ficaram feridos e dentre os irmãos Horácios, dois morreram, e um ficou com vida e ileso. O povo de Alba regozijava, a iminente vitória.
Os romanos sentiam grande dor a dilacerar seus corações. Momento em que estrategicamente, o sobrevivente dos Horácios, partiu em debalada carreira.
Este fato, cobriu de vergonha os romanos. Eis que o representante dos mesmos, ligeiramente, olhando para trás, notava que por força dos ferimentos, os Curiácios passaram a guardar boa distância entre si, ao procederem à perseguição do último dos Horácios. Este fez uma parada brusca. E voltando-se de imediato, abate o primeiro, o segundo e por fim, o terceiro e último de seus adversários. Para os romanos, a dor e a vergonha se transformaram em alegria. A alegria dos albanos, em grande pesar. Os romanos se confraternizaram. E, no auge da euforia, carregaram nos ombros o seu herói. Recomeçaram a caminhada em direção à cidade de Roma. E enquanto se movimentavam, iam em direção a uma de suas inúmeras entradas. Foi eleita a Porta Capema, por onde o cortejo alegre, penetrou à cidade. De seu centro, vem ao encontro da turba, uma bonita mulher. Esta era irmão dos Horácios e noiva de um dos Curiácios.
Ciente do resultado, espavorida, gritava pelo nome de seu noivo falecido.Seu irmão, no momento, o grande herói, representante inconteste de Roma, ao assistir a cena, pôs-se de pé, e desembainhou a espada e disse: -Tu esquecestes teus irmãos mortos e a mim! Por isso, vais encontrar o teu noivo!
Sem piedade, traspassou-lhe o corpo. Aos brados, dizia: Assim morra todo aquele que chorar um inimigo de Roma.
3/4/1980.

SONHO
Experimentou, a noite passada meu espírito, a mais estranha e deliciosa sensação. Tive um sonho - senti que estava acompanhado de uma moça muito bonita, e tentadora.
As nossas almas tocadas pelo mesmo sentimento de simpatia e gosto. Penetramos o interior de uma casa, em sua fase final de construção, atravessamo-la toda sem sentir... E fui me colocar em uma areazinha dos fundos, no segundo pavimento da obra. Da posição em que tomei, via-se bem a cavaleiro a dependência da construção, um banheiro e mais alguns cômodos. Ia em direção ao banheiro minha companheira. Somente nesse momento foi que notei já não mais tê-la junto a mim. Entrou. A porta permaneceu cerrada como dantes e meus olhos quiseram penetrar a sua opacidade. Neste momento chame-me a atenção a pessoa de um preto, que se dirige para lá, com uma toalha às costas. Podia bem eu pensar que ele ignorava estar a mocinha tomando banho, mas, isso não se deu. Não sei como tive essa impressão... Empurrava o negro levemente a porta e numa faixa de luz, que se projeta de dentro do banheiro vejo então, a figura do audacioso. Não faço nada, fico imóvel simplesmente estático. Espero um grito de horror, pedindo socorro. Espantoso, nada ouço por alguns segundos, senão quando cortando o silêncio ouvi uma voz dizer - ai.
Sem estar com medo, nem ira, talvez um pouquinho de indignação, gritei! - Tem dois minutos para sair daí, dirigia-me ao intruso, mas lembrei, logo, que dois minutos seria muito tempo e o suficiente para muita coisa... Tornei, então, a gritar saia imediatamente.
O crioulo não mais vi e nem tampouco, lembro-me de ter entrado no banheiro. Todavia, em compensação recordo-me perfeitamente de ter carregado desfalecida em meus braços a minha companheira. Ela era a concretização do belo, a escultura de uma menina de quinze anos, ressaltando a beleza de uma mulher nua. Meus lábios, trêmulos no delírio do amor, pousaram na auréola clara de um seio morno.
09/03/1951





PARTE II
RICARDO CALIL FONSECA
L A B A R E D A S
As labaredas ardem
Na infinidade do tempo, parece
Na latitude do peito
Do sucumbido à paixão.

Por fim fenecem,
Ou se perenes tornam,
É com a brandura,
Do veraz amor!
26/10/96
NÃO ME DEIXE SÓ!
As boas coisas de nossas vidas demoram bastante para acontecer. Pra arrumar a primeira namorada, por exemplo, esperei longuíssimos dezessete anos. Pra adquirir uma, muito relativa independência financeira, trabalhei por trinta e quatro anos. Mas com as coisas ruins é diferente. Não há mora, surgem de repente, inesperadamente. É como a notícia algoz, que viaja rompendo há muito, a velocidade do som. Já com meu calo foi diferente. Adquiri o primeiro já com meus trinta e três anos. A princípio, não sabia bem o que era, aquela pequena protuberância saída do nada, mas também, senti que não era de todo ruim. Existe um quê de bicho de pé no calo. Tratamos dele com carinho, que às vezes diminui, às vezes cresce, impedindo que nos esqueçamos dele. Tem também nossa cumplicidade com o callu, que escrito em latim parece expressar melhor sua forma, um sentimento único. Numa cerimônia de casamento, por exemplo, todos formais, ao o som do órgão de fole, meia hora de pé, a noiva atrasada, lá está ele, latejando, constrito na justeza de nosso sapato domingueiro. Às vezes ocorre também que, após um dia exaustivo, ao nos deitarmos, nos despedindo de todos os problemas do cotidiano, ele nos reclama e chama, para um solene “enfim sós” ao seu pulsante modo. Já me disseram de intervenção cirúrgica, mas é muita crueldade, ele não merece tanto, e hoje, resignado, para meu calo falo, com cacófato mesmo, como a última súplica de um ex-presidente da República: Não me deixe só!
7/9/99.
CRENÇA E FANATISMO
Louvado seja o inciso V do Art. 1º da Constituição Federal, pois este preceptivo garantiu a liberdade de consciência e de crença. Sem esta liberdade, não haveria harmonia e paz entre nós brasileiros e abrasileirados. Mas é preciso que aprendamos a interpretar o verdadeiro sentido desta liberdade.
A liberdade, como direito que é, termina exatamente onde começa a de outra pessoa. Daí que, precisamos conhecer em que se funda nossos pensamentos, derivativos de nossa consciência, e nossa fé, originada da crença, pois só assim, saberemos os limites de nossos direitos, para que não violemos e sim respeitemos os direitos de outrem. Crença sem conhecimento é obviamente ignorância, e vai daí ao fanatismo, um pequeno passo.
A crença religiosa, por exemplo, quando se transforma em fanatismo, nos mostra como é desagradável, pois a pessoa dele acometida, do mal da obtusão, fala em monocórdio, sem aceitar opiniões ou oposições, ministrando goela a baixa do interlocutor, o que acredita ser a verdade absoluta.
À guisa de exemplo, tomemos o caso da Maçonaria. Ainda hoje, sabemos que alguns isolados grupos religiosos fazem verdadeiras campanhas contra esta belíssima instituição, por mera ignorância, por absoluta falta de conhecimento de causa.
Não seria necessário para tanto, adentrar em seus trabalhos internos, como não seria ético ou sequer permitido que qualquer um de nós, nos adentrássemos numa confraria papal, numa reunião administrativa de pastores, numa conferência clerical.
Bastaria simplesmente, ao infenso à esta filantrópica instituição, buscar a história, para conhecer qual foi sua obra. Analisando a conduta de seus integrantes, a primeira coisa que vai descobrir, para sua surpresa e maior inquietação, é que a maioria esmagadora de seus componentes não apenas possui, mas segue uma religião. Ou seja, tem Deus como norte e parte de sua vida.

Verificando historicamente o trabalho da instituição, verá ainda mais estupefato, que a discrição de seus membros, impediu que soubesse pelos noticiários da TV, ou pelo rádio, que ela participou ativamente dos principais eventos histórico-evolutivos de nosso e de outros países.

Limitando-nos a uma amostra, bastaria que o ignorante, no sentido literal da palavra, tirasse uma pequena parte de seu tempo, e na leitura da obra clássica do francês Alexandre Dumas, 'Memórias de um Médico', verificasse a inequívoca participação desta instituição, na revolução francesa.
Terá surpresa ao ver, no Brasil, que por trás de cada feriado cívico, ali esteve seu disciplinado trabalho. Foi sempre defensora intransigente da liberdade, igualdade e fraternidade. Terá também acesso, se dispondo à investigação dos fatos, a várias outras pesquisas históricas, revelando sua luta em prol do progresso da humanidade.

É por isto, interessante, antes de criticarmos qualquer instituição, seja ou não religiosa, que a auscultemos, a investiguemos a fundo e à forma, para que, a partir de uma insinuação, uma deturpação, não vá se propagando injustamente, o pré-conceito, o julgamento, que não soa bem, sobretudo se proferidos por pessoas que se encontrem na condição de capelães, seguidores ou pregadores da palavra de Jesus.
15/12/99 - Ricardo Calil Fonseca - Bruno Calil Fonseca

FESTA DE AGOSTO
Mas que avião velho! Não nos contemos mesmo, e medo à parte, lá estávamos nós, comprando 10 minutos de inusual emoção. Os que acabavam de chegar do vôo estavam maravilhados e colocavam-se a incitar os presentes, não pouco receosos a imitá-los. Alguns redargüíam: Nesta lata velha eu não entro! Ao insinuar a meu filho primogênito de que o levaria, caiu em prantos, e nem por dinheiro, que seu tio ofereceu, se dispôs a entrar na aeronave, mostrando discernimento, apesar da pouca idade, 2 anos e meio, justificando: “ele cai com mim!”
Após 12 tentativas contadas, do piloto para funcionar o aparelho, finalmente (na 13ª) explode a gasolina especial, fazendo roncar o barulhento motor. Sentei-me no banco de trás e, cintos apertados, o avião sai sacudindo a cauda para os lados, pela pista sem asfalto. Manhã de agosto, sol frio, as latas batiam, a poeira subindo, meu coração batendo - acelerado. Esticando o pescoço, vi estendida sobre nossa frente, toda pista vermelha de terra. Observei o painel repleto de botões e ponteiro que indicavam agora, toda a potência do motor e o piloto foi liberando o aparelho, que começou a devorar em segundos, aquela tira vermelha a nossa frente. 60, 80, 120, 140 quilômetros por hora; a pista acabando, a barriga esfriando, com a guinada abrupta, leve e solta, para o ar, para o céu. Decolamos. Lentamente vamos nos desgarrando deste ímã incansável, que tudo cola em sua superfície heterogênea, composta por árvores, casas, rios, lagos, pessoas... Furtei-me a uma olhada pela janela obtusa, verde-escuro o seu vidro, com muita acuidade, como se contribuísse para a sustentação daquele trambolho no ar. Vi Itaberaí pequenina, mais do que parece ser, diferente, interessante, e pensei que, certamente será assim que Deus tudo vê, de plantão lá de cima.

Findo o tempo de nosso vôo panorâmico, o piloto baixou o giro do motor, e perdemos altitude rapidamente, fazendo com vagar um cento e oitenta graus, para alinhar o aparelho à pista. A extremidade de uma asa, do meu lado, apontou para terra, ao tempo, que a outra apontava para o céu do meio dia. Não gostei daquela posição, a asa apontando para a terra, desafiando a gravidade, e minha coragem, ou meu medo, não sei.
Avistamos o campo de pouso. Tocamos sua superfície poeirenta em alta velocidade e, num prisco, vivenciei lembranças de nosso velho fusca, que invariavelmente se recusava a parar, com seu ineficiente sistema de freio.
A cauda do monomotor não parava, querendo escapar para qualquer dos lados; fiquei transido; o piloto levanta-se do assento, vertendo todo seu peso sobre o pedal de freio, comprimindo-o com força. Vendo finalmente dominado o serelepe aparelho, sapeca: - Valeu? - Valeu!
08/1992.
MACONHA
Expondo a um filho, de 9 anos, sobre a nocividade de alguns produtos alimentícios industrializados que consumimos, em decorrência da química que os compõe, e por isto, da vantagem de adquirirmos produtos imunes a estes elementos, sensibilizado ele completou: é, mas a maconha também é natural né?
Perfeitamente natural como é natural que alguns formadores de opinião pública apregoem isto utilizando os meios de comunicação, levando a crer que, por isto, ela não faz mal.
Mas surgem daí, algumas indagações. Será que é natural inundarmos nossos pulmões, afeitos ao ar puro, com golfadas da fumaça de maconha? Poderemos comparar o chazinho calmante e aromático da vovó, com o alucinógeno, enlouquecedor chá de cogumelo?
Infelizmente, muitos de nossos cérebros, regidos pela lei do menor esforço, têm séria tendência de generalizar tudo. Assim acha-se às vezes que todo produto que consumimos, por ser natural é bom. Admite-se que a cocaína, o crack, por exemplo, são ruins, porque contêm pesada química na composição.

Mas com a maconha é diferente... uma planta multiuso, e natural! Faz menos mal que os cigarros dizem, em apologia a ela. É assim que, alguns artistas, com acesso à mídia, e que muitas vezes respeitamos como profissionais, a defendem, levantando bandeira da descriminalização, sob a égide da paz e do amor, de uma especiosa comunhão da fumaça.

Fica um pouco árdua a tarefa de educar, e de explicar que estes ídolos, muitas vezes reféns do fátuo poder de alívio destas drogas, eloqüentes, mas imersos no ilusório encanto da alucinação, se esquecem de catalogar seus efeitos colaterais que levam à própria destruição.
Está cientificamente provado, por exemplo, que mesmo a maconha, erva extraída da natureza, provoca o câncer de pulmão, perda de noção de distância, ocasionando muitas vezes acidentes, depressão, perda de memória e de valores morais, estes que conduzem ao nosso melhoramento.
Isto também é conseqüência natural.
1999.
ITABERAÍ
Uma pedra reluzente relutou,
Mas rolou entre tantas, que jaziam estáticas
Soltas e sempre, sob as águas
Dantes diáfanas e impolutas,
Saracoteando sobre o álveo tortuoso
Do Rio das Pedras.

O seu brilho lucilante sim,
Foi o prenúncio irretratável
Da riqueza de seu povo
Que hoje se torna,
Mais soberano, senhor de seu destino
Na terra, que lhe concede a fartura.

Curralinho, Rio das Pedras Brilhantes - Itaberaí!
Filigranas de uma história
Que não passou em brancas folhas,
Foram preenchidas por lutas, quimeras e mazelas,
Na busca árdua de progresso e desenvolvimento
De sua plaga formosa e fértil.
Tens, embora nova,
Uma cultura latente
Patente em seus concidadãos
Fruto do trabalho contínuo
Profícuo,
Herança dos bons antecessores.

Pisa agora sobre sua terra, um povo fortalecido,
Interligado por laços estreitos
Constituindo, sem contemporizar,
Uma grande família, capaz de fincar novo marco
Determinante de prosperidade, de nosso tempo,
Nossa cidade, Itaberaí!
1992.


DESTINO
O destino, é estrada determinada
Por onde segue o livre arbítrio.

Por ela, uns vão com vagar
Outros lépidos

Há os que optam por nem ir,
E alguns poucos vão voando.
02/10/96.

ESPÍRITO
O espírito é como a água turva
A balouçar por um tempo
Que tem a se desvencilhar
Das impurezas entranhadas.

Quando se vê etéreo
Estanca a própria matéria
E pode correr livremente
Na imensidão da paz.

Os diques existem,
Estão no caminho
Mas na sua hora, vão se rompendo
Desvanecem-se de levante
Ao romper da evolução.
25/121997.

SONHOS

Pensamentos vagos
Borbulham ao som
Das águas do veranito.

Vão e vem num balouçar
Que já vimos
Nas chalanas
Nas barbatanas
Da vida

Assim são os sonhos
Que serenos divagam
E sim nos conduzem
Para a senda,
Da concreção.
09/01/1998.
PARTE III

BRUNO CALIL FONSECA
ANIVERSÁRIO DE ITABERAÍ
Anos de luta que esta cidade viveu. Dias de esperança. Noites de agonia. Vivia-se um clima tenso, a política era o ar que respirávamos.
Desde a fundação deste pequeno recanto de Goiás (antiga capital), esta fora uma região de homens dedicados à cultura. Com orgulho falo de Itaberaí, que em tupiguarani significa Rio das Pedras Brilhantes.
Com uma história marcante, completa 126 anos de renhida luta. O progresso demorou a bater em sua porta, mas quando veio foi como uma explosão, asfalto praticamente em toda cidade, água tratada para suprir algumas décadas adiante, arborização, hospital regional, quase cinqüenta “pivô” centrais e uma outra infinidade de benefícios.
A vetusta cidade viveu dias de glória, representada por militantes políticos a nível federal e estadual. O povo politiza-se, forasteiro vinham de outras localidades para cá. Nos idos anos setenta vivia-se em pleno apogeu com as famosas festas do arroz chegando a produzir um milhão de sacas. Era festa, trabalho com um ingrediente peculiar dos itaberinos, coragem. Cresceu graças a seu povo lutador, não desmerecendo os alienígenas vindos de alhures, quiçá não tivera a mesma sorte. Temos sempre de lembrar as nossas raízes fincadas no campo, com o plantio de arroz, feijão e milho, sem esquecer dos nossos confinamentos e esta grande bacia leiteira. Os ventos sopram liberdade, felicidade e trabalho. Cidade promissora e humana, bem representada no magistério com professores ilustres e diletos. Com tudo isto é a certeza que o futuro será ainda melhor. Se um dia um filho seu quiser ir embora, pode com orgulho pedir que ele fique, pois, esta cidade centenária já foi palco de debates políticos, berço da cultura de homens, que farão em pouco tempo parte no cenário estadual e ou federal.
Itaberaí faz jus ao progresso, e em uníssono gritamos PARABÉNS.
PRIMÓRDIOS DE CURRALINHO
Quero parabenizar os autores e pesquisadores ANTÔNIO CÉSAR CALDAS PINHEIRO e ZANONI DE GOIAZ PHLHEIRO, sobrinho e tio respectivamente sendo que o último deu-me um exemplar de sua obra “Tronco e Vergônteas”.
Um livro que narra os primórdios de Curralinho, depois Itaberaí, fonte de subsídios para os mais moços, para os estudantes de um modo geral. E até mesmo para os pesquisadores das nossas origens.
Uma obra de alto valor histórico, apresentada por nosso primo, o jornalista Jávier Godinho. Mergulhei de olhos abertos na leitura deste grande trabalho literário e conheci parentes. Senti-me enaltecido, página após página.
Diversas passagens de nossa gente de ontem. Passado firme. Com este livro temos um presente valioso e com poder de alcance para analisar o nosso povo, as vergônteas do tronco de um passado verdadeiro para fazer de Itaberaí, terra de orgulho de seus filhos. Parabéns a vocês pesquisadores Antônio César e Zanoni, que dedicaram anos de estudos e pesquisas, desgastando-se fisicamente e financeiramente em busca de nossas raízes.
SAUDAÇÕES AO HOMEM DO CAMPO

20 de junho de 1984.

Publicado no Boletim Informativo do Lions Clube de Itaberaí, em outubro de 1984, no Jornal O Popular e Jornal Notícias de Itaberaí; texto revisado pela ilustrada professora Maria das Graças de Morais.
A primeira festa da Integração Rural do Município de Itaberaí será uma promoção de entidades preocupadas com o descaminho do meio rural: Prefeitura Municipal, Sindicato Rural, uma união em prol do homem do campo.
Itaberaí será pioneira obtendo êxitos na integração social do meio rural e do meio urbano. A festa será amplamente divulgada pela rádio Record de São Paulo, Bandeirantes de São Paulo, Programa Globo Rural Canal 2, TV Brasil Central Canal 13, Rádio Difusora de Goiânia e o Jornal Notícias de Itaberaí que já extrapola os limites municipais.
Esta grandiosa festa promovida pela célula municipal tem o intuito de valorizar o homem bucólico. O pioneirismo desta administração será gravado na memória de todos aqueles que participaram ativamente da Integração Rural ao meio metropolitano.
A nossa cidade promove a evidência do homem campestre em favor do urbano de âmbito estritamente municipal, mas de abrangência da consciência nacionalista. Não só entidades municipais deveriam dar apoio ao pioneirismo de Itaberaí, mas as estaduais e federais, com isso solidificando a estrutura política, tradicional, econômica e cultural do País.
Hoje o homem do campo já está integrado não só à sociedade de seu meio, como também do urbano. De uma época determinada (prefiro não datar), houve o esvaziamento do campo. Não só pela mecanização, mas por uma política errada que desfavoreceu o roceiro e conseqüentemente trazendo os prejuízos já sabidos. A previdência urbana é mais atuante do que a rural que se intitula FUNRURAL, aposentadoria do homem do campo é de mais tempo de idade, o B.N.H, só favoreceu ao homem metropolitano ajudando com isso a explosão demográfica e não como alguns pensam acudindo aos desamparados; tudo isso vem em desfavor ao homem do mato, que hoje ainda, em minoria, vê-se marginalizado. Com o esvaziamento do campo, ficando quase só os proprietários de pequenas e médias estâncias povoando estas áreas, mecanizando o possível e produzindo com o trabalho de um regime familiar. O governo coloca-se numa situação muito radicalista, pois, desestabiliza o homem do campo, ceifando subsídios à agricultura e outros desfavores. Quando se fala do Ministério do Trabalho, que cede um favoritismo exagerado ao empregado rural, esquecendo-se que sem empregador o primeiro estará nas perimetrais da miséria, como todos vêem os cinturões de pobreza que se estendem às margens das vias urbanas. Com isso o funcionário rural, já escasso por falta de necessário respaldo governamental para que estabilize no seu meio, tem só o Ministério do Trabalho que, certamente lhe dará ganho de causa. Então ele passa a reivindicar mais os seus direitos do trabalhar. Forma-se uma nova consciência, a de não trabalhar e exigir mais. O bom apoio do governo tem como única solução plantar menos, mecanizar o possível e dispensar mão de obra desqualificada e inverter a situação da agricultura para a pecuária.
A situação fica cada vez mais séria e este problema é de ordem nacional, os movimentos nacionais iniciam-se nas camadas inferiores até as superiores. Foi com esta linha de pensamento que Itaberaí entranhou com força e vontade na Integração Rural. Aqui, o povo de agora e o vindouro jamais esquecerá os efeitos benéficos desta festa em comemoração da integração do homem dos dois meios.
“Ex nunc” as relações do homem campestre serão sempre melhoradas com a do homem da cidade. Assim diz um pensamento de Benjamin Franklin, se as cidades se queimarem os campos a reconstruirão, porém se queimarem os campos as cidades não mais se reconstruirão.
O municipalismo itaberino está de parabéns, pois, conseguira anular os efeitos negativos dados ao homem do meio rural.
Itaberaí vê-se na obrigação de promover o homem campestre porque salienta-se na produção do milho, arroz, feijão, conseqüentemente uma desenvolvida avicultura, suinocultura e a criação intensiva em pleno desenvolvimento e extensiva de gado vacum com uma grande produção de leite, o alimento da humanidade. O nosso rebanho já ultrapassa a barreira das cento e dez mil cabeças. Os êxitos obtidos em Itaberaí serão revertidos em promoções ao homem bucólico de outras células municipais a caminho do âmbito Federal, fortificando a nação e erradicando discrepâncias ao homem do meio natural, e só nos restando ainda felicitar o homem do campo com uma saudação.

VOTO E DEMOCRACIA


O momento é bastante coerente para se falar no direito de voto, que é uma maneira de exaltar a democracia.
As lutas no processo político para obtenção do voto da mulher, do analfabeto, são vitórias da democracia. A problemática nacional em relação ao voto já é antiga. O povo conquistou o direito do voto popular, livre e, por conseguinte universal. Toda nação volta-se para o momento político, fazendo as renovações com o exercício do voto.
São de grandes importâncias as eleições, primeiro por ser a conquista popular e o carimbo da democracia, a esperança dos oprimidos. A liberdade para optar pelo idealismo. O protesto das injustiças e aos atentados contra a paz e harmonia.
A arma do povo é a união, mostrando nas urnas a força da individualidade, o que somado um a um. A coletividade, portanto, tira seus proveitos com a escolha acertada. Entre os debates cada qual tenta mostra-se mais competente e merecedor de sua confiança e naturalmente de seu voto.
O voto e a democracia andam de mãos dadas, pois democracia só existe se houver o direito de voto.
ELEIÇÃO DIRETA
O povo aplaude e grita
O político continua falando
Em altos brados desdita
Seu rival que, é o Amando

Campanha por todo lado
Panfletos cartazes colantes
Elogios à voz do danado
Rádio, músicas auto falantes

Dia e noite tocam
Nos ranchões músicas caipiras
E políticos dai arrancam
Alguns votos dos curupiras

Mentiras e promessas
Ou promessas mentirosas
O povo acredita nessas
Lorotas pavorosas

Vai chegando o fim
Rivais atacam-se mutuamente
O povo gosta aplaude Pasquim
Vermelho com raiva
O outro desmente

No dia da apuração, Amando
Chama seu opositor, Pasquim
E os dois comemoram quando
Alguém chega gritando
Empataram, é o fim...


SECA


Hoje já fim do mês de agosto
Tudo isto traz-me
Um enorme desgosto.

O vento sopra e vem
Arrastando pelas paragens
E deixando sinais indeléveis.

Frio e poeira são
Hoje e para sempre
Neste planalto alegre
Inseparáveis num pacto.

As pastagens ressequidas
Perdem toda força alimentícia,
Arvores ficam nuas e os ipês florescem.

Alguns pássaros cantam triste,
Desejando chuva
Outros nem cantam
Calados esperam a primavera.

O céu não tem aquele
Azul anil tão lindo
Resplandece nossa alma
É só fumaça e tristeza.

Assim ao leve sabor
Dos ventos, torvelinhos
Levantam barreiras de pós
Vai terminando o triste agosto.
UMA MEDITAÇÃO DE QUANDO EU ERA PROFETA

Os seres são iguais perante outro ser. As desigualdades são intelectuais, morais, econômicas “et cetera”.
Os psicossomáticos dos povos são, portanto, iguais perante outros povos. As diferenças foram estabelecidas pelos patamares culturais, econômicos primordialmente. Vi nesta enorme grei um amontoado de covardes que podiam estrondar o globo com suas engenhosas máquina de destruição das massas humanas.
Os governantes, porém, não são ou procederam da estirpe intelectual. São seres iguais e com conceitos adversos entre eles mesmos. Como uma massa homogênea não passa de povo, que mata e morre...
NOITE DE SERESTA

Nos campos nas noites frias e escuras, os animais noctâmbulos, desvirginam o breu silente com suas melodias peculiares. O grilo quase falante, desperta a triste coruja, que de um buraco de tatu sai para caça. Os pirilampos dão aos negros campos, um ar de esperança, pois, num instante de cadencia vemos a silhueta de uma paca que tritura nos dentes um caroço de tarumã.
O dia amanhece, e o negrume da madrugada fria esvai-se. Não sei para onde, mas não vejo a paca, o buraco de tatu fundo e negro, os grilos pululam pela relva, só que afônicos! A passarada de galho em galho gorjeia uma melodia. Ouvimos o toc toc do pica-pau o fla-flar das asas ligeiras do beija flor e o arrulhar das asas brancas, que em bandos esvoaçam perto do manancial. Não muito longe ouço o cantar intermitente da seriema, e tudo não muito longe. Assim é a vida do campo. Cada voz é conhecida e damos por falta até do sabiá que mostra sua fidalguia nos pomares, onde perto de seus ninhos cantam doces canções.
Ao entardecer os bandos ou mesmo os eremitas procuram seus aconchegos de pernoites. Bandos de guachos singram o céu, lépidos os pardais nas cidades procuram os beirais das casas, enquanto os pássaros pretos procuram uma frondosa árvore, os anus preferem arbustos e os cipoais, outros as touças de taquara... Cada pássaro cada cantor do coro da floresta depois do ensaio do entardecer procura o seu ninho para dormir. Muitos se resguardam enquanto outros, sem lua, só breu saem de seu repouso diurno.
Na beira do brejo é noite de seresta quando o sapo dá o primeiro coaxar as gias respondem, as pererecas e até alguma cobra sibila, os grilos também acompanham o roc-rec das pererecas chamando chuva...
De repente ouço um estampido mais forte do que o provocado pelos noctívagos, então sei que é o caçador de pacas. Tudo se torna silêncio a não ser o eco longínquo do tiro que avisa aos inocentes que chegou o fim da seresta.
SONHO
Estala minha cabeça pendente
acima dos ombros baixos e fortes.
Sem entender ou meditar
são como as águas do mar
que vão e nunca mais voltam
num eterno balançar.

O homem estático cala balança
em seu trivial normal.
No acalento da madrugada
não encontra sua amada.
Desespera chora inconsciente.
Pensa eternamente.

Estala minh’alma,
clama a gélida mão
por um corpo macio e sedoso.
Apenas uma mulher.
Pensando amando e vibrando
sem ver e sentir a bela escultural fêmea,
que sonho e enlaço seus ombros calejados de dor
pela força do amor...
12/03/93

OBSERVAÇÃO


Mundo corre, corre sem parar. A evolução caminha célere sem respeito ou mesmo despeito. Uns dedicam a isto ou aquilo, mas tudo evolui ainda mais. Surpreende o homem com a própria máquina.
Existe um tumulto generalizado e os conceitos concebidos pelas gerações antecedentes declinam perante a evolução lépida. As normas do direito natural são transgredidas e os conceitos de vida destroem-se mutuamente, em cadeia abatem-se. Com tudo isto todos vivem, vezes outras satisfazendo o seu próprio ego ou não, vive-se, padece como outro qualquer.
Os incultos lideram mandam e desmandam, intelectuais batem em retirada e na retaguarda exigem paz. Apenas com um lenço branco.
23/12/94
O MÊS DE MAIO
A beleza exala por todos os lados.
Uma enorme felicidade toma conta de nossos corações.
O céu azul anil alegra nos pela sua vivacidade e pela paz por ele emanada.
Isto tudo, são as marcas de um mês tão belo que é o das: mães, noivas, Maria, abolição da escravatura e do trabalhador, e se traduz por uma simples palavra a significar tanto, maio...
O mês de maio é lindo, sentimos até que fora abençoado por Jesus Cristo, na sua eterna bondade e carinho. Talvez por lembrar de todas as mães, o fez assim tão belo. Como uma dádiva do todo poderoso, deu um mês especial a todas as mães que são merecedoras, de um dia todo especial, parabéns a todas as mães...
02/09/1995.
NEM TUDO
Nem tudo que dizem,
Aos meus ouvidos
Soam bondades ou realidades

Nem tudo que falo
Os outros escutam
Pelo prazer da voz amiga.

Nem tudo que vejo é
A verdade, pois as
Falsidades caminham largas.

Nem tudo que sinto é
A saudade, tristeza
Ou alegria por você trazida.

Nem tudo que arde
É pimenta e meus
Olhos enchem d’ água.

Nem tudo que acredito É verdade, pois dela.
Ninguém é dono.
Nem tudo que faço É nobre e admirável
Pois sou incerto.

Nem tudo que escrevo É digno de ser lido
Nem tudo...







AGOSTO
As águas dos rios
Baixam visivelmente
Os peixes sumiram a
Lontra também foi embora.

O rio com seus pequenos
Poços de águas azuis caladas
E gélidas estremecem até
O pato selvagem do arrebol.

Corre mansamente a procura
De águas maiores até
Encontrar com o oceano,
Onde a pororoca estala.

As margens do rio
A noite não ouço mais
O grilo cantar suas melodias
Um tanto alegre n’aquele breu.

Em suas águas semi-extaguinadas
Vejo só folhas secas
Que se mexem como
Tivessem vidas.

Hoje vendo as águas plácidas
Escoarem naquele azul que
Ressalta as folhas podres
Vi o reflexo do mês de agosto.
30/05/1992.




VAGANDO
Logo de manhã tenho pensamentos.
Viajo numa ascensão rápida
E vou escrevendo em meus apontamentos.
Dá - me um incômodo, é a vida.

Sofro só de imaginar.
Desgraçando a felicidade.
E faço força de enganar-me.
E esqueço até a pouca idade...

Hora fria e vagarosa.
Ponteia o relógio aos segundos.
Deixando minh’alma dolorosa.
E os pobres vagabundos...

Na estação esperamos o trem.
Naquele atropelo e desespero.
Gritam despedem num vai e vem.
E continua a luta do guerreiro.

Assim são os meus dias
Improdutivos e utópicos
Por isso deixo as vias
Imaginárias minhas (típicas).
RETRATO DA SAUDADE
O silêncio, a luz, o bálsamo,
Nos céus a estrela,
Espectro de uma vela,
Na linha do horizonte calmo;
A luz da branca lua,
Na calada da noite nua,
Canta ao som da doce flauta,
Resplandece seu cabelo que flutua,
No triste arrebol,
As ondas bailam,
No calor ouço o som no caracol,
o retrato à luz refletiam;
Meus lábios, meus olhos
Silentes, ganham a emoção;
A saudade bate no coração,
A luz brilha e lateja a comoção.
Amo como se ama a luz,
Como o silêncio, o mar o céu,
A vida o amor que me reduz,
E conduz ao sabor da flauta, sua tez seu véu.
19/10/2000.

A CHUVA

Cai a chuva mansa e fria.
Pela janela ouço o som
Destilando pela esguia
Calha, à água num só tom.

Límpida e pura
Como o véu claro;
No seu rosto sem amargura
Triste e sem amparo!

Fina, lava as folhas,
As flores e ramos;
As dores e nossas falhas.
Vingam e chamam vamos.

Num vai e vem
Grossa e ruidosa;
Fina e fria vinda do além
Escâncara escandalosa.
14/11/2000
AMOR ESCONDIDO

O princípio flores e promessas
Risos e afagos
Juras e pagas e nunca confessas
A verdade sobre a vida.

A vizinhança percebe
Comenta em tom de critica
Sofro como a plebe
Sem fome e vontade

Carinhos e afagos
Beijos e carícias mil
Prevejo o futuro como os magos
A dor latente é sofreguidão

Dos dias que não passam
Das noites infindas
Da lassidão que nos amordaçam
Inerte caminha para a morte.

Enfadonha torna-se a sorte.
Bela e inteligente
Não é da gente e solerte
Tenta levar o relacionamento.

Os cabelos negros reluzem
Com a tintura cara
Ama e beija e nos reduzem
Ao amargo companheiro.

Flores e amores, efêmeros;
Como o vento do norte
Vagam quentes e ligeiros
Assim é o amor escondido.
13/11/1988
A IMAGEM DO ADVOGADO
A Imagem Pública do Advogado no exercício de sua atividade profissional. Em primeiro lugar, é preciso não esquecer que o Código de Ética Profissional do advogado e sua imagem pública se entrelaçam e se completam, porquanto é na observância exemplar das disposições guardadas nesse repositório de normas de comportamento que vamos identificar a imagem pública do advogado, na plenitude de sua realização profissional.
Não basta, contudo que os militantes da advocacia saibam de cor todas as regras encerradas nessa Coleção de preceitos de conduta, o que redundaria em simples exercício de memória. Muito mais do que memorizar normas codificadas no Código de Ética - é fundamental que o advogado tome consciência de quanto é bela e grandiosa nossa profissão, tanto mais bela quanto mais grandiosa, na medida em que for elevada à categoria de sacerdócio.
A bem dizer, o exercício profissional da advocacia não se esgotam na formulação de petições, arrazoados, recursos, acompanhamento de causas perante as várias instâncias, na consulta aos autos - dentro ou fora dos Cartórios - no trato pessoal com clientes, juizes, promotores, serventuários da Justiça; o exercício da advocacia alcança horizontes mais largos, onde a dignidade, o desprendimento e o espírito de missão se fundem num verdadeiro e fecundo sacerdócio. Dessa fusão, emerge a imagem pública do advogado, cuja notoriedade não se exaure, apenas, na observância de uma conduta moral irrepreensível, mas, também, invade o território fascinante da estética, cuja manifestação se traduz no modo elegante de falar e de escrever, o que não importa, necessariamente no culto fetichista às regras gramaticais. Aqui, a estética se confunde com a simplicidade e a clareza de linguagem. É o quanto basta.
Certo e irrecusável é o que acaba de ser anunciado. Contudo, para que a imagem pública do advogado não se enfraqueça no corpo a corpo da luta profissional, é mister que se concretize a lição do imortal Calamandrei, segundo a qual 'todas as liberdades são vãs se não podem ser reivindicadas e defendidas em juízo, se os juizes não são livres, cultos e humanos, se o ordenamento do juízo não está fundado, ele mesmo, sobre o respeito da pessoa humana, que reconhece a todo homem uma consciência livre, única responsável por si mesma e por força disso inviolável'.Como se vê, a imagem pública do advogado, sua plena realização tem muito a ver com a maior ou menor possibilidade de se tornar efetivo o ensinamento do insigne jurista italiano. Essa imagem se faz presente nestes tempos temerários - para a consolidação do Estado Democrático de Direito para a preservação dos institutos jurídicos, ainda não consolidados, inscritos na Constituição Federal (Mandado de Injunção, Habeas Data, Mandado de Segurança Coletivo), através de atuação serena, corajosa e perseverante perante juízos e tribunais, o que significará a honra e a glorificação do exercício da advocacia a serviço do homem como medida de todas as coisas.
10/5/2000

DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DE ITABERAÍ – AILA.


Senhor Presidente, Acadêmicos, Senhoras, Senhores, dileta professora D. Dulce de Paiva, amigos desta Casa de Cultura, é um sonho que realizamos nesta memorável data de 17 de junho. Minhas mesmas emoções São coisas que me acontecem.
Ainda estudante perambulava pelas ruas recitando versos criados a esmo, exercitando a mente deliciando o sabor de minhas criações culturais. Às vezes escrevia para alguns jornais que publicavam em forma de cartas do leitor, não tinha muita simpatia por estas colunas. Escrevia muito e quando avolumava os papéis destruía-os num ato impensado. De longe via crescer um sonho do amigo Dr. Hélio Caldas Pinheiro e de sua família em especial Antônio César, hoje presidente desta Casa de Cultura. Nasci e cresci nesta praça, tive sonhos e brincadeiras de crianças nesta imensidão, com imponentes casas: Joaquim Lúcio, José Vieira, Juca Pinheiro, Messias Esteves, Afonso de Morais, Dr. Hélio Caldas, D. Antônia e a nossa casa, esquina com a rua Padre Pedro.A realidade chegou, fiquei feliz de pertencer ao quadro dos imortais através da cadeira 25, meu patrono Dr. Derval Alves de Castro um dos homens mais cultos de seu tempo, e tenho certeza que seria de nosso tempo, engenheiro, advogado e escritor, que se referindo a seu livro ANNAES DA COMARCA DO RIO DAS PEDRAS disse: Se nenhum mérito tiver esta obra, valha-nos ao menos o consolo de que não existe outra nesse sentido, nem semelhante em qualquer dos municípios goianos. Servirá, nesse caso, de estímulo a outros mais estudiosos... Itaberaí-dezembro-1932. Derval Alves de Castro -Nasceu em 28 de abril 1896 na Cidade de Goiás, filho de Augusto Alves de Castro e Delfina Maria de Castro. - Aos sete anos de idade iniciou os estudos com a professora Nhola, passando depois para o ensino público.- Em 1909 prestou os exames de admissão ao Liceu ingressando na 1ª série. -Em 1912 transferiu-se para o Ginásio Diocesano de Uberaba. -Em 1914 com dezoito anos de idade matriculou-se na Faculdade de Engenharia de Juiz de Fora. -No período de 1914/1919 escreveu em vários jornais de Juiz de Fora, Triângulo Mineiro e Goiás. -Diplomou-se em Engenharia Civil e Eletrônica em 1918, com vinte dois anos.-Como Engenheiro das Obras contra a Seca, fixou-se em Pernambuco 1919.-Voltou a Goiás, trabalhando na Estrada de Ferro Goiás em 1920.-Em 23 de janeiro de 1927 casou-se com Maria Rios da Fonseca.-Editou Páginas do meu Sertão em 1930.-Ingressou na Faculdade de Direito em 1932.-Publicou Annaes da Comarca do Rio das Pedras em 1933 uma obra inestimável pelo valor cultural e histórico.-Retornou a Estrada de Ferro Goiás em 1935.-Diplomou-se em Direito em 1936.-Em 1940 é escolhido para preencher uma das cadeiras da Academia Goiana de Letras, em 6 de novembro toma posse da cadeira n º 7, vaga com o falecimento do acadêmico João Álvares Teixeira, sendo saudado pelo escritor Vitor Coelho de Almeida.-Não obstante ter sido empossado na cadeira de número n º 7, as alterações efetuadas no quadro social em 1957, ficou como primeiro titular da cadeira n º 23.-Fundou e dirigiu a Sociedade Goiana de Folclore em 1942.-Faleceu em 2 de fevereiro de 1952 no Rio de Janeiro com 56 anos de idade.Hoje confesso a vocês que herdei de meu pai a inteligência e de minha mãe o saber aplaudir e a bondade e estes são os legados que quero deixar para meus filhos. Confesso ainda a alegria de estar neste meio de cultura e isto me lembra o grande poeta Casimiro de Abreu em sua estrofe máxima da poesia: Meus Oito Anos:
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d amor!

Derval de Castro adotou Itaberaí, como sua terra natal e disse parafraseando seu livro Annaes da Comarca do Rio das Pedras: A luz meridiana de provas irretorquíveis, com argumentação que julgamos incisiva e farta, desfazemos a falsa concepção histórica de Itaberaí que a tradição erroneamente vinha perpetuando. E nisso não nos moveu o propósito iconoclasta.
Levado tão somente pelo patriótico objetivo de ser útil n’alguma coisa à nossa terra, e principalmente a Itaberaí, onde nos prendem fortes laços de afetividade, empreendemos com verdadeiro ardor o presente trabalho, que nos valeu cinco anos de árduas pesquisas.
Fico muito satisfeito e a alma cheia de orgulho de ter como patrono à cadeira 25 de Dr. Derval Alves de Castro, filho adotivo de Itaberaí, ao casar-se com uma itaberina, dedicou-se por sua terra adotiva, pesquisando estudando a história de nosso lugar. Sem sombra de dúvidas que a obra de Dr. Derval forneceu subsídios aos historiadores do presente, certamente ao Presidente da AILA Antônio César, que estuda as nossas raízes e até mesmo na Europa fora em busca de nossos antepassados, remexendo antigos acervos em bibliotecas de Lisboa. Ficaria um imenso vácuo entre o surgimento de Curralinho a Itaberaí de hoje se não fosse pela obra de Dr. Derval quando faz referência: a Saint-Hilaire, de sua importante obra na página 173 Voyages ou I Amerique du Sud, descreve o nosso céu naquele dia: todos os campos que atravesso tinham sido queimados recentemente, o fogo ressecara as folhas das árvores; uma cinza negra cobria a terra e, com exceção dos pequenos capões de mata, não se via a menor vegetação; entretanto o céu nessa região era de um azul tão claro, a luz do sol tão brilhante, que a natureza parecia ainda mais bela, não obstante sua nudez. Nessa ocasião Itaberaí era apenas um pequeno povoado que ensaiava para vestir-se de arraial. E Curralinho de então não possuía mais que a grande praça e as duas pequenas ruas, com um total de 52 casas.
A partir de hoje tenho nos ombros uma nova responsabilidade com esta Casa de Cultura – Academia Itaberina de Letras e Artes, e perante a todos fico compromissado a ajudar a crescer a cultura de nossa cidade, estudando e dedicando a literatura e acreditando na importância do saber.
Era o que tinha a dizer.
Obrigado. Discurso de Posse – Academia Itaberina de Letras e Artes – AILA.
17/06/2000

HISTÓRIA DE ITABERAÍ

* do livro de Dr. Derval Alves de Castro - Annaes da Comarca do Rio das Pedras, editado em 1933.

A cidade de Curralinho, hoje Itaberaí, em 1819, recebeu o iminente naturalista francês Saint-Hilaire, Itaberaí já era um povoado próspero, onde se festejavam anualmente a festa de Pentecostes, no dia 12 de agosto, e as tradicionais folias do Divino, em 1824, já existia a praça da Matriz, e duas pequenas ruas, a Municipal e Sete de Setembro, com o número total de 52 casas. Capitão-mor Salvador Pedroso de Campos, foi o fundador desta cidade, temos a dizer que a ele cabe de fato toda essa glória. A ele sim, que passou a maior parte de sua existência na fazenda Palmital, a qual abrangia certa porção da antiga Curralinho, e que foi o homem mais abastado de seu tempo, tendo, por isso mesmo exercida real influência sobre os seus contemporâneos. Capitão-mor Salvador Pedroso extraiu grande quantidade de ouro, a ponto de ter os seus utensílios caseiros, tais como pratos, talheres, xícaras, copos, bandejas, etc, todo desse precioso metal. O capitão-mor, que era descendente de índios, faleceu na Capital de Goiás, em 1818, com 67 anos de idade. Passou a fazenda Palmital a pertencer uma metade a sua filha Maria Victória de Campos Fonseca e a outra metade a viúva dona Maria Anastácia da Fonseca, que registraram em comum a fazenda Engenho do Palmital. Dona Maria Victória deixou uma descendência de cinco filhos, que são, por ordem originaria: Padre Luiz Antônio da Fonseca (Padre Lulú), Miguel Ignácio da Fonseca, Ana Francisca da Fonseca, Maria das Dores Fonseca e Honorato Maria da Fonseca. Padre Lulú, após receber a ordenação, teve cinco filhos com aquela que devia ser sua esposa, Dona Luiza Utim, e que não o foi por atender as exigências maternas que impunham a sua ordenação. São eles: Leonor Maria da Fonseca, Luiz Antônio da Fonseca, Salvador Pedroso de Campos Fonseca, José Ignácio da Fonseca e Benjamim Constant da Fonseca. E para perpetuar um exemplo de patriótica fecundidade, o fato extraordinário de ter Dona Ana Francisca da Fonseca, na sua oportuna união com Tristão da Cunha Moraes, vinte e quatro filhos, dos quais vinte e um atingiram a maturidade. Pelo exposto vemos positivamente que a formação, a parte construtiva, e que levantou o arraial da antiga Curralinho, portanto sua fundação, deve-se ao capitão-mor Salvador Pedroso de Campos, auxiliado pela devoção de alguns roceiros da região.
A origem, porém, propriamente dita de Itaberaí, ou melhor, o que deu motivo a sua fundação, remonta a meados do século XVII, reinava D. João V, o vigésimo quarto rei de Portugal, em 1749, quando foi Goiás declarado independente da Capitania de São Paulo, sendo nomeado governador da nova Capitania D. Marcos de Noronha, mais tarde Conde dos Arcos, da qual tomou posse em 8 de novembro de 1749. Por essa ocasião chegaram a capitania de Goiás os irmãos Távora, ricos fidalgos portugueses, dentro os quais se contava D. Álvaro José Xavier Botelho de Távora ou Conde de São Miguel, que em 31 de Agosto de 1755 recebeu o governo de Goiás, tornando assim o seu sétimo governador, das mãos de D. Marcos de Noronha, que foi nomeado vice-rei do Brasil. Na sua inata ambição pelo ouro, ocuparam os irmãos Távora as terras do alto vale de Uru, onde então fizeram duas estâncias a Quinta e o Santo Isidro, hoje pertencentes aos herdeiros do Coronel Eugênio Rodrigues Jardim. Devido a uma grande geada que ressecados pastos e a seca que já se fazia sentir, e que celebrizaria mais tarde, em 1774, os três primeiros anos da benfazeja e energia administrativa de D. José de Vasconcelos Sobral, Barão de Mossâmedes e Visconde da Lapa, II governador de Goiás, viu o seu gado afugentar-se das pastagens costumeiras nas redondezas das fazendas Quinta e Santa Isidro, em demanda de outros sítios circunvizinhos, a cata de forragem já ali escassa. E o gado à medida que a seca e a fome iam aumentando, diminuindo, portanto, as águas e os pastos, iam também por sua vez se afastando para outras regiões mais longínquas.
Foi de modo que o gado, a procura de alimento, veio, parte dele, empastar-se às margens do Rio das Pedras, onde a vegetação naquele tempo, como ainda hoje, era fresca e fecunda, e onde o pasto era virgem e viçoso.
capitão-mor Salvador Pedroso de Campos desenvolvia na sua fazenda em iniciativas industriais, atraindo outras pessoas da lavoura, fez com que nascesse a idéia de se realizar ladainhas aos domingos em uma das casas, que se tornou logo conhecida por Casa das Orações. Daí nasceu à devoção para Nossa Senhora D Abadia, que, para honra das tradições católicas de Itaberaí é ainda venerada pelo sue povo, obrigando o capitão-mor a mandar franco apoio à população nascente. Data dessa época a existência propriamente dita de Itaberaí, que, devido ao pequeno curral feito pelo capitão-mor, foi logo denominado Curralzinho, que, por gente roceira, se tornou em breve Curralinho, nome este porque foi conhecida durante mais de século.
A História e a tradição reinante, aqui nos cerram as portas para só nos abrir em 23 de junho de 1819, por ocasião de nova passagem do ilustre naturalista francês Augusto de Saint-Hilaire, por Mandinga, pequeno povoado que existiu à margem esquerda do Rio das Pedras, próximo a barra do rio Urú, e que desapareceu mais ou menos em 1830. De regresso, em 28 de julho de 1819, passou pelo antigo arraial de Curralinho, encontrando em suas proximidades uma folia que recolhia esmolas para os festejos de Pentecostes que realizavam a 12 de agosto no povoado. E Saint-Hilaire, na página 173 de sua importante obra Voyages ou I Amerique du Sud, escreve encontrado com o nosso céu naquele dia: todos os campos que atravesso tinham sido queimados recentemente: o fogo ressecara as folhas das árvores; uma cinza negra cobria a terra e, com exceção dos pequenos capões de mata, não se via a menor vegetação; entretanto o céu nessa região era de um azul tão claro, a luz do sol tão brilhante, que a natureza parecia ainda mais bela, não obstante sua nudez. Nessa ocasião Itaberaí era apenas um pequeno povoado que ensaiava para vestir-se de arraial. E Curralinho de então não possuía mais que a grande praça e as duas pequenas ruas, com um total de 52 casas.
Por resolução provincial n. º 82, de 5 de dezembro de 1840, elevado à freguesia de natureza coletiva, completa assim o 32º distrito de Goiás. Esse ato foi sancionado pelo 5º Presidente da Província, D. José de Assis Mascarenhas. Com a sua elevação a freguesia, o arraial de Curralinho, começou a atrair adventícios que, aos poucos, vinham aumentar e desenvolver o povoado, o qual, no meado do século passado (XIX), isto é, de 1846 a 1850, se viu aumentado de um pequeno bairro denominado Mundo Novo, que existiu entre as margens esquerda do Rio das Pedras e o Córrego Padre Felipe, próxima da barra deste último. Esse bairro, que desapareceu em 1884, era onde vivia a gente alegre e onde alma popular da orgia se expandia em folguedos profanos e licenciosos. Com tudo, dizem que isso não privou de nele viver, por alguns anos, em completo retraimento, um virtuoso Padre Felipe, que jamais veio ao centro do arraial, e cujo sobrenome a tradição não conservou. Talvez mesmo por essa circunstância tenha gravado o seu nome no córrego que fica situado pouco acima da atual ponte Rio das Pedras, na estrada real para Goiás. Assim adensada a população e desenvolvimento o povoado, o Doutor Ernesto Augusto Pereira, 18º Governador da província, elevou a categoria de Vila pela resolução n. º 416, de 9 de novembro de 1868, indo desse modo completar o 18º município de Goiás. Coronel Benedito Pinheiro de Abreu, representante na Câmara Estadual, em 1924 apresentou o projeto da mudança do nome de Curralinho para Itaberaí, que significa em Guarany Rio das Pedras Brilhantes.
Parabéns Itaberaí, pelos seus 132 anos de emancipação política - 1868/2000.
Dia 9 de novembro de 2000, feliz aniversário a minha, a nossa querida Itaberaí.
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