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Artigos-->Contação de histórias num abrigo de senhoras - (14) -- 01/09/2011 - 16:46 (Alzira Chagas Carpigiani) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Relatório do dia 1º de setembro de 2011– Abrigo Novo Pentecostes (de 10 h às 11 h)



Senhoras:



Pérola



Dolores



Valdete



Zezé



Joana



Maria Ferreira (nova)



Maria da Silva (nova)



Hermínia



Maria Silvestre



Ascensão



Ermerinda



Helena (voluntária)



Brisa (voluntária)



Enfermeira: Ilca (nova)



Histórias: Pele de Burro; O Rouxinol; Riquete de Topete; Borralheira ou O Sapatinho de Vidro; A Mulher do Piolho.



Reis, rainhas, príncipes e princesas „Ÿ hoje foi mais um dia mágico no Abrigo Novo Pentecostes.



Eu fiquei bem feliz já logo na chegada, porque encontrei, à minha disposição, um banquinho de madeira com altura excelente para eu me sentar. Ele não era tão baixo que me causasse incômodo nem tão alto que me mantivesse afastada da minha mala mágica de bugigangas especiais.



O Abrigo recebeu mais duas novas moradoras: Dona Maria Ferreira e Dona Maria da Silva, mãe e filha, respectivamente. Isso, com certeza, agitou um bocado o ambiente. Dona Zezé estava inquieta com a novidade e não conseguia se manter sentada e atenta, como de costume; em vez disso, ela ficava trocando de lugar o tempo todo. Ora pegava uma almofada para tentar uma posição melhor em sua poltrona ora achava melhor abandonar a almofada num dos cantos do sofá maior. Como lidar com esse tipo de situação? O bom senso manda agir com paciência e carinho e foi isso mesmo que eu, a enfermeira Ilca e as voluntárias Dona Helena e Dona Brisa fizemos.



Na semana passada, perguntei a enfermeira Vanda se eu poderia tirar fotografias das apresentações e das senhoras, ela disse que sim. Então, hoje, minha filha Laura encarnou o papel de fotógrafa para fazer os registros, que podem ser vistos na minha página do Orkut (Alzira Carpigiani „Ÿ álbum: Abrigo Novo Pentecostes), se vocês quiserem fazer uma visitinha, será um prazer recebê-los lá.



As histórias: o relato de Pele de Burro está guardado no mais profundo da minha alma desde tempos muito remotos, quando eu ainda não me preocupava em saber detalhes sobre quem teria feito o registro dessa maravilha em livros. Portanto, a existência de Charles Perrault não tinha ainda, naquela época, nenhum significado especial para mim.



Lembro-me da minha mãe descrevendo um certo vestido da cor da água do mar, com peixinhos vivos nadando em sua saia volumosa, cheia de brocados e rendas. Como era possível aquilo? Os peixinhos nadavam e não caiam no chão? Mistério... os peixes também nadam no mar e não extrapolam o contorno do planeta Terra... Creio que esse vestido em questão, se não me falha a memória, era da Pele de Burro. Na versão que eu encontrei (Charles Perrault „Ÿ Clássicos da Infância, Editora Cultrix, 1963), no entanto, os vestidos são: o primeiro, da cor do tempo; o segundo, da cor da Lua; o terceiro, da cor do Sol e o quarto, é a pele do pobre burro, executado em nome do amor incestuoso de um pai pela própria filha.



O Rouxinol, de Hans Christian Andersen. Um imperador que vive num palácio de porcelana... Que história delicada! Os visitantes estrangeiros ficam maravilhados com o canto de um passarinho, cuja existência é ignorada pelo imperador e demais membros de sua corte. Às vezes, isso acontece conosco também, ocorre de termos um tesouro dentro do nosso próprio “reino” e nem nos darmos conta disso, é preciso que alguém “de fora” nos cutuque, para acordarmos.



Riquete de Topete. Mais uma do Charles Perrault, cujo livro já foi citado acima. O feio e inteligentíssimo príncipe Riquete se apaixona por sua vizinha, uma princesa belíssima, porém muito tola. Eis aí ótimos ingredientes para fazer desandar a receita de um possível romance, no entanto, é exatamente o amor que vence mais uma vez. Quando tudo termina bem, pode ser que o leitor ou o ouvinte nem perca tempo formulando dúvidas... Mas, teria o amor da princesa transformado a feiura de Riquete em beleza e perfeição ou o sentimento puro e sincero que passou a unir os dois, teria permitido à bela enxergar o príncipe para além dos seus limites físicos? De verdade mesmo? Quem se importa?     



Contei hoje uma versão mais branda da Cinderela: a Borralheira ou O Sapatinho de Vidro. Diferente das demais versões, nessa de Perrault, a menina desprezada é bastante tolerante e demonstra ter um vínculo com sua família adotiva, apesar dos evidentes maus-tratos que essa lhe impõe. Há também, para deleite das ouvintes, a presença de uma fada-madrinha, com direito a varinha de condão e mágicas explícitas. A Borralheira conquista o coração do príncipe e calça o sapatinho de vidro no final. Ah, nada de punição! Nem uma pombinha furando os olhos das irmãs malvadas no final, ao contrário, Borralheira até as leva para a corte e faz o casamento delas com dois fidalgos.



As senhoras protestaram, parece que elas preferem a versão mais sanguinária da Cinderela. Como assim não tem punição? A menina tem que lavar, passar, cozinhar, dar comida para os animais e no final ainda trata as irmãs com gentileza? Ah, não! Aí já é demais! Prometo que vou pensar a respeito...



E para encerrar de modo trágico, sem nenhum glamour: A Mulher do Piolho, exatamente como está nos Contos Tradicionais do Brasil, do Câmara Cascudo, Ediouro, 1999. A mulher teimosa chama o marido de piolhento, e não há nada que a faça mudar o discurso. O marido amarra uma corda na cintura dela e a mergulha no poço. Nem assim, ela para de chamá-lo de piolhento; nem “com água pela barba”... ela colocava “as mãos fora dágua, fazia cascar as unhas, com o gesto de quem esborracha o asqueroso inseto.” (Pausa) A plateia olhando pra mim com pontos de interrogação no ar. “Mas ele não matou a mulher, não é?” Não, foi só pra dar um sustinho. Ah, se fosse hoje... Lei Maria da Penha nele!



 



“O gigante vinha pelo caminho, quando se deparou com um rio beeeem largo. Ele olhou pensativo para suas botas de sete léguas, mas não encontrou outra alternativa a não ser atravessar aquele rio andando. Suas botas então ficaram encharcadas e enquanto ele andava, ouvia o tempo todo aquele barulho ploc ploc ploc ploc...



„Ÿ Ah, mãe, conta outra história...



„Ÿ Não dá, filha. O gigante ainda tem muita água nas suas botas ploc ploc ploc ploc ploc... „Ÿ E assim ia até eu e meus irmãos adormecermos. Ploc ploc ploc queria dizer Fim! Por hoje, acabou!



Beijos e até a próxima!      


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