· Sou puro contraponto... Se digo, complemento com uma negação... Se calo, exprimo uma certa hesitação ou receio de usar certas palavras, palavras erradas... Se afirmo, não confirmo... Se juro, não demonstro firme credulidade na referência do juramento... Se me mostro, uso os mais diversos artifícios da dissimulação... Se me oculto, lamento sua indiferença... Se digo que gosto, agrido incessantemente... Se adoto uma postura assumidamente agressiva, lamento e peço mil perdões... Se julgo a todo instante, abomino qualquer análise de meu comportamento... Você diz que sente minha falta, mas sou lacuna o tempo todo... Quando estou presente, sou vago e vazio... Expresso afirmações de afetividade, mas sou tão rude e insensível ante a menor contrariedade... Sou egoísta ao extremo, quero atenção e que, de preferência, nenhuma atitude minha venha ser cobrada... Procuro dar ao tempo o que é dele, mas não atuo, não assumo, não interajo, não sou pró-ativo, não sou causa, não corro riscos e minha vida torna-se isso que chamam de 'vidinha sem graça', rótulo cômodo. É como se os elementos da CNTP pudessem naturalmente eliminá-lo, dissolvê-lo...talvez a umidade, o calor ou a ação intrínseca do tempo degrade sua composição... degrado-me também, a espera sem compromisso, sem plano traçado... É tédio, é marasmo, é mesmice e isso traça um horizonte sombrio do que é e tende a ser... Sou realmente elemento do limbo.
· De um poema, extraí esta frase cujo autor conseguiu a façanha de plagiar-me sem eu nunca tê-la escrito: 'os seres sem imagem espetacular freqüentam o limbo entre a vida e a morte, dizem as lendas'.
Carlos Alberto Coelho
Autor de DENÚNCIA VADIA - O LIVRO.
www.denunciavadia.hpg.com.br
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