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Artigos-->O ABORTO À LUZ DA TEOLOGIA CATÓLICA E DA REALIDADE HUMANA -- 16/08/2011 - 23:31 (Délcio Vieira Salomon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O ABORTO À LUZ DA TEOLOGIA CATÓLICA E DA REALIDADE HUMANA



(artigo escrito em 2009)



Délcio Vieira Salomon*







Apesar de ser polêmico o assunto do aborto, sobretudo quando se contrapõem a posição de bispos e papa da Igreja Católica e o direito natural tanto quanto a ética, é importante esclarecer:



1 A doutrina “teológica” que condena o aborto se prende ao conceito de vida confundido com o conceito de alma.



Reportar a São Tomás de Aquino, como a última palavra para se decidir contra o aborto em si é ignorar a história, a evolução da humanidade e da civilização e, nesta, a cultura dos povos.



Os inquisidores, sobretudo os do século XVIII (embora a inquisição a rigor tenha começado em 1183, contra os cátaros de Albi), foram responsáveis por tantos genocídios, tantas mortes e monstruosas torturas, e, no entanto, o fizeram, por puro fanatismo e escorados na doutrina teológica dominante na época, notadamente a tomista, como a única e verdadeira.



Infelizmente os teólogos católicos conservadores, por isso retrógrados, assim pensam até hoje.



É sabido que São Tomás de Aquino cristianizou Aristóteles. Este dizia em sua teoria hilemorfista, que corpo e alma formam uma unidade, mas defendia a existência de três tipos de alma: a vegetativa, a sensitiva e a intelectiva ou racional. Esta última que viria a caracterizar o ser humano só se manifestaria depois do embrião passar pelos outros dois estágios de alma. Segundo São Tomás tal manifestação se daria aos 40 dias depois da concepção para os homens e 80 para as mulheres.



Em que fundamento científico ou bíblico se apoiou para tal afirmação? Ninguém sabe, o que nos abaliza dizer que em nenhum. Pura ficção que para os conservadores católicos passou a ser um dogma. Apesar de o bispo de Recife afirmar que o aborto é questão teológica (inclusive reagiu à fala de Lula, dizendo que ele não conhecia a teologia), a questão não é teológica apenas.



Aliás só é teológica, para quem fundamenta a teologia na fé e estende esta até na crença na infalibilidade do papa. Mas como pode ser o papa infalível neste ponto, quando, pela história da Igreja, vemos que vários papas condenaram o que outros doutrinaram em nome de sua infalibilidade?



Basta lembrar o caso de Galileu – emblemático contra a proclamada infalibilidade do papa. En passant: Pio XII, por muitos considerado ultra-conservador e até nazistófilo, ao ser incentivado a condenar o evolucionismo, teria respondido: - Não me obriguem a fechar uma porta que algum sucessor meu terá de abrir. De casos de Galileu basta um na igreja



2 Mas voltando ao assunto do aborto, dou muito mais razão a Lula do que ao arcebispo de Recife. Por isso, me entusiasmei ao ler o artigo de Acílio Lara Resende, publicado em sua coluna em O TEMPO em 12.03.2009. sobretudo quando diz: “O direito canônico não abarca, por impossível, todos os casos ou todas as situações humanas e, por isso, pode distanciar-se da realidade”.



Nosso articulista expressou em todo seu artigo não só o que pensam os homens e as mulheres de bom senso, sem medo de opinar, mas também sem medo de pastores inquisitoriais que se situam fora de realidade.



Teologia que desdenha a realidade terrestre, merece ser abjurada ou, no mínimo, ser revista. Neste ponto me convence plenamente o que diz o teólogo jesuíta João Batista Libânio, professor do Instituto Santo Inácio de Belo Horizonte, referindo-se ao posicionamento do atual Papa, em cujo pensamento se apoiou o arcebispo de Recife:



“Bento XVI propõe primeiro trabalhar os valores, cuidar para que o indivíduo tenha uma sólida formação religiosa e, com esta bagagem, aproximar-se da realidade. Pela Teologia da Libertação, primeiro vou compreender a realidade. Vou recorrer aos meios sociológicos, psicológicos, políticos e, conhecendo bem a realidade, procuro saber que perguntas ela faz à minha fé. Bento XVI busca aplicar sua fé à realidade. Nós, da Teologia da Libertação, preferimos primeiro auscultar a realidade, compreender a pobreza, as suas causas. Nunca diríamos, como diz o papa, que Cristo é a solução para a violência. Antes tentamos ver as causas da violência: a miséria, as drogas. Sem levantar as causas sócio-político-econômicas, achamos difícil dizer uma palavra de fé. Para o papa, esta palavra de fé já é tão clara que sequer é preciso fazer uma análise para apresentar uma solução aos problemas reais” (grifo meu).



Em síntese nosso articulista, Acílio Lara Resende, colocou muito bem a questão, ao interrogar: - “A brutalidade da qual foi vítima a pobre menina, em Recife, não se enquadraria com exatidão, numa ou, talvez, nas duas excludentes da responsabilidade, aqui citadas” (a legítima defesa – de si ou de terceiros – e o estado de necessidade)?



Sinceramente, depois que se lê todo o texto do jornalista Acílio Lara Rezende, não precisaria acrescentar nada ao debate. Só me estarrece a atitude retrógrada de certos teólogos católicos que pensam e pregam doutrinas já ultrapassadas, cujos fundamentos já foram há séculos rejeitadas pela ciência e pela própria história. Chego a pensar que o fazem por bitolamento mental ou, então, o que é pior, por arrogância. Se for por arrogância lembro aqui dois momentos pautados por Leonardo Boff em seu artigo “A crise econômica mundial e a arrogância do Ocidente” (O TEMPO:13.03.2009). Primeiro quando se refere à arrogância do papa Alexandre VI (século XV-XVI) quando baixou a bula Inter Caetera, determinando: “pela autoridade do Deus Todo Poderoso a nós concedida em são Pedro, assim como do vicariato de Jesus Cristo, vos doamos, concedemos e entregamos com todos os seus domínios, cidades, fortalezas, lugares e vilas, as ilhas e as terras firmes achadas e por achar”. E doava com o direito de praticar genocídio contra os indígenas. Sem comentários!



O segundo ponto, quando diz com sabedoria, ao referir-se à arrogância de teólogos e políticos ocidentais da atualidade: “Apagou-se totalmente a memória do Nazareno que pregava o amor incondicional e que todos somos irmãos e irmãs.”

Não fosse essa arrogância, o Bispo de Recife não teria excomungado a mãe da menina juntamente com os médicos cirurgiões do aborto e absolvido o padrasto pelo estupro cometido, dizendo que o crime deste é menor do que o dos praticantes do aborto.

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