E mesmo que a roda fosse quadrada
E a América não fosse descoberta
E a luz do sol fosse uma coisa incerta
Bater no suco seria uma barbada
Uma surra por dia era confirmada
Como escravo, no chicote açoitado!
Sofrendo sua grande pena o coitado
Nas lamurias triste até o infinito
Em todos os cantos se ouvia o grito
E eu cantando o Martelo agalopado.
Vai vivendo a vida no sofrimento
Degredado da vida em liberdade
Pra ninguém nem deixava saudade
A ninguém importava seu lamento
Pensavam ser apenas fingimento
Só por ser um cativo condenado
Como suco era sempre desprezado
Sem saber se era verão ou inverno
Mergulhado nas profundas do inferno
E eu cantando o Martelo agalopado.
Vai se sentindo a pior das criaturas
Encolhido na sua insignificância
Sem ter na vida o verso de sustância
Só levava no lombo as penas duras
Cada dia mais distante das ternuras
Entre demônios segue desalmado
Como um ser infeliz e derrotado
Fica chorando a dor escarnecida
Sem perspectiva para a sua vida
E eu cantando o Martelo agalopado.
E mesmo que o mar um dia secasse
Todas árvores sumissem da terra
O suco nunca ganharia uma guerra
Nem que o grande sino do mundo soasse
E toda a água dos rios acabasse
Seria entregue aos corvos, e devorado!
Numa carnificina ia retalhado
De pensar ficaria meio maluco
Escorreria nas coxias como suco
E eu cantando o Martelo agalopado.
Nem em mil anos poderia me ganhar
Uma batalha pequena num talvez
Nem que fosse pelo menos uma vez
O suco nasceu somente pra apanhar
E para os grandes sempre se curvar
Nas suas lutas será sempre afogado
Por vitórias sempre será cobrado
Todos sabem isso não vai acontecer
Pois todas lutas o suco vai perder
E eu cantando o Martelo agalopado.
Obs. Não estranhem a dureza desse galope, pois se trata de brincadeira com meu amigo suco e parte do seu aprendizado. Esse cordel já foi previamente mostrado ao garoto Suco.
