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Ensaios-->Nova geração poética I -mscx -- 29/09/2002 - 13:06 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

GERAÇÃO POÉTICA (80)
m.s.c.x.
Maria do Socorro Xavier.
A “Geração 80” em Campina Grande – nasceu de um grupo perambulante de poetas, nas praças e encontros informais de escritores de periferia, admiradores da literatura, enfim idealistas, filósofos do dia a dia, a maioria desocupados, em busca de um lugar ao sol e de sobrevivência.

Esse grupo foi criando um elo, ora de identidade de idéias, ora afetivo, que terminaria se associando oficialmente e a cada encontro, descobrindo-se novos valores. As “Semanas de Poesia” (apoiadas pela Secretaria de Educação e Cultura do Município de C. Grande) funcionaram como pontos de encontros marcados do segmento.

A Geração 80 é como um poema, cada componente é um verso. Deste grupo espontâneo, surge a A.C.P.E. (Associação Campinense de Poetas e Escritores), de início sem sede própria, depois conseguida com as reivindicações à Prefeitura Municipal.

O grupo começou a se movimentar com entusiasmo, embora cético com as seqüelas deixadas pelo regime autoritário, com exígua esperança, idéias interessantes para o seu dinamismo, um relativo número de associados, mas com uma freqüência rarefeita nas Assembléias e reuniões da Associação.

Na realidade, falta-nos ainda hoje um “Projeto de Literatura Coletivo”. Todos produzem praticamente isolados e pouquíssimos têm conseguido editar com suas minguadas posses. Todos têm na literatura que praticam um lazer, uma busca de identidade, mas paralelamente vão batalhando outro meio de sobrevivência, já que ninguém pode candidatar-se ao cargo de poeta e viver dele.

Foi um grupo digamos assim, de iniciação estética e existencial, onde a força do inconsciente, a liberação deste, falava mais alto que na transposição desse estágio catártico para o texto literário propriamente dito. Predominava naturalmente mais a inspiração e menos trabalho, mais espontaneísmo narcisista do que a postura lógico-racional. Pelos passos que não se deram no sentido de aperfeiçoamento do texto literário, vê-se o espontaneísmo e a não preocupação com o artesanato da palavra.

A meu ver, os poetas da Geração 80, não pertenceram a nenhuma Escola Literária, no entanto cultivavam diversos gêneros, que vão do poema livre, sem rima, rimado, o conto, o soneto, a crônica, a poesia popular etc.

Em quase todos há uma temática comum explorada, que é o Amor (romântico e ou sensual) o que não ocorre via de regra com a Geração Garatuja. A Gara- tuja inegavelmente foi uma geração de intelectuais, complexa, demonstrando em suas poesias uma inquietação de essência e de forma. É indiscutível a qualidade literária da Geração Garatuja, seus escritores em prosa e verso, desde o realismo contundente até a ficção. Superou, fugiu do tradicionalismo e do lugar comum. O existencialismo filosófico permeado de descrença, medo e solidão, ateísmo, pouco erotismo, pouco lirismo e pouco amor, pouca afetividade são aspectos do Garatuja. A questão social aparece de forma surrealística, e quando aparece, naturalmente ocultada pela coerção do autoritarismo político.

São comuns às duas gerações 70 e 80 o existencialismo filosófico, a solidão, à busca etc. Sendo que na geração 80 esses aspectos são recheados de afetividade, religiosidade e erotismo; elementos que faltam ou pelo menos são camuflados no Garatuja.

Há outras divergências também no domínio social. Enquanto a Geração Garatuja é um grupo intelectual de orígem pequeno burguesa urbana, a Geração 80 é um grupo filho do desemprego, da periferia, do transporte coletivo, do abandono institucional, da discriminação etc.

A Literatura é um drama em 3 atos, segundo Affonso Romano de Sant´anna. 1- escrever; 2- publicar; 3- ser lido. Os três passos se completam e este é um caminho sonhado por todo autor, nem sempre concretizado.

Infelizmente os bloqueios são inúmeros, a começar do sócio-econômico, ( a falta de capacidade aquisitiva do escritor) a falta de apoio material das instituições governamentais ao escritor, os custos editoriais elevados.

A literatura tem uma função social. Escrever por que? Para quem? Há uma ânsia de publicar mesmo sem maturidade intelectual do escritor, ele quer ser lido, apreciado, faz parte do seu ego. Mas urge um engajamento social do escritor, que pela suas próprias carências sócio-econômicas, o arrasta a uma posição ideológica.
Inexiste também espírito coletivo do escritor, para editar em conjunto suas obras, já que individual custa os olhos da cara. É doloroso ficar o escritor com os originais dos seus trabalhos engavetados, dá uma sensação de niilismo, de impotência.

Se há milhares de escritores, uns realizados, outros humilhados, a poesia, esta se encontra em baixa no mercado de bens culturais modernos. É uma fruição (do consumo) apenas dos próprios poetas, pequeno círculo literário e estudiosos do gênero. Auferimos esse desinteresse nas Escolas, pois pouco se ensinava aos alunos de primeiro e segundo graus através da poesia, nos lares, nas ruas; a não ser que esta poesia fale do drama humano com o qual o leitor se projete, toque ao homem como um todo, ou fale de um indivíduo em particular.

Que fatores influenciam este desinteresse pela poesia? A meu ver, o principal deles é o advento da mídia eletrônica, da comunicação de massa, a cultura superficial gerada por um capitalismo que tudo transforma em mercadoria que dá lucros, dando a ilusão que o escritor vive num mundo fantástico, mas na realidade, há uma pseudo liberdade, onde o sistema subverte os valores, recalca a imaginação, bloqueia os anseios mais autênticos.

A Geração 80 termina não tendo imperativo ético nem estético. Mas apesar dos impecilhos, resolveu entre o fazer e o não fazer, fazer algo, com estilos e gêneros variados, pois “o poeta é justamente o homem que cria as regras poéticas”.

Como uma colcha de retalhos, faz versos com rimas, sem rimas, fala das questões humanas em sua essência, dentre a psicologia do cotidiano em prosa e verso, do existencial e até do espiritual. A Geração 80 tem bastante conteúdo, diversificado, eclético, porém falta-lhe a definição da forma, carece aperfeiçoamento de estudos teórico-literários.

De qualquer forma, escrever é um ato de construção, de criação. É uma paixão que se converte em linguagem e que sensibiliza o leitor, mesmo com imperfeições técnicas.Não é pecado a obsessão apaixonada da criação.

A proximidade afetiva dificultava o abrir-se quanto a crítica dos textos, dos nossos companheiros da Geração 80. Geralmente ficava-mos nos elogiando mutuamente, aceitando as falhas, quando deveríamos tecer críticas contrutivas ao trabalho do outro, levando-os ao crescimento intelectual, à extrapolar o empirismo, o espontaneísmo, a intuição para o patamar da criação poética, sob parâmetros literários, à busca de uma forma, de uma identidade mais segura. Tateamos em diversos gêneros e formas, sem a devida consciência crítica (auto-crítica) do que era feito, porque e para quem.

Urgia uma clínica do texto, para submetermos à apreciação construtiva, honesta, ou mesmo nua e crua, como um alerta do que estávamos a produzir, muitas vezes, trabalhos monstrinhos exdrúxulos, canhestros.

Havia potencialidades, possibilidades de criação poética,faltava o estímulo dos caminhos a percorrer.Se ruins, assumir nossa mediocridade e tentemos melho- rar, se bons, nos definir num estilo próprio; mais enxuto; pois é raro o poeta que nasce maduro, na sua forma. Segundo Carlos Nejar, “A consciência da palavra é ir mudando; o julgar é o mudar; ser é transpor.”

O pensar, o imaginar são livres, a discussão, a objeção e os limites também são imprescindíveis para o crescimento literário. A Geração Nova (80) conti- nua carente de aperfeiçoamento, de diálogo, de enriquecimento. Ainda esta- mos à procura de quem nos ajude a clarear: quem somos?

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