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Ensaios-->Olivettis e e-books: como fazemos a leitura do mundo -- 22/09/2002 - 22:16 (Rosy Feros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Que me desculpem os tecno-puritanos, mas sou incapaz de escrever numa máquina de escrever hoje em dia! E olha que já martelei muito em minhas noites afora, incomodando pais e vizinhos.

Outro dia, tive que bater à máquina um formulário uf!) e demorei quase meia hora uma coisa que poderia ter feito em parquíssimos minutos. Uma vergonha. As teclas da máquina mecânica pareciam pequenas toras de madeira, pesadas e duras que só elas. Também não tinha ERROREX ou coisa que o valha, e meu sacrifício ficou quintuplicado, sextuplicado, sei lá. Não tinha tecla de 'backspace'. Girar o carro só me lembrava da falta que faz uma teclinha 'enter'... Sem contar que volta e meia pressionava a tecla de espaço para ver se o cursor andava... vexaminoso.

Não é por nada não, mas depois do computador minha vida foi favorecida em muito. Não sinto saudade nenhuma das velhas máquinas de escrever - quanto mais Olivetti. Desculpem-me os que acham que estou dizendo heresias. Não acho que seja heresia, não: é facilidade. Por que vou sentir saudade daquela fita que sujava a mão, daquelas teclas pesadas, das várias folhas jogadas no lixo quando eu me punha a ficar cheia de dúvidas e cheia de erros na ponta dos dedos? Não, que saudade o quê.

Mas de uma coisa sinta falta - já que tudo na vida tem um porém (será que estou sendo libriana demais com as velhas olivettis?). Sinto falta da referência visual dos textos datilografados, já que textos escritos em janelas de e-mail ou do Word são apenas luz, não fazem peso na sacola nem volume na gaveta. Na época das velhas máquinas não-elétricas, dependendo do estado ou da cor da fita (se estava velha ou novinha em folha), dependendo do tipo da letra da máquina, eu sabia em que época o texto havia ido escrito. Sabia até quando tinha sido remarcado, retificado, proscrito ou prescrito. Quase não precisava de data, lembrava até do lugar em que havia sido datilografado. Os indícios técnicos da máquina me ajudavam nas memórias diárias.

Mas dizer que sinto falta daquele trambolho que ficava em cima de minha mesinha do escritório? É mentira. Pudera eu ter um laptop, máquina viajante de recados e novelas. Mas, por enquanto, meu bolso só dá pra Pentium desktop mesmo. Se bobear, está quase para uma Olivetti.

Todas estas idéias me vieram à mente depois de ler mais um texto criticando os e-books, cujo autor se rebelava contra o fim dos veneráveis 'livros de papel', criticando a abominável atividade de se escrever no computador.

Não quero tratar aqui da polêmica do suposto fim do livro, mas apenas me deter em algumas idéias que me vieram à mente depois da referida leitura.

Pensando bem, desde quando um livro pode ser 'eletrônico'? Livro é um suporte físico que usa da tecnologia gráfica em papel para abrigar conteúdos de interesses vários. Em sentido amplo, o livro é um conceito: um veículo de leitura. E e-book, na verdade, nada mais é que um neologismo criado para se tentar dar nome a todas aquelas coisas novas que surgiram a partir das novas tecnologias da comunicação.

E por que se convencionou que livro só pode ser de papel? Só porque muitos de nós ainda estamos comodamente situados na era da imprensa pós-Gutemberg?

No fundo, acho que toda essas discussões que visam polemizar as novas tecnologias de comunicação como a internet, tentando deter o uso crescente de e-books e proclamando o fim do livro como sendo o fim do mundo, é um medo profundo e descomunal das novas tecnologias. Medo que o computador engula o papel, máquina trituradora feita de bits. Medo que a nova máquina cerceie a criatividade ou algo do gênero. Bobagens.

A antiga Olivetti me dava mais nos nervos que meu computador (quase) de cabeceira: suas teclas dinossáuricas não deixavam acompanhar o raciocínio quando corria veloz... Será que estou sendo muito severa com as pobres máquinas de escrever? O computador não deixa de ser máquina de escrever, mas também é máquina que faz pensar.

O que penso é que, para falar de livros & leitores de livros, há que se expandir a mente e enxergar a história com horizontes largos. E, para se analisar criticamente as novas tecnologias que irrompem em nosso dia-a-dia, não podemos ficar presos a conservadorismos de espécie alguma.

Além disso, há que se rever com cuidado o conceito de escritor. Escritor, ao que se sabe, é aquele que escreve - e por acaso há alguma diferença conceitual entre escrever em papel, na areia ou numa tela de computador?

O que percebo, contudo, é que muito pouca gente está disposta a ver a realidade de frente, ainda que esta esteja estampada diante dos olhos de todos. Tirar as vendas de conservadorismos e pré-conceitos sem dúvida é tarefa difícil, porém necessária. Mas não são todos os que se atrevem a fazer isto.

Mais cedo do muita gente julga, os que temem os supostos efeitos diabólicos dos e-books sobre a percepção humana verão que o que importa, na verdade, não é a forma como absorvemos as informações para construir nossa bagagem pessoal de conhecimentos.

O que importa mais que tudo é termos acesso amplo e irrestrito às informações, sejam elas quais forem. Para que então possamos julgar, com critérios próprios baseados na freqüência da experiência de leitura, o que podemos guardar e o que podemos dispensar de nossa formação pessoal.

Penso que o que importa é como fazemos a leitura do mundo - e isto é assunto que vai muito além do objeto livro, seja ele eletrônico ou não.


Copyright Rosy Feros, 2000 - http://rosyferos.blogspot.com
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