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Ensaios-->O Rabo do Cachorro II -- 21/09/2002 - 09:54 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O RABO DO CACHORRO
(por Domingos Oliveira Medeiros)

As diversas experiências que a população brasileira tem enfrentado ao longo das últimas décadas, no que se refere a pacotes e planos econômicos impostos pela equipe econômica dos tecnocratas de plantão, assemelham-se aos relatos de paixões e traições, esperanças e desesperanças, frustrações, enfim, e tantos outros frutos - doces e amargos - , que brotam do âmago de nossa condição humana.

No início do relacionamento há o processo de admiração, de encantamento pessoal. Os candidatos e as candidatas. As eleições. O namoro. Depois, a aproximação e o conhecimento maior. Mais adiante, as urnas, a escolha, a votação. As alianças e os eleitos. O casamento. A posse. As festas. As comemorações. A lua de mel.

As primeiras medidas são divulgadas e implantadas. Nascem os primeiros pacotes econômicos. Nascem os filhos. Começam a incomodar: filhos e pacotes. Começam a andar, aos trancos e barrancos. Há quedas e há machucados. Todos se assustam. Ainda ficam de pé. Pois tudo aponta, por enquanto, para o paraíso. O tão sonhado futuro em que desejos e promessas serão cumpridos. Até que um dia, a realidade surge como uma tempestade. Ventos fortes, raios e trovões. Chuvas que derrubam árvores e inundam as ruas. O sol vai embora. As nuvens negras encurtam o dia. Isolam-nos em casa. Presos e angustiados, é tempo de reflexão.

Os filhos não podem ir ao colégio. Não somente pela chuva; muito mais pelo tempo ruim. É que, este ano, a exemplo de anos anteriores, o número de vagas não foi suficiente para atender a todos. Algumas vagas, apenas, nos colégios particulares. Mas o preço da mensalidade é proibitivo. Pelo menos no que se refere à grande maioria de brasileiros. Para os desempregados, então, nem pensar. Ademais, estamos sem reajuste de salários há vários anos. E não há perspectivas de melhoras.

Começamos a perder a paciência. A encurtar o pavio. Qualquer coisa é motivo para discutir. As crianças, com a chuva e o frio, adoecem. A culpa é da esposa, que não fechou as janelas na hora da chuva. Mais brigas. Mais discussões. “- O governo também tem a sua parcela de culpa”, diz a mulher. - Concordo. Mas temos que fazer a nossa parte. As crianças não podem ficar doentes o tempo todo! “Vamos ao médico”.

Chegamos no hospital. Não existe atendimento hospitalar de urgência e de qualidade. No ambulatório, só com consulta marcada e, assim mesmo, para daqui a seis meses. “Seis meses? Até lá o vírus da gripe já morreu de falta do que fazer.” A solução é apelar para remédios caseiro. Chá de limão. De alho. De ambos.

O tempo vai passando. As dívidas vão se acumulando. Os salários continuam os mesmos, afrontando a inflação, que cresce devagar, esperando a hora de dar o bote fatal. Restrições no consumo. Já não dispomos de qualquer supérfluo para economizar nos gastos. O aumento dos juros, antes justificado para atrair investimentos estrangeiros, agora não tem mais explicação. Virou rotina. Coisa de viciado. É uma droga, dizem todos. A inadimplência é geral. Falta o gás e a comida escasseia. Sobram desesperanças e desarmonia.

As brigas vão ficando mais acirradas. Ressentimentos são realçados. O plano econômico e a família, começam a ruir. O desinteresse do casal (e do governo) por tudo e por todos, passa ser a tônica do dia-a-dia. A vida se torna um inferno. Dentro e fora de casa. A separação parece inevitável.

Até que um belo dia, o sol reaparece. As nuvens negras vão embora. As ruas secam. Voltam as flores. Reacendem-se as esperanças. Um novo amor principia. Vem o Natal e, com ele, o apelo ao perdão. Mais um voto de confiança no futuro. Afinal, temos que pensar nos nossos filhos. E a vida continua.

E o ciclo se repete. Não se aprende com os erros. O mesmo título eleitoral. Os mesmos candidatos. As mesmas idéias. E tudo volta a girar no mesmo sentido, pelas mesmas coisas, nos mesmos lugares, até o próximo Natal. Tal qual o cachorro tentando morder o próprio rabo.

Domingos Oliveira Medeiros




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