Sinistra noite escura e ventosa,
A resvalar na janela, a ventania
Sussurrando baixinho... lamentosa,
Múrmuros piedosos, de agonia
Atira-se porta adentro... um odor
Forte de forma esbelta e ondulante
Impregna de mansinho o redor
Com passos imperceptíveis, flutuante.
Enquanto a chuva castiga forte, a janela
E o lumiar dos raios, risca a densa noite.
Rebumba os trovões, despenca da parede aquarela
Volto-me de chofre, deparo num açoite
Com seu olhar ardoroso que congela-me a alma
Um frio repentino sobe-me à espinha
A impassividade leva-me à calma
Em silencio para meu lado ondulante caminha,
Mais um passo, e o enrosco é latente
Vai-se a razão me apego a valsar
Açoito ao pó a mascara e os monstros da mente
E volto a sorrir, a cantar, a viver sem cessar
Um lampejo faz-se estremunhar... a pérfida alegria
A ledice definha em longo prantear
Que sorrir! Que cantar! Somente lastimaria
Do encanto, apenas o espanto a me enlear
Irrompe em lampejo estrondoso, o que antes musa,
Agoira de rosto disforme, arrogante, obscura.
Musica fúnebre se ouve ao fundo, a cabeça... medusa!!!
Tropeço na escada, três tombos, três berros! Acordo candura.
Foi-se embora escura e ventosa, a noite
Levanto-me... três tapas na bunda
Espanto o pó ligeiro, num acoite,
Retomo a caminhada, de mãos dada com a tristeza imunda
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