----- Este ensaio é delicado, polémico e controverso. Todavia, com base nos elementos que exponho, tentarei contribuir para a densa amálgama de opiniões que tendem a esclarecer, ou até confundir mais, o designado 'eu-poético'.
----------------------- Gosto mais do colibri
----------------------- Do que o solene condor;
----------------------- E se é erro gostar de Ti,
----------------------- Estou errado meu Amor!
----- Adoro Eça, Camilo, Junqueiro, Florbela. Dentro do que conheço e alcanço, prefiro-os. Releio-os sempre que posso, ávida e gostosamente, devoro-os em análise, intento até sentir-lhes a epidérmica concepção. Porquê?!
----- Por exemplo, estes iniciais versos dum belo poema do autor da 'Velhice do Pai Eterno', são uma autêntica aula de ritmo versejante e um enlevante banho poético:
------------ Oh minha mãe, minha mãe,
------------ Que saudade imensa
------------ Do tempo em que ajoelhado
------------ Orava ao pé de ti;
------------ Caía mansa a noite
------------ E as andorinhas aos pares
------------ Cruzavam-se voando
------------ Em torno dos seus lares
------------ Suspensos do beiral
------------ Da casa onde nasci.
----- O rosto, a voz, o jeito e a expressão que dá à escrita, a ternura de braço dado ao abanão repulsivo contra o abuso, dão-me que meditar e fascinam-me; não lhe conheço o movimento natural, que só imagino em êxtase. Porquê?!
----- Como segundo exemplo, nas mesmas métrica e rítmica de Junqueiro, exprimo-me eu agora em nome do 'eu-poético', esse estranho sintoma espiritual que tantos não entendem e poucos sabem definir:
------------- Oh Milene, Milene, Milene,
------------- Que intenso perfume
------------- Sinto em minha alma
------------- A arder sem o Teu cheiro;
------------- Apaixonei-me por Ti
------------- E se bem me abro e sinto
------------- Parece-me sem querer
------------- Que às vezes minto
------------- A este sentimento
------------- Tão puro e verdadeiro.
----- Admita-se que não se queira admitir, porque me integro vulgarmente simples no vosso seio virtual, a capacidade do complexo mental que domino.
----- Não admitem, relacionando, que uma cobaia humana possa alguma vez testar um cientista! Não admitem, outrossim - e isso é confrangedoramente nítido - que Deus não é nem nunca será o que um frágil cérebro humano quiser pensar!
----- Atrevo-me por um conselho extremamente eficiente e que não custa senão lê-lo: tenham juízo ou enlouqueçam!
----- Entretanto, brinquem muito, divirtam-se, intentem inverter a posição de locomoção ou, mais difícil ainda, o percurso alimentar, quiçá produzam uma nova e revolucionária matéria. Quem sabe?!
----- A Milene fez de Musa
----- E eu fiz de 'eu-poético'!
----- Um beijo saudável, Querida Amiga.
----------------- Torre da Guia ------------------
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