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Ensaios-->35. DE OLHO NO CARDINALATO -- 01/07/2002 - 06:42 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Reservo-me o direito de pronunciar as palavras que tenho na mente e impeço o escrevente de determinar qualquer vibração que não corresponda ao meu enunciado. Sinto-me forte para obter do amigo as melhores disposições e evitarei tudo que possa contrariar os aspectos mais sadios da doutrina. Vejo que consegui vir bem até aqui e prosseguirei pela forma que melhor expressa o meu vigor intelectual e emocional.

Há bem pouco tempo atrás, suportei muitos reveses de porte, coisa graúda para um mísero servo do Senhor, encarregado de pequenos serviços no âmbito da nunciatura apostólica. Era um bispo auxiliar e não podia oferecer muitos arremessos de vontade. Eis que agora tenho em mim esta força poderosa, pois notei que deste lado as coisas se desenrolam de modo muito diferente.

Através de investigações a que procedi no báratro, pude constatar lá vários religiosos até melhor situados que eu mesmo na escala hierárquica da Igreja. Não tenho muito, portanto, do que reclamar por me ver inferiorizado. Não suporto o fato de não ter tido razão nos prognósticos durante o sacerdócio, pois prejulgava-me em condições de subir diretamente aos pés do Senhor, em seu trono de luz. No entanto, reconheço que pouco fiz em favor dos irmãos na carne e que fui egoísta a ponto de me recusar a prestar socorro pessoalmente, enviando subalternos em meu lugar, pois me dava suma importância.

Hoje, conforta-me o fato de poder vir advertir os mortais que não temem ler as notícias do além. Sei que a maioria dos fiéis de nossas igrejas não se importam com os irmãos espíritas, levados que são pelos sacerdotes a concluírem que o melhor alvitre é dar ouvidos às suas palavras, recusando-se terminantemente a aceitar o benefício da mediunidade esclarecida.

É bem verdade que existem padres bem como superiores que reconhecem que suas luzes são poucas, mas esforçam-se por ficar longe da verdade, anulando as consciências quando os acusam de estarem cegos a conduzir cegos. Ainda bem que existe uma porção que deseja ultrapassar os limites das tarefas burocráticas da arrecadação de fundos, para irem em auxílio aos pobres sofredores que se debatem na miséria.

Se me fosse possível regressar ao mundo da carne na qualidade de protetor, como nós supúnhamos que era o papel dos santos, impedindo que os pecadores submergissem no lodaçal dos vícios, eu o faria plenamente consciente de resgatar os débitos que adquiri nessa derradeira jornada. Mas submeto-me à vontade do Senhor, que não admite que suas leis sejam burladas impunemente.

Para isso é que estou aqui: para realizar o desejo dos espíritos melhor categorizados que irão conduzir-me para os institutos e templos desta esfera, para me fazerem recuperar a memória, pois, segundo entendi, está na hora de conhecer a pessoa que fui antes do encarne para compará-la à que sou, com a finalidade de reavaliação dos ganhos e das perdas, para futuros comprometimentos com a existência.

Esta compreensão que adquiri me fez muito bem, no sentido de me fazer entender que devo depositar os paramentos do encarne eclesiástico, que não representam mais nada aqui. Aliás, é peso adicional para quem os carrega sem que tenham levado realmente Jesus no coração, durante a peregrinação no orbe.

Vejam, caros companheiros, que me proponho a tornar-me simples cidadão do etéreo, sem regalias do sacerdócio, despojado das prerrogativas da ordenação, com o último desejo de consagrar-me à verdade e à virtude. Nesse sentido, tenho pleno conhecimento de que preciso restabelecer os vínculos familiares que rompi ao rebelar-me contra a natureza, por aceitar o celibato clerical como homenagem ao Senhor e comprovação de que me sacrificava em sua honra. Pura falácia de quem almejava crescer perante a sociedade. Mas os meus péssimos impulsos devem ficar soterrados pelo sofrimento de que não me poupei, ao verificar que me tornara alguém bastante miserável no aspecto moral, principalmente porque fingia ser o que não era. Esse é o risco que não desejo correr aqui, nesta exposição sumária de alguns pensamentos desencontrados, fruto do meu desequilíbrio nestas circunstâncias.

Se fosse para elaborar alguma carta pastoral, não teria dificuldade, mas comprometer-me a revelar o que me vai no fundo da alma é muito diferente e desdiz até do brilho intelectual que procurei manter junto à comunidade a que servia.

Ponho o coração nas mãos e ofereço-me aos bons amigos para receber orientação. Faça-se em mim segundo a vontade do Senhor. Agradeço e peço perdão ao médium por tê-lo submetido tão fortemente à minha iniciativa, apesar de que, no final, acabei perdendo o “élan”, necessitando de sua ajuda. Quão diferente é aqui o domínio das pessoas pela vontade! Quando encarnado, bastava dizer “faça isso, eu quero aquilo, ouça bem”, e tudo se realizava segundo o ordenado. Nunca precisei, tanto quanto agora, reconhecer que o encadeamento das vibrações é importante para a manutenção da ordem geral. Enfim, não quero adiantar conclusões a respeito de algo para o que não estou habilitado.

Ainda bem que aprendi diversas orações e o valor de dizê-las com o coração contrito. É o que me valeu nos transes da agonia em que me via arrastado pelo egoísmo. Por isso, talvez, tenha permanecido tão pouco tempo nas sombras, pois faz pouco mais de dez anos que sofro errático pelos descaminhos da solidão. Graças a Deus, está no fim essa dura fase!

Devo confessar, afinal, que o que me conteve mais fortemente preso às cavernas foi a desonra de ter percebido, de modo tardio, que era gélido o coração, voltado para as delícias do poder, pois aspirava pelas honras do cardinalato, invejando aqueles que podiam ostentar as vestes vermelhas, com a mais subida glória de se verem convocados para a escolha eventual dos papas. Minha aspiração não chegava a tanto, pois me reconhecia pouco apaniguado intelectualmente e sem força política, no sentido de conseguir influenciar as vontades para a minha eleição. No entanto, sempre raciocinei que, se não chegasse ao conclave, não poderia ver-me diante da cadeira de São Pedro. Enfim, eis confessado o maior crime. Sei que, se não revelasse este imenso defeito, não teria sossego, pois a consciência não me permitiria olhar ninguém diretamente nos olhos.

Estou envergonhado e sentindo-me sujo, como o mais miserável dos entes abjetos; entretanto, sinto-me leve como quando me confessei perante o sacerdote, para o efeito da primeira comunhão. Como seria bom se a humanidade se pudesse manter pura como nesse momento de superior ventura espiritual!

Desculpem-me pela fragilidade com que me apresentei, pois sei que deveriam esperar de mim muito mais. Ascendi na escala da hierarquia religiosa, mas não pude crescer por dentro, conforme as oportunidades que me foram regaladas. Sinto-me bastante infeliz por isso e, sendo assim, rogo a Deus seu perdão, para este humilde servidor, que desejaria voltar à vida em condições inferiores, para não ter mais a desagradável sensação de queda de ponto tão elevado.

Pedem-me para encerrar. Estimo, portanto, que estejam satisfeitos e prontos para o socorro. Sei que não me apresentei condignamente, mas espero não decepcionar ao encerrar, propondo-me a orar a prece do Pai, com o máximo de fervor apostólico, dedicando a oração aos que vi sofrer nas trevas exteriores.

Muito obrigado, irmãos; Deus os abençoe e ilumine!


Comentário

É sempre com muita apreensão que trazemos para a escrita representantes e dignitários das fés religiosas que perpassam pelas sociedades da Terra. Dá a impressão de que estamos enfatizando a superioridade dos que, desde logo, se filiam ao Espiritismo, principalmente na linha da orientação kardequiana. Se esse for o sentimento do leitor, pode esquecer qualquer pensamento de supremacia doutrinal ou de apanágio em virtude dos conceitos mais próximos da verdade revelada. Todos os humanos são iguais e merecedores de nossa irrestrita atenção. Tanto nos faz trazer aqui ex-detentos, criminosos arrependidos, membros de seitas esotéricas, sacerdotes e pastores, como os irmãos médiuns que nos auxiliam nesta pregação de amor e boa vontade.

O que ocorre é a necessidade do atendimento, obrigação precípua neste momento de nosso crescimento em harmonia com as diretrizes evangélicas. No entanto, se o resultado do trabalho extrapolar a intenção e sugerir alguma conclusão aleatória da parte dos leitores, devemos refrear-lhes os impulsos, advertindo-os para o fato de que é o trabalho em prol do irmão carente que nos dará maior possibilidade de crescer em méritos diante do Pai. Sendo assim, é triste observarmos que as ganâncias humanas estendem as garras para prender todos os homens que não oram e não vigiam, desatentos para as palavras de Jesus, quando recomendam que deveriam despojar-se de tudo para merecer a glória de adentrar com ele o reino de Deus.

Não se veja, portanto, nos assistidos, mais do que almas sofredoras em vias de assunção de novos compromissos evangélicos. Qualquer outra idéia deve ser afastada como falsa e deletéria para o cumprimento das determinações de vida encerradas em cada projeto estabelecido para as criaturas encarnadas.

Perdoem-nos se não estamos a abrir facilmente a porta do céu a ninguém, mesmo aos filiados aos centros e federações espíritas. Contamos, entretanto, com sua desenvoltura moral, para que haja a possibilidade de fazer com que a sociedade venha a compreender que a voz de Jesus é que deve conduzir a humanidade rumo à felicidade eterna.

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