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Ensaios-->30. À SOMBRA DO OUTRO -- 26/06/2002 - 04:58 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

— Vá em paz, meu filho, realizar o que você tem para fazer. Não se prenda por nós. Sempre haverá tempo para que nossas manifestações se produzam. É bem verdade que devemos dar importância ao nosso trabalho, caso contrário não conseguiremos passar aos mortais a idéia de que devam trabalhar pelo bem do próximo.

Este que escreve é um pobre sofredor que veio espontaneamente trazer sua contribuição, na expectativa de merecer um pouco de carinho deste grupo harmonioso, que se dispôs a receber-me. Não vemos, contudo, como podemos contribuir com nossas míseras luzes, diante de tanto esplendor.

De início, pareceu-nos que a tarefa seria fácil, pois os compromissos do escrevente valeram-nos para que redigíssemos algo proveitoso. Agora, pondo a razão para funcionar, percebemos que até ali se pode ver algo de malicioso, pois era intenção nossa dissuadi-lo de persistir efetuando o apanhado do ditado.

Temos, portanto, que aceitar a perspectiva da censura e nos colocamos à disposição para o que quiserem saber.

Desejam principiar pelas informações do porquê temos tido este procedimento nefasto para o progresso.

É simples. Nós não nos atrevemos a romper as cascas das feridas para colocar nelas o medicamento adequado para a cura. Chegamos ao mundo purulentos, com graves pústulas a exalar péssimo odor. Era nossa ambição conseguir fazer com que cicatrizassem, através de muito trabalho penoso de recomposição moral. Entretanto, ao invés disso, embalados por vida gostosa, plena de pequenas felicidades materiais, empenhamo-nos por dar continuidade ao prazer de viver, esquecidos de que havia algo mais a realizar.

Querem que discorramos a respeito desta capacidade de auto-análise, quando a nossa percepção na Terra se manteve ofuscada pelas premissas próprias do encarne.

É que nascemos em lar abonado, devendo ter feito de tudo para repartir as benesses do nascimento afortunado com os pobres. Ao invés disso, tornamo-nos ásperos e mesquinhos.

Como é que, agora, sabemos reconhecer a falta de virtude, sendo que nada que dissemos indica a possibilidade de termos tido esclarecimento?

Pois aí está a parte triste da história. Nossos pais eram criaturas piedosas e tudo fizeram para que absorvêssemos os princípios religiosos da fé católica. Sabíamos, desde pequenos, recitar de cor o catecismo e tínhamos noção exata dos deveres morais do bom cristão. Não era crível que pudéssemos perder-nos com tão suave tratamento. Tudo possuíamos: dinheiro, inteligência, conhecimento e, no entanto, fomos incapazes de perceber que deveríamos aplicar o capital em favor do desenvolvimento da capacidade de amar. Conhecíamos a doutrina teológica e sabíamos que haveríamos de praticar a fé, a esperança e a caridade, virtudes essenciais para o bem espiritual, no entanto, azedamos a massa através de levedação impura, conforme chafurdávamos cada vez mais nos vícios.

Durante mais de trinta anos pudemos refletir a respeito disso tudo. Pode parecer muito para quem estiver lendo, mas pedimos que considere a esquematização da escrita como necessária para que passemos os pensamentos, embora não seja este o método mais eficaz para demonstrar os sentimentos e os sofrimentos que nos atenazaram a consciência culpada.

Adentramos a vida em condições de inferioridade moral; dela saímos em estado muito pior. Evidentemente, estamos falando de modo genérico, pois tememos adentrar profundamente em cada acontecimento que, de per si, falaria em desfavor de nossa compostura atual. Chegamos a praticar diversos crimes, mas estamos inteiramente cônscios desses males e da necessidade que tivemos de expiação. A isenção emocional de hoje não diz dos tremores infernais que sentimos. Quem já se sentiu impaludado, com febre terçã, sabe que os frios da desesperação são terríveis de suportar, a ponto de tornar o indivíduo variado, em vias de enlouquecimento. Após, entretanto, a aplicação do quinino, a malária vai cedendo, os tremores vão diminuindo e o bem-estar que se sente não demonstra toda a angústia da crise. É por isso que já não nos estamos demonstrando aflitos; é que o mal maior passou.

Acreditem em nós e saibam que o plural que estamos utilizando não se deve de fato à nossa modéstia: é que falo em nome também de outra criatura que comigo tem partilhado todos os sofrimentos, desde o rompimento do invólucro carnal. Generosamente, o Senhor nos possibilitou rigoroso amparo de um para com o outro. Sofremos juntos a angústia do suicídio. Tivemos de nos amarrar um ao outro, acorrentados pelo destino. Não que fôssemos amigos no plano da espiritualidade. Na vida, tivemos a idéia da desfeita ao Senhor em conjunto. Sabíamos que se tratava de pecado capital e que iríamos ser punidos com as chamas infernais. Mas desafiamos, ainda assim, tudo o que nos haviam ensinado na Igreja Católica.

Seria imensamente tedioso ficar expondo todos os pensamentos que nos assaltaram durante este período de loucuras e de dor. Basta que se compreenda que não houve firmeza na concepção do mundo como criação de Deus e nos atolamos no lodaçal da amargura e das acusações, quando da descoberta de nossas fraquezas.

O amparo que agradecemos a Deus, aquele que dávamos um ao outro, era o das lágrimas pelo esclarecimento que nos proporcionávamos das extremamente infelizes condições a que nos víamos rojados.

Neste instante, somos capazes de definir os erros e somos capazes de suportar um ao outro, sem saber bem o que fazer para restaurar os princípios saudáveis para merecermos novo encarne.

Querem saber se não nos importaríamos de nos separar. Por mim, tudo bem, embora vá sentir alguma saudade, pois me afeiçoei a esse ser, já que não nos foi possível atar relações de amizade com mais ninguém, desde que nos vimos perdidos nas cavernas do Umbral.

Sabemos que devemos ter recebido ajuda externa, pois ouvimos, muitas vezes, vozes amigas a recitarem preces por nós, mas nunca conseguimos retirar-nos do estranho mundo por onde perambulávamos em busca de algum refrigério para o sofrimento. E esse era o motivo das divergências, pois, enquanto um queria ir para um lado, o outro o arrastava para outro. E isso perdurou por longos anos. Hoje, as cadeias da corrente estão rompidas e conseguimos estar afastados por algum tempo, sempre voltando a nos encontrar ao ouvir o apelo do companheiro. Mas creio que, se for esse o preço que deveremos pagar pela recuperação, estaremos de acordo quanto à separação.

Temo que a exposição não tenha deixado rastro claro que se possa percorrer para nos reconstituir a vida. Mas fiz de propósito não citar passagens da vida conjunta, pois não quero ofender de novo o amigo, para não revoltá-lo. Sei que faria o mesmo por mim. Peço, portanto, aos irmãos que me perdoem se me furtei à curiosidade dos que desejariam conhecer melhor o nível de nosso relacionamento, para poderem extrair algum ensinamento que lhes serviria de alerta, para não caírem na mesma armadilha, em sua conjuntura de vida.

Apenas como indício, devo dizer que tudo se fundamentou em profundo amor homossexual, o que não teria sido nada perverso, se não fosse baseado em profundo egoísmo e em louca animadversão por tudo o mais santificado que existe no mundo, especialmente a formação de um lar em que se pudesse dar guarida a outras entidades que, agindo como o fizemos, ficaram na expectativa frustrada do atendimento.

Qualquer desenvolvimento que venha a executar relativamente a possíveis considerações de caráter espiritual iria obrigar-me a estender-me largamente, portanto, peço que me liberem do peso das más recordações, permitindo deixar o escrevente livre para as tarefas domésticas.

Tenho vergonha de confessar os crimes, os pecados, a péssima formação. Extremamente vaidoso, jamais me permiti qualquer censura, acusando, antes, a sociedade pela incompreensão do nosso enlace sentimental. Só agora, depois de tanto sofrer, é que me deixei levar pela fantasia, uma vez que, estando aqui a confessar-me, imaginei algo como que acontecido com outras pessoas, para poder manter-me lúcido e equilibrado.

Ocorreu-nos que poderíamos volver à Terra, sem o peso da homossexualidade — perdoem-nos os leitores que passam por esse crivo moral —, para formarmos lar poderoso moralmente, onde pudéssemos refazer os sentimentos que nos prenderam, de forma mais consentânea com a moral vigente, dando a outros seres a oportunidade de volverem à luz para a realização de planos de recuperação e progresso.

Relendo tudo o que escrevi, achei que não fui feliz nas expressões que utilizei em relação ao meu amigo. Por isso, gostaria que oferecessem a ele também a oportunidade de manifestar-se, pois acredito que irá expor o seu lado do nosso sofrimento mútuo, de forma mais correta e elucidativa.

Peço-lhes perdão e me proponho a orar a prece dominical, para demonstrar que sou temente a Deus e me ofereço ao sacrifício pessoal, se isto for proveitoso para o meu amigo.

Vejo que não está por perto, mas será só chamar pelo nome, dizendo que estou aqui, que comparecerá em seguida.

Como é que não vem? Será que se dispersou pelo mundo ou vocês estão a me esconder algo terrível? Ele me acompanhou até chegarmos aqui, tendo ficado sentadinho durante boa parte do tempo. Não estará ao lado de outro médium, levado pela equipe? Pois gostaria que me elucidassem o mistério, pois o amigo a quem tenho atormentado com minhas vibrações está suspeitando que, desde há muito, tenho vindo criando a imagem daquela criatura com quem partilhei as fugazes alegrias terrenas. Pois estou a querer até acreditar nessa possibilidade, pois tudo o que dizia era repetido por ele, automaticamente, quando era possuidor de forte personalidade, tanto que foi quem me induziu ao suicídio.

Vejo que minhas palavras estão perdendo-se no vácuo, tendo sido só pequena parte transposta para o papel! O amigo não é mais capaz de ficar inteiramente à disposição. Sinto-me volver ao estágio de sofrimento das trevas. Cuidem de mim, pelo amor de Deus!


Comentário

O assistido precisa de atenção redobrada do grupo. Toda a harmonia espiritual que tinha criado, com base em elaboração fantasiosa, fundiu-se, de repente, e a angústia do passado volveu a sufocá-lo, não tão intensamente quanto quando estava perdido no espaço, mas, com a perturbação da consciência, evolou-se o sustentáculo que o mantinha coerente, a partir do raciocínio de que estava destinado a recompor a existência por meio do encarne que pleiteava.

Evidentemente, a complexidade dessa personalidade extrapola as linhas definidas na exposição, de sorte que é preciso caracterizar a etiologia dos males que lhe produziram as feridas que mencionou de início.

Cremos que a curiosidade do amigo leitor vá ficar insatisfeita, pois o que nos traz a este trabalho é a esperança de auxiliar na restauração perispiritual dos sofredores. Quanto ao assistido, pensamos ter-lhe oferecido condições de reflexão adicional, para elucidação do ponto crucial de sua saga, qual seja o de que a imaginação deveria finalmente ceder diante da realidade.

Oremos, irmãos, pelos que fantasiam a existência, sonhando poder concretizar amores, quando só vestem os egos supervalorizados com os trajes da vaidade e da presunção de superioridade.

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