Usina de Letras
Usina de Letras
277 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62073 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10302)

Erótico (13562)

Frases (50484)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6164)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Ensaios-->21. LUZ INTERIOR -- 17/06/2002 - 05:51 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

São poucas as pessoas que têm a possibilidade de dizer que são impulsionadas na vida por suave luz interior. Sem menosprezo por nenhum ser que conhecemos, devemos dizer que não há ninguém em nossas relações que tenha tal apanágio.

Vamos dizer mais: não há ser encarnado no mundo que tenha recebido missão de caráter superior nessas condições. Eu, por mim, não tenho e isso, talvez, se constitua na chave para abrir esse misterioso cofre: é que a pouca visão do comentador não lhe permite enxergar as bem-aventuranças alheias. Eis a trave a embargar a vista, como nos ensina Jesus em seu evangelho.

Poderá o amigo leitor dar-me a conhecer alguém que tenha força muito grande, capaz de desmentir-me? Que atributos são necessários para perfazer a glória de possuir esse bem? O principal deles, evidentemente, é o amor a Deus, cumprindo-se o mandamento principal da lei, conforme explanação cristã. O segundo é o afeto dedicado à humanidade, como expressão maior da possibilidade de expansão, mais do que sentimental, altruística, em perfeita sintonia com o anseio da vida, que nos põe lado a lado para que construamos o mundo.

Há outros indícios claros: a boa vontade, a paciência, a comiseração, a fraternidade, a virtude atenta para o bem, o belo e o justo, o apego ao trabalho produtivo e honesto, o respeito à causa comum, em apoio às iniciativas esclarecedoras, para que os vícios sejam debelados, a formosura de caráter, a singeleza de atitudes, a modéstia, o recolhimento espiritual, a humildade e a dedicação do próprio tempo ao crescimento dos atributos. Esses são, dentre outros, os combustíveis que permitem à vela do bem maior manter-se acesa no íntimo de cada um.

Pedem-me para ser mais claro relativamente às minhas intenções de sermonário. Se me interpretarem como religioso a pôr em dúvida a seriedade das atitudes de seu rebanho, vão enganar-se, porque não sou qual pastor disfarçado de ovelha, à espreita de surpreendê-las no desvio de conduta. Tenho para mim que os objetivos superiores da vida devam ser rigorosamente respeitados no relacionamento entre as pessoas.

Fui criatura cordata e absolutamente tranqüila durante a última passagem pela carne. Conforme declarei, não possuo aquela luz que tentei caracterizar a pedido dos amigos socorristas. Fui padre, sim, e obtive para a religião muitas vitórias morais, sem que, entretanto, tivesse tido, ao regressar, a ventura de ser recebido por nenhuma legião de anjos, anunciando-me a abertura dos portais do céu, por meio dos claros e festivos toques dos clarins. Mas sempre hei de purgar alguns deslizes, pois não há quem seja perfeito.

No inferno, não me vi arremessado e isso me satisfaz plenamente. Por enquanto, a convivência pacífica com os amigos me tem oferecido motivos para manter viva a esperança em que esteja bem próximo o dia da redenção.

Salvem o Cristo—Jesus, o Espírito Santo, o Senhor de Israel e Maria, Virgem Santíssima! Não me canso de orar em favor dos pobres e dos desvalidos, no santo desejo de ver todos adquirindo méritos para elevá-los diante dos olhos do Pai. Serão ouvidas as minhas preces? Com certeza, pois Deus não deixa, como bom pastor, ovelha alguma desgarrar-se.

Um dia, um gaiato perguntou-me, como gosto muito de falar metaforicamente, o que faz um pastor com as ovelhas. E lhe disse que conduzia o rebanho ao Senhor. Aí me perguntou o que fará o Senhor com o rebanho. E lhe disse que o protegerá do mal. Mas o indivíduo não entendeu a figura e insistiu em dizer que o Senhor deseja as ovelhas para tosquiá-las, para utilizar-se da lã para se vestir, para ordenhá-las e de seu leite alimentar-se e para matá-las, para oferecer ao seu povo a carne e o sangue. Disse-lhe que era ridículo estender a figura, tão harmoniosa e tão dentro dos preceitos evangélicos, de modo tão demoníaco. Tentei expulsar aquele ser asqueroso para as trevas, mas insistiu em ridicularizar-me a imagem, dizendo algumas pornografias que o pastor fazia com as ovelhas, etc.

Não é que essa idéia se me fixou na mente?! Não tinha o menor trabalho em vida de encontrar meios para rejeitar as tentações. Era-me extremamente fácil, pois, forte como os touros, puxava o cabo da enxada como qualquer trabalhador da roça e fazia-o no intuito de exaurir-me, não dando oportunidade de os problemas psíquicos se constituírem em estorvo para o meu desempenho eclesiástico. Quando falei em “cabo da enxada”, entendam-me, por favor: é que se trata de linguagem figurada. Quis dizer que me dedicava extenuadamente aos serviços da paróquia, não me dando tempo de perquirir dos descaminhos que a maldade intentava abrir em meus pensamentos e em meus sentimentos.

Estão a argumentar comigo que fugia da evidência de que algo havia dentro de mim a exigir solução. E pensam que me estão a dizer novidades? Bem sei que os homens têm um demônio a lhe assoprar maldades. Mas também é dotado de um anjo bom, que se chama consciência, que lhe dá pleno domínio da vontade. Além do mais, quando algo não ia ou não vai bem para a pessoa, restam os recursos da oração e da meditação a respeito da vida dos santos, para demonstrar que é possível superar-se o mal, onde quer deseje instalar-se. Se isso for fugir ao problema, então deverei dizer que se enganam, pois jamais irei dar ouvidos aos péssimos conselhos, uma vez que sei muito bem quais são os atributos que conduzem o homem à santidade e deles não me afastarei um milímetro, enquanto não me vir na condição de possuir aquela luz interior.

Se acham que estou perturbando-me com as questões, podem insistir o quanto queiram, pois a paciência citei como uma das primeiras virtudes que devem estar presentes no caráter dos indivíduos. E paciência não me falta. Se quis expulsar o demônio que me tentava, é que não era perfeito como Jesus, que sofreu as tentações do deserto, até que obrigou o demo a se afastar. Eu também ouvi a voz do maligno, só que não fui capaz de rechaçá-lo. Esse é o sinal da diferença entre o ser superior, o deus feito homem, e este mísero e infeliz que luta por tornar-se santo.

Querem saber se me martirizei para conseguir as regalias dos anjos. Fiz tudo que estava ao meu alcance e ajudei muitos pobres. É verdade que minha cama era macia e minha mesa, farta. Mas isso é o mínimo que toda pessoa deve ter. Repartia tudo com os padres da congregação e jamais pude dizer que tal ou qual objeto fosse meu, tal a minha consciência de que tudo pertence ao Pai. Não será por aí, meus filhos, que vocês irão fazer-me cair em suas armadilhas.

Não existem armadilhas de amor. Vocês querem mais é ver-me em combate íntimo, por ter dito que não possuía luz alguma e que desacreditava que houvesse alguém encarnado com essa condição. As suas tentativas de me enredarem em sua bondade...

Dizem-me que a armadilha de amor foi aquela que eu mesmo preparo para mim. Teria caído em esparrela santa? Não terei agido sempre pelo amor de Deus e dos homens? De que me adiantou orar tantas vezes para que o Pai afastasse de mim o cálice das tentações e das dores, se não sou capaz de reconhecer que está muito longe o momento de adentrar o paraíso? Será que todo o meu aparato intelectual e sentimental de nada valerá para demonstrar os méritos de minha peregrinação?...

Verdadeiramente, aplicando o sinal da modéstia a tudo quanto venho escrevendo, sou obrigado a considerar o orgulho do dever cumprido como uma das falhas de meu caráter. Mas não poderá o grande Francisco de Assis julgar-se, ele mesmo, merecedor de seu lugar no céu, ao lado direito do Senhor? Se assim pensar, será sinal de pecado, de orgulho, de egoísmo? Não será permitido ao ser superior reconhecer os próprios méritos?

Que méritos são os meus? Os do orgulho certamente não são, pois não iria vangloriar-me por ter servido ao Senhor. Sei que muito precisarei fazer pelos homens, para poder ascender aos páramos celestiais.

Começar desde já? Pois eis aí algo que me entristece, pois, como encarnado, era fácil distribuir amor, na forma de esmolas e de caridade. Não havia lar nas redondezas do convento que se visse no sofrimento da fome ou do frio. Em verdade, os que adoeciam mereceram sempre a nossa atenção, pois conduzíamos o viático até as choupanas mais humildes e jamais deixamos alguém sem a extrema-unção. Era a nossa possibilidade e o nosso afeto por todos se distribuía.

Se, às vezes, alguém batesse à porta e não atendíamos é porque nada havia na despensa. Nesse caso, repartíamos a fome. Querem saber se se trata de figura de linguagem ou se estou empregando os termos em sentido próprio. Pois lhes disse que nunca nos faltou do que nos alimentar, então, estou dizendo em tese, como hipótese a ser desenvolvida para a compreensão de nossa intenção. Em casos concretos, a congregação assumia a responsabilidade do atendimento, ou do encaminhamento, ou do resguardo das entidades enclausuradas, para honra e glória do Senhor. Por isso é que as pessoas do sexo feminino eram simplesmente aconselhadas a procurarem as freiras que existiam ali perto.

Dizem-me que faltou, na minha relação do santo, a pureza da manifestação; que era melhor ter calado a relação dos atributos, pois podia parecer que era só para me convencer da necessidade de cada qualidade, uma vez que não as encontrava em mim e, por isso, buscava em outras pessoas.

Tentei aceitar, honestamente, a sua posição, mas não vou, desde logo, derrogar o meu direito ao livre raciocínio. À medida que o tempo passar, prometo que tentarei estabelecer os nexos para a compreensão dos dizeres, pois acredito estar diante de pessoas decentes, já que o meu exorcismo íntimo não as afastou da decisão de ajudar-me. Parece-me santa sua intenção e, no entanto, ainda acho que não estão certas em me considerarem tão necessitado de auxílio.

Relendo o que deixei escrito, posso perceber que as idéias foram bem expressas e que pude dizer tudo o que sentia. Mas tenho muito mais para revelar e, por isso, solicito permissão para voltar outras vezes, não precisando que as palavras sejam escritas. Percebi que a mediunidade me foi colocada como óbice ao meu raciocínio católico de que os mortos não podem contatar o plano dos vivos. Essa lição, levo claramente expressa. Não há como negar que tudo o que se registrou se deveu às minhas vibrações, embora alguém, na Terra, pudesse dizer que foi invenção do escrevente. Fique-lhes a sua certeza, pois não serei eu quem irá convencê-los para o espiritismo.

O que quero é aproveitar a oportunidade de trabalho. Pareceu-me ter ficado claro que o cansaço produzido pela minha dedicação às tarefas era o meio de me levar à alienação das forças energéticas que não conseguia controlar. Era só produto da fantasia para forçar-me a aceitar algo que a consciência me revelava imperfeito. Pois bem que desejei aceitar a oferta de trabalhar, para ver se voltava a privar-me da necessidade desse constante exame do que me vai na alma. Mas promessa é promessa. Podem levar-me com vocês que demonstrarei que tenho força de vontade e que sou capaz de cumprir os votos de obediência e de silêncio, se me forem exigidos.

Deus abençoe a todos vocês, caríssimos irmãos, e ao amigo escrevente, cujo coração se viu apertadinho por tê-lo feito trabalhar com tanta pressão, para que as impressões morais fossem realmente aquelas que se punham nas palavras! Sinto muito por não ter tido força suficiente para produzir algo melhor, que pudesse satisfazer-lhe os desejos de bom escrevente. De qualquer modo, entretanto, sinta-se feliz por estar amparado por tais protetores. Se eu tivesse mais desenvolvimento, talvez pudesse enxergar neles a luz interior cuja existência desacreditei nos humanos. Quem sabe seja esta a primeira merecida lição que aprendi.

Deus os abençoe!


Comentário

Típica manifestação que enseja muitos comentários, vamos simplesmente dizer que o resultado foi satisfatório. A entidade buscava, no recolhimento íntimo, no disfarce de suas forças intelectuais, a modéstia, diante da criação e da Divindade.

Durante a última encarnação, foi coagido a aceitar princípios que forcejou por introjetar. Esse foi mérito profundo de quem tem por retrospecto tendências à rapinagem e à guerrilha. Se todos os encarnados pudessem progredir tanto em cada encarnação, para breve teríamos a Terra como planeta de restabelecimento e de felicidade.

Não se perca o leitor, pois, imaginando o duro cenho de quem se apresenta como representante de Deus a fustigar os pecados. Antes, estime o irmão como a um igual, filho de Deus, criatura bem amada, que, mais rápido do que se possa imaginar, irá descobrir que carrega dentro de si, também ele, centelha de amor.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui