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Ensaios-->16. ONDA DE AMOR -- 12/06/2002 - 06:14 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sempre que desejo algo para mim, procuro concentrar-me e logo detenho o que quero. Imaginei que estava na hora de vir escrever e logo para aqui me transportei, com a ajuda, é claro, de certos irmãos que se encarregaram deste serviço. É a isto que denomino de “onda de amor”. Se tudo no universo fosse assim, que grande maravilha seria!

Quando andava pelo mundo, gostava de pensar exatamente desse jeito; punha-me a pensar com força em alguma coisa e, mais cedo ou mais tarde, obtinha o que desejava. Era muito feliz.

Hoje, não posso dizer que não seja mais feliz mas é muito diferente. Outrora, obtinha bens materiais e isso me satisfazia. Agora, não encontro nada para fazer, a não ser ficar indo de um lado para outro, perdida, não sabendo bem onde estou e o que pretendo. Por isso, até estranhei quando imaginei esta situação de estar escrevendo.

Meu irmão leitor, não se prive de ir conversar com seus amigos. Deixe de lado este texto sem força e sem sentido e vá espairecer. Por certo, você terá algo mais valioso com que se entreter. Não sou boa companhia, pois nada ofereço que possa ser de proveito.

Se você ainda estiver interessado em acompanhar este discurso, resigne-se a aceitar a idéia de que muito terá de ter paciência, para só matar a curiosidade de saber o que se passou comigo, pobre ser inferior das catacumbas e da escuridão.

Eu era boa mãe de família, até que desandei à cata de luxúria. Foi minha perdição. Como disse que era pensar muito e obter o que quisesse, foi assim que fiz para ter ao meu lado certo jovem que vira na praia. Era alto e forte e fiquei imaginando como seria ficar com ele, tão diferente de meu marido, baixo e atarracado, pegajoso e peludo. Se pudesse, faria algumas descrições interessantes, mas estão a dizer-me que as pessoas conhecem tudo o que possa oferecer, conforme o que eu mesma supus. Pedem-me para demonstrar arrependimento, o que é condição para se ter chegado até este local.

Pensei que fosse só desejar e já estaria aqui. Se quiser sair, basta concentrar-me... Mas não tenho para onde ir. É verdade que desejei não ter vivido daquela forma. O meu marido é que não gostou de saber o que lhe aprontei e foi logo batendo em mim, dizendo isso e mais aquilo.

A cena de ciúme resultou em sangue e eu, para não ser ferida, defendi-me e o matei. Não tive mais sossego, pois a polícia investigou direitinho e percebeu que eu tinha um amante. Como era idiota, meu Deus! Fui logo cair nas garras de um ser perverso, que me deixou na rua da amargura. Quando me livrei da condenação, pois ficou tudo claro nos autos do processo, que me defendera ao ser ameaçada de morte, fui procurá-lo e recebi sonora gargalhada, que não estava “nem aí” com o que me havia acontecido e que não queria ficar ao lado de um ser tão estúpido que não foi capaz de guardar um segredo.

Aí houve outra cena, mas o camarada estava prevenido e não me deixou assaltá-lo com minha faca.

Guardei muito ódio no coração e esqueci que havia uma possibilidade de desejar e conseguir. A onda de amor é bem diferente daquele rancor que guardava comigo.

Aí surpreendi o vigarista e lhe dei três facadas no bucho. Na hora, pensei que estava tudo bem, mas, de novo, a polícia ficou sabendo que fora eu a assassina e não me perdoou mais. Já não era mais legítima defesa, mas crime premeditado, sem circunstância atenuante. Estas palavras todas martelaram-me a cabeça durante muitos anos na cadeia e depois que saí, até o dia em que voltei a imaginar, já no etéreo, que podia esquecer-me, se tivesse bastante força de vontade. Eram palavras que ouvi o advogado dizer ao juiz ou que o promotor de justiça falava, apontando para mim, como se eu fosse a pior das criaturas.

Pois fui mesmo muito ruim para meus filhos, que eram ainda muito crianças quando tudo isso aconteceu. Eram três meninos, que me passaram a odiar por todas as razões, porque tinha assassinado o seu pai e porque fiquei para sempre longe deles. Até que tiveram sorte, porque a família do meu marido tomou conta deles, até que se viram adultos.

Passei vários anos na cadeia e lá vi o que é a miséria humana, junto daquelas mulheres-monstro, que só sabiam desejar coisas para si e ameaçar as outras. Eu bem que me senti em casa, pois dava medo em muitas delas e não fazia questão de dizer que havia matado dois. É por isso que até hoje não escondo o que fiz, especialmente porque paguei pelos crimes de sangue.

É verdade que muitas coisas ruins se passaram atrás das grades e que, depois que saí, também me tornei mulher da vida, fácil que nem quiabo para pegar, mas escorregadia por dentro que não havia meio de me prender pelo sentimento. Esta imagem levei muito tempo para compreender, pois houve quem verdadeiramente me quisesse ao seu lado, mas estava muito escarmentada da vida para aceitar tudo “numa boa”. Esse foi o terceiro e mais sério erro de minha vida, pois fiz do coitado gato e sapato. Dei-lhe todos os motivos para me abandonar, mas resistiu até o fim.

Quando estava bem velhinho até que tive pena dele, mas aí era tarde: não adiantou mais ficar desejando voltar atrás que não iria mudar coisa alguma.

Essa foi a minha vida, transição para o nada que sou agora. Bem que avisei que não valia a pena seguir o meu escrito: eu me conheço e sei até que ponto posso atrever-me. Quando estava presa, li muitos livros e, por isso, posso dizer que não sou capaz de fazer nada que preste nesse setor, embora consiga concatenar as idéias e repetir algumas frases que marcaram a minha vida. Mas isso foi há muito tempo e agora nada mais significam. O que li, para esclarecer os que se sintam curiosos, eram romances apimentados, literatura barata; nada de livros espíritas ou obras de valor. Aliás, sei que isso existe exatamente por ter recebido vários livros dos amigos da cadeia, que desconfiava que desejavam me acalmar. Botei tudo fora, como fiz com a minha vida.

Mais tarde, cheguei a comparecer a diversos centros de umbanda, se isso representa algo em minhas lembranças que se possa aproveitar. Cheguei até a pedir algumas coisas e conseguir. Foi daí que me veio à cabeça essa “onda de amor”, a coisa mais bela que jamais tive a oportunidade de criar dentro da cabeça. Quando penso nisso, até fico toda arrepiada, pensando que haja alguma coisa de bom dentro de mim.

Hoje, acho que me fiz bem entender. Não escondi nada e penso que já tenha pagado todos os males, quer na prisão, quer procurando ir de um lado para outro, na intenção de esquecer-me de tudo, para não ter de reviver a cada hora os momentos penosos dos assassinatos e do abandono do lar. Acho que está na hora de concentrar-me bem forte, no desejo de voltar a nascer na Terra, para poder oferecer os meus préstimos a alguém. Soube que isso é possível, pois tive a idéia de procurar o meu marido e me disseram que era bem capaz de ele ser uma daquelas crianças que vi nos braços da minha nora, uma que me recebeu muito mal e quase me botou para fora da casa. Nunca mais voltei lá.

Mas essas são histórias tristes de um passado morto. Agora, gostaria de saber o que devo fazer para conseguir manter este estado de euforia que me domina e me empolga, a ponto de estar sentindo ter de deixar este posto, para voltar a correr pelo mundo, sem paradeiro. Se me puderem manter com vocês, prometo que não vou ter nenhum acesso de raiva. Podem até me castigar, como quando estava na prisão, onde costumavam jogar água fria em mim, até me sentir mais calma.

Que desespero, meu Deus, esta existência atribulada. Façam por mim a mesma onda de amor que senti quando vim parar aqui, por favor. Eu lhes peço com muita humildade e me proponho a qualquer coisa que desejarem. Peço perdão por me lembrar dos fatos grosseiros da vida — ainda bem que o médium não escreveu a bobagem que vibrei em forma de pensamento erótico. Mas fiz questão de fazer referência ao fato, para demonstrar o quanto estou disposta a fazer para conseguir mais alguns momentos de sossego.

Vejo que estas lembranças do tempo em que estive solta no mundo, aprontando de tudo para sobreviver, estão muito fortemente impregnadas em meu ser, a ponto de me ter feito conduzir muitas vezes para casas de prostituição, para repetir lá os atos a que estava acostumada. Há forte censura neste aspecto, mas não vou deixar de referir-me a algo que me tem atormentado tanto. Por isso é que cheguei considerando-me a mais inferior criatura. Por isso é que recomendei que o leitor se afastasse deste caminho tenebroso que é a minha consciência. Pelo amor de Deus, façam com que eu deixe de desejar tanto certas coisas, pois não consigo ir até o fim de nada, e só fico exasperada, pronta para fazer o mal às pessoas que se deixam envolver sensualmente pelos mesmos sentimentos.

Vejam com que cuidado estou sendo conduzida por meio destes feios pensamentos. Podem acreditar que, se não fosse pela atitude de modéstia e de recato dos que estão aqui, deixaria por escrito umas cenas bem nojentas, que são os quadros vivos do meu tormento, da minha angústia.

Pedem-me para dizer que tudo o que não deixei registrado pude dizer à vontade para os amigos da espiritualidade, senão vão pensar que haja aqui policiamento, a ponto de se refrear a liberdade das pessoas. Aqui nós podemos demonstrar tudo o que somos, pois não conseguimos desrespeitar ou escandalizar ninguém. Pedem-me para dizer que só no que concerne à transmissão mediúnica é que estou impedida, pois isto poderia levar certos leitores à prática de pensamentos libidinosos, o que contrariaria todas as premissas evangélicas.

Quero dizer que me puseram na boca as palavras certas. Bem que me propus afastar-me para que dissessem tudo o que queriam, mas me fizeram porta-voz de suas razões, para que, segundo eles, pudesse entender a diferença entre as entidades por meio de suas expressões.

Realmente, não seria capaz de pensar desse jeito, mas pareceu ter ficado bem claro que existem outras coisas por detrás da aparência de santos que assumem esses seres, quando vão buscar os pobres na escuridão. Quando disseram que qualquer coisa que dissesse eles já sabiam, era bem a expressão da verdade.

Que bom que estou sentindo-me bem aliviada da pressão com que cheguei. Pensei uma coisa e foi outra bem diferente. Estava com medo que me xingassem, que dissessem que era isso ou aquilo. Na verdade, o que me ofereceram foi muito mais do que suspeitava. Se vocês querem saber, muito me arrependo por não me ter convencido há mais tempo a acompanhar estes seres maravilhosos, pois convites não me faltaram.

Mas estava cega para esta compreensão, pois achava que aqui era lugar de sofrimento e de remorso. Sei que não vou continuar assim “fresquinha” como me sinto agora, franga nova no galinheiro. Vai haver o momento de fornecer a minha carne para o caldo do doente. Só espero que nessa hora esteja preparada para o sacrifício e que o faça na intenção de curar alguém, pois compreendi que esse é o caminho, já que é assim que fazem estes que me ligaram ao grupo em verdadeira onda de amor.

Queria encerrar com esta frase de efeito, dando ao fim a ligação com o começo, mas me pedem para oferecer o meu agradecimento a todos quantos vibraram comigo, dizendo a prece dominical, com o máximo de entusiasmo de que seja capaz.

Pois farei mais que isso: declaro, para encerrar, que, de hoje em diante, procurarei corresponder às expectativas dos que depositaram confiança em mim.

— Pai nosso...


Comentário

Queremos enfatizar a inspiração de nossa companheira, no sentido de dizer que, realmente, a linguagem que transparece nos textos resultantes dos depoimentos está bem longe de refletir aquela dos sofredores, muitos inibidos por circunstâncias especiais até de se manifestar com coerência. Para não se suspeitar de fraude, devemos ressaltar que muitos termos advêm diretamente das perorações que se fazem durante a transmissão mediúnica.

Não há como registrar no papel integralmente tudo o que se passa durante a doutrinação, especialmente porque há entrechoques de pensamentos e longos períodos de silêncio.

Se fôssemos gravar em vídeo o que ocorre, poderíamos oferecer melhor idéia da verdadeira avalancha de situações que se demonstram e de diálogos que se travam, mas nem assim se conseguiria trazer à tela todos os influxos energéticos que constituem a luta entre o debater revoltado dos assistidos e a firme serenidade que precisam manter os orientadores. Entretanto, daríamos melhor noção do que se passa. O registro escrito é, pois, só pálida demonstração do roteiro, fruto da exteriorização, muitas vezes maliciosas, das entidades em tratamento.

Não há, pois, como extrair daí conhecimento total do trabalho que empreendemos, a não ser por meio das exposições teóricas dos companheiros, nas explanações apreciativas dos dramas e na suposição da realidade psíquica pela explicitação dos sofrimentos. Fica o mais à conta da imaginação do leitor. O que não se pode negar é o fato de que a dor existe e de que a perturbação será sanada por tratamento de muito carinho, em real onda de amor.

Fiquemos todos nas mãos de Deus!

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