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Ensaios-->14. UM SUJEITO DESAVISADO -- 10/06/2002 - 11:56 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Eu quis deixar bem claro desde o título a minha condição de ser muito inferior, pois, quando encarnado, pratiquei todos os atos de vilipendiação que se possa imaginar. Sei que existem seres inferiores a mim, ainda mais afastados do divino amor, que não chegam sequer a admitir a hipótese de que Deus existe. Eu não. Eu sempre desejei fazer as coisas a meu modo, para chamar a atenção de Deus para a minha pessoa. Pensamento imbecil, difícil de entender e de suspeitar em quem seja capaz de conceber a idéia da existência do Pai! Era a expressão superior do orgulho a criatura cobrar do Criador que atentasse para ela. É, realmente, disparate muito grande.

Vejam que situação a minha, quando para aqui aportei, sem mérito algum, querendo saber por que o Pai não me havia, desde logo, puxado as orelhas, para que me desviasse daquele padrão de procedimento. Aí foi difícil para a minha compreensão admitir a justiça celeste, porque achava que, se Deus não se apresentara diante de mim para sustar os crimes que ia praticando, não podia me arremessar na escuridão do báratro. Era assim que desviava a responsabilidade dos sórdidos atos a outrem, exatamente àquele a quem deveria respeitar.

A muito custo, fui compenetrando-me de minha atuação nefanda para o progresso da alma e fui emitindo vibrações de arrependimento, para que me pudessem achar e reconduzir para locais menos assustadores. Aí, no entanto, estava todo o drama, porque a natureza dos crimes me fazia tremendo devedor.

Havia inúmeros seres que se apresentavam diante de mim como vítimas, assegurando-se o direito à vingança. No início, achava que tinham inteira razão, porque, verdadeiramente, arruinei a condição de vida de muitas pessoas. Mas, paulatinamente, fui compenetrando-me de que a ação dessas entidades era deletéria para seu próprio desenvolvimento, de modo que pude mudar de atitude quanto à aceitação pacífica das represálias.

No entanto, não fui feliz nas propostas de trégua, senão que era obrigado, pela nova visão das coisas, a impedir as ações adversárias, para o que me punha na condição de feroz inimigo, a pelejar arduamente pelo direito de expor o que julgava o correto. Como não me davam atenção, reprimia o abuso com potentes golpes, de intensidade vibratória total, de forma a me esfalfar nos embates, quase esgotando as energias.

Lamentavelmente, até ocorrer a lucidez de que estava arrumando desculpas para poder empreender novas maldades e desatinos, muito tempo se passou e novas dívidas se acrescentaram, pois fui à procura das pessoas que me perseguiam a partir da carne, pois ainda no mundo dos mortais, e passei a obsedá-las, como se fosse meritório fazê-las sofrer, no intuito de dar-lhes a compreensão do próprio mal que praticavam.

Se estivesse dotado do poder de mediunização ou de imantação igual a esta que se está realizando sob o amparo destes amigos, aí poderia dar às pessoas as verdadeiras razões para não caírem na esparrela de, como eu, terem muito que sofrer pela imprevidência de quem se vê superior a Deus e não admite deixar de realizar os atos da vontade.

Mas ignorava qualquer pensamento sublime, por isso partia para a simples influenciação, no sentido de comprometer ainda mais os adversários com a vida de crimes. Pura maldade!

Hoje, que me apresento aqui trazido pelos carinhosos irmãos deste grupo, tenho a capacidade de perceber o quanto de malícia se impregnou em meu ser, pois, evasivamente, tentei ludibriar o escrevente, fazendo-o crer que se tratava de alguém plenamente recuperado.

Dizem-me que o instrumento nada tem de ver com o desempenho gráfico, por assim dizer, pois está instruído e deseja captar as vibrações, reproduzindo-as com igual intensidade da emissão, de maneira que, ao terminar o trabalho, o resultado seja a expressão mais próxima do espírito transmissor.

Aceito que assim seja, mas é bastante diferente a minha expressão lingüística daquela que fica consignada como sendo minha, verdadeira. Toda vez que lhe digo algo, ele se abre em extenso leque de termos e me diz para escolher algum que melhor se adapte ao pensamento. Não estou acostumado a tanta variedade e me perco. Aí ele, velozmente, pega aquele que lhe parece melhor na situação e assinala, sem que eu tenha muita participação na escolha. Desse modo, é preciso deixar bem claro que, se a vibração, o pensamento, a intenção são minhas, não iria escrever nada com tanta precisão e coerência. É interessante que isso se passa com tanta clareza, como se ele mesmo produzisse o texto, restando-me a simples condição de mero observador e não de produtor dos dizeres.

Pedem-me para não derivar para campos cuja compreensão transcende à minha experiência e argúcia. Pois agora os dizeres passaram por minha pobre visão das coisas, mas vieram dos irmãos que me assistem e foram ter à mente do instrumento, que vem registrando tudo com atenção redobrada, pois consigo perceber, em suas reações psíquicas, o receio de que tudo lhe seja produto da fantasia. Como não quero deixar algo de insólito expresso, devo afirmar que o roteiro todo não existia até que eu assumisse o poder de controle da escritura. Tudo o que se passou, desde que se iniciou o trabalho psicográfico — como é interessante o encaixe que se dá entre todos os fenômenos e o texto concluído! —, diz respeito somente à minha vontade e, no entanto, a pobre criatura fica a sofrer as conseqüências de minha falta de responsabilidade. Se mais alguém for ler o que vai ficando expresso, peço para desculpar o pobre escrevente.

Dizem-me para não ficar assumindo ares de quem não entende o que está sendo solicitado e que preste atenção ao fato de que, por várias vezes, houve hesitações, o que me dá a dimensão de minhas imprecisões. Isto quer significar que, dentro em breve, o discurso não conseguirá manter-se dentro do ritmo com que iniciei e que, aí, deverei ter de submeter-me à temática à qual não estou desejando entrar.

Na verdade, chegando a este ponto, penso que já tenha feito muito mal a estas pessoas boníssimas que me estão dando sustentação e, para que não venha a perturbar o ambiente, devo retirar-me. O escriturário até se propôs a oferecer-me a oportunidade de introduzir-me em seu acervo de conhecimentos a respeito de indivíduos como eu, dando-me amostragem, extraída da literatura espírita, de outros seres tão perversos que se viram em palpos de aranha, nas mesmas condições de transmissão mediúnica. Diz-me que o desejo de esconder quem realmente sou, por detrás de máscara aparentemente inocente, embora de pecador arrependido a demonstrar que boa bisca não fui, é muito fácil de identificar, de forma que, se quiser aproveitar-me desta oportunidade ímpar para o princípio da regeneração, está na hora de demonstrar a minha vontade, ou serei devolvido para o local de onde vim.

Que chave é essa que abre todas as portas? Dizem-me que é o remédio mais eficaz, pois o temor da aflição conhecida leva os indivíduos à resignação. Estou bem percebendo as manobras com que querem envolver-me. Já não sinto a mesma disposição de encontrar a melhor palavra e não sinto a mesma força para tentar burlar o escrevente. Sei que meu intuito está sendo decifrado com rigor e peço humildemente perdão por estar tentando aproveitar-me da disponibilidade intelectual do mediador.

Sinto-me, realmente, pesaroso por ter cometido os crimes que fizeram de mim este ser monstruoso. Digo isto, todavia, sem convicção, por ter ouvido dizer que a modéstia é precioso dom, para convencer as pessoas a se condoerem da gente.

Vejo que todas as minhas palavras vão ficando sérias e meu desejo de desviar a atenção para outro lado, bem difícil de conseguir. Se continuar deste jeito, vou pedir para que perdoem e vou aceitar responder simplesmente às perguntas que me fizerem.

O meu nome é... Impedem-me de revelar e me propõem um outro qualquer para efeito de registro. Não quero isso; é preferível deixar as reticências.

Dizem-me para não utilizar esse subterfúgio para voltar a tentar iludir o grupo. Percebo que tudo que possa dizer é do conhecimento de todos. Acho que me investigaram bem antes de me trazerem aqui e que estão melhor informados ainda a respeito de tudo o que fiz.

Ia pedir para me dizerem se a conjectura é verdadeira e me disseram para deixar bem claro que, desde o início, eu sabia perfeitamente disso. Dizem-me para não fazer cena e que deixe até de reproduzir-lhes as falas. Dizem-me para ser sincero e para demonstrar vigorosamente quem realmente sou.

Pois acho que, se lerem tudo o que ficou aqui perfeitamente expresso, vão poder deduzir com justeza. Não pretendia melhorar e queria ir levando em banho-maria esta longa dissertação. Só que não esperava que me fossem destinar tanto tempo. Outro dia, estive em um centro... Pedem-me para facilitar a vida de todos, não produzindo pequenos contos familiares a quem vem desenvolvendo sua acuidade para a percepção das peripécias intelectuais dos seres em inferioridade moral.

Surpreende-me o fato de ser bem capaz de elaborar as noções que me são passadas. É com real admiração que insisto em deixar este aspecto assinalado.

Eu mesmo me vejo investido de certa capacidade, o que escondia até de mim mesmo, pois treinei bastante o raciocínio, mas de forma a praticá-lo em situações de obter vantagem com relação aos outros. Agora, apesar de observar que me estou utilizando dele para estender um pouco mais minha permanência, é com honestidade que estou declarando minha emoção.

Fiquem, amigos, com Deus e procurem realizar na vida só atos de que não venham a ter de se arrepender. Essa a lição que sou capaz de oferecer, já que me pedem para abandonar o posto, deixando algo que não seja a minha própria inutilidade. Acho que, apesar de tudo, um dia voltarei a me deparar com esta insignificante produção e aí irei surpreender-me da verdade, pela péssima pessoa que sou ou era. Fique, assim, consignado o resto de meu grande orgulho intelectual, para que venha a compreender o quanto de trabalho desenvolvi, para poder chegar a um ponto de evolução melhor. Queira Deus possa repugnar-me diante disto tudo, de modo que não venha a ver nada de bom nesta minha... Não sei caracterizar o que me vai na alma e o escrevente não desejou ajudar-me. Agradeço-lhe, mesmo assim, o trabalho de assimilar esta longa série de... Novamente, a expressão não corresponde ao meu verdadeiro sentimento. É como se começasse a falhar no intuito de persistir com meu...


Comentário

O escrevente bem captou a intenção do grupo de deixar o amigo conduzir-lhe a pena pelos descaminhos de uma personalidade deformada por muitos anos de desvios do correto raciocinar.

Dado o esgotamento energético do mediador, vamos deixar para outra oportunidade o comentário que aduziríamos ao texto. Somente devemos acrescentar que o sofredor foi muito infeliz em não acatar as sugestões de que se emendasse diante do grupo, de modo que não sabemos se seu despautério, ao final da comunicação, vá ser-lhe de proveito para a regeneração.

Por nossa parte, faremos tudo que nos é permitido para auxiliá-lo, mas, se resistir, não se poderá obrigá-lo a abandonar os maus hábitos, especialmente se se rejubilar através deles, o que nos pareceu ter ficado claro ao assumir o controle da pena e do pensamento do mediador, para fixar as diretrizes temáticas da comunicação.

Oremos por ele, irmãos, para que a verdade se lhe faça, mesmo que à custa de muito sofrimento e sacrifícios, o que demonstrará a força do perdão divino.

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