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Ensaios-->13. LUTA INTERNA -- 10/06/2002 - 11:54 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Cansei de perguntar onde é que estava, mas ninguém me respondia. Aí vim a saber que haveria grande congresso; talvez lá fosse possível saber onde é que estava. Mas não consegui encontrar o local do tal acontecimento e não pude ficar a par de minha situação.

Agora, depois de passados tantos anos, eu me sinto bem melhor, mas não tenho conhecimento exato do local onde me encontro. Sei que faz muito tempo que morri, mas não tenho idéia de onde fica a minha pátria material, já que me dizem que aqui é a pátria espiritual.

Pois gostaria de perguntar, definitivamente, onde estou. O que escreve me diz que estamos, materialmente, no Estado de São Paulo, na cidade de Indaiatuba. Pois não é longe do local onde vivi. Será que poderei partir agora?

Querem saber como é que não me foi possível ficar sabendo que lugar é este, que todo o mundo fala e que está escrito por toda a parte. Mas é justamente isso: não fiquei aqui este tempo; estava perdido no meio do mato e lá não havia placa nenhuma, nem ninguém que se dispusesse a me informar. Se vocês me dão licença, desejo ir procurar os meus.

Como farei para isso? É fácil; é só sair pela estrada, caminhando, que logo estarei na cidade em que deixei o pessoal. Acho que não será difícil.

O que farei quando lá chegar? Vou perguntar onde é que estão os meus familiares, para ficar perto deles, do mesmo modo que estou aqui, perto do moço que está escrevendo.

Se não me reconhecerem, não tem importância; fico por ali vigiando para que ninguém vá fazer nada de mal para eles. Tenho dois filhos lindos, que deixei na idade da adolescência e que devem estar homens feitos.

Por que não fui antes até eles? Já não disse que estava perdido na floresta... Por que estava ali? Não sei; acho que foi algum castigo por não ter cumprido com lealdade os compromissos, o que resultou em minha morte brutal naquele acidente de carro. Dirigia embriagado e me vi, de repente, diante de grande caminhão. Naquele instante de alucinação, pensei: 'Por que não deixar de vez a estrada da vida? Não foi para isso que vim até aqui?...' E aí me arremessei para debaixo do caminhão. Não devia ter feito isso, porque o motorista também morreu e me vi perseguido por sua sombra durante muito tempo. Quando dei por mim, estava preso na mata, onde ninguém me encontrava. Mas era um local muito agreste e perigoso, pois sentia a ameaça vir de todos os lados. Havia ruídos estranhos, sons distantes de pessoas gritando. Era como se tudo se passasse na minha cabeça, mas que sentia provir de fora. Era muito confuso, mas não procurava investigar, porque sentia horroroso terror de encontrar as pessoas que havia ofendido.

No começo, a dor que senti pelo esfacelamento do corpo me fazia esquecer tudo o mais; mas, aos poucos, os membros foram restaurando-se e aí é que percebi que há muito tempo vagava, como se estivesse liberto no ar. Era muito estranha essa sensação, porque podia me locomover, mas tinha toda a impressão de estar inteiramente quebrado. Eu me apalpava e não conseguia segurar as pernas. Quando queria enxergar as mãos, elas não existiam. Aí gritava de aflição.

Se me permitirem parar de falar desse tempo, ficarei muito sensibilizado pela delicadeza da atitude. Sei que preciso partir, mas o desejo de rever os filhos é mera desculpa, pois tremo só em imaginar que tenham más lembranças de mim.

A minha mulher não me mandou nenhuma prece de conforto, pois jamais senti qualquer revigoramento. Os meus filhos é que me diziam para sossegar, onde quer que estivesse, que estavam bem. Mas não sei como é que suas vozes me chegavam aos ouvidos. Eu pedia a Deus para me perdoar, mas não obtinha resposta alguma e as dores aumentavam muito. Aí ficava triste e me revoltava, sentindo que a dor era o aguilhão que perpassava a minha entidade, como que a me fazer lembrar o sofrimento que causara.

Peço aos amigos que me acompanhem até o local onde estão os meus filhos, pois só deles é que recebi o conforto de sua lembrança. Dizem que se fizeram ouvir através das preces e que não consegui ouvir mais ninguém, por ter ódio em relação às outras pessoas.

É verdade, eu fugira de casa porque havia encontrado a minha mulher... Não quero falar disso. Por favor, deixem ficar só comigo estas sensações horríveis. Tenho estremecimentos muito dolorosos, porque sei que fui o culpado de tudo. Se não me fizerem esse favor, tenho medo de me ver de novo no meio da escuridão da floresta. Peço-lhes encarecidamente...

Dizem que tenho plena liberdade, que só estou a contar o que minha vontade está determinando. Se é assim, por que não consigo controlar este impulso violento para referir-me às coisas ruins?

Se orar com amor, terei sossego? Vocês não querem ajudar-me? Por favor. Sei as rezas todas, as preces, pois conheci muitas pessoas religiosas. Até estive num lugar próprio para rezar, uma igreja grande, mas fui expulso de lá porque acharam que não estava trajado convenientemente. Mas isso era impossível. Deveria estar acontecendo alguma outra coisa. Foi aí que me pegaram e me conduziram até este local iluminado, perto da cidade em que estão os meus filhos.

Se não me contiver, vai ser difícil a concentração para a prece. Pois vou deixar o escrevente sossegado. Ele que espere. Não comecem ainda, pois estou tremendo de medo e não consigo sustar o pensamento de remorso.



Não consegui compreender direito todos os dizeres da prece, pois não entendo como é que Deus pode se submeter à vontade dos homens e só perdoar quando eles já tiverem perdoado. Essa prece sempre me causou confusão, mas, de qualquer modo, estou sentindo-me ligeiramente melhor. Tenho de novo as mãos à vista e consigo apalpar as pernas. Sabia que estavam bem, pois conseguia andar por aí, sem estar volitando.

Ia fazer um comentário a respeito das palavras que estão sendo escritas, mas os irmãos me chamaram a atenção para o fato de estar melhor e de estar na hora de ir com eles. Se for possível, prometem levar-me até onde estão meus filhos. Se for possível, também vão-me levar onde está minha mulher. Mas essa eu não gostaria de ver. Só para saber que ainda gosta de mim...

Eu me sinto confuso e preocupado. Será que não irei desandar e cair de novo em estado de depressão e letargia? Tenho dúvidas com relação a mim mesmo, pois não sei se terei forças para perdoar.

Perguntam-me se o que fiz foi certo. Tenho a certeza de que não foi. Querem saber se eu mesmo me perdoei. Já pensei nisso e foi aí que achei que Deus deveria ter pena de mim, pois, se ele me perdoasse, eu iria ter força para compreender o que fiz e sentir que as coisas poderiam melhorar. Dizem-me que sou esperto e que, maliciosamente, tento fugir às questões, por saber de antemão o resultado da pesquisa. Querem definitivamente saber se tenho a intenção de perdoar ou se prefiro prosseguir perseguindo os que me ofenderam. Mas eu não saí da... É verdade que as vibrações se constituem em perseguição? É por isso que não tinha nenhuma resposta das pessoas que amaldiçoava? Pois eu só pensava... Eu não fazia nada, porque estava perdido na mata...

Penso que terei de entender muitas coisas que se passaram comigo desde o suicídio. Foi difícil dizer essa palavra. Até tentei falar outra coisa...

Sempre que desejo fazer referência ao médium, me desviam de volta ao meu drama. Pois bem, irmãos, reconheço que estou errado, que estou em boa companhia e que devo muito a vocês. Se me largarem sozinho na estrada, tenho a certeza de que irei encontrar o caminho...

Eles me interrompem e me pedem para deixar de arrumar desculpas para enfrentar a verdadeira falta que estou a esconder. Pois revelarei tudo intimamente, sem ter de deixar aqui registrado. Não quero que ninguém mais saiba o que fiz e peço que também não contem, pois estou aflito demais e chega de receber só péssimas vibrações, que são dolorosos golpes na consciência.

Até o que está recebendo esta minha comunicação está retransmitindo a mim as minhas péssimas intenções de o deixar aflito e desejoso de suspender o trabalho. Não sei como é que faz isso, mas parece que está sofrendo com a minha angústia e vontade de esconder o malfeito maior. Pois vou contar rapidamente. Peço que não me odeiem por isso.



Vejo que o que disse ficou em branco na escrita do amigo, embora tenha certa a idéia de que o escrevente ficou sabendo de tudo, porque não fiz questão de lhe esconder. Mas evite, por favor, de comentar isso com outra pessoa qualquer, mesmo a mais chegada. Peço-lhe que me respeite os sentimentos e que reze muito por mim, que me sinto péssimo, depois da revelação. É interessante que estou arrasado e envergonhado, mas a pressão na cabeça melhorou consideravelmente. Já não tenho medo de enfrentar minha mulher e até peço aos amigos que me disseram que ela me ama que me levem até onde está. Não deve ser muito longe daqui, porque foi aqui perto que a deixei estendida no chão a golpes de machado.

Eis que criei coragem para dizer o que tanto temia. Se, por acaso, essa informação servir para me acusarem de criminoso vil, que pensem no quanto já penei e que não deixem escapar nada de ruim contra minha pessoa.

A pressa que tinha terminou e agora me sinto bem mais tranqüilo. Sabem o que gostaria mesmo de fazer? Era dormir um bom sono, para ter momentos de esquecimento. Será que isso será possível? Graças a Deus!


Comentário

Se nos for possível traduzir os sentimentos do amigo, devemos dizer que se despediu muitíssimo agradecido e pedindo desculpas pelo mal-estar causado. Diz-nos que muito agradece a atenção de se ter destinado este feriado para sua recuperação e que sentiu no mediador toda a ânsia de liberar-se para os compromissos familiares. Pede-nos que estenda os agradecimentos às pessoas da família, que se privaram por algum tempo da presença do companheiro de lutas.

Para pessoas de plena formação espírita, ficará fácil compreender a importância de se prestar atenção e socorro a quem está necessitado de carinho e profunda assistência.

Fiquemos todos por aqui, para não recairmos nós na falha apontada de subtrair o irmão do convívio familiar.

Como nos dá oportunidade, vamos só esclarecer que o amiguinho estará, em breve, em condições de julgar do procedimento irregular que teve, à luz da realidade dos parceiros de existência. Compreendendo o que se passou no íntimo de cada um, poderá sopesar com fidedignidade os próprios atos. Que Deus se apiade de sua alma e tenha por ele a consideração que ele mesmo estava a se negar.

Fiquemos todos nas mãos de Deus!

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