Não se vai aqui questionar em que nível chegou a loucura do poeta. Enlouqueceu simplesmente. Sem estágios intermediarios, sem meio-termo, sem ameaços, sem faz de conta. Pirou. Pinel. Charcot.Virou as costas e saiu andando. Deu de ombros. Desdenhou nossa razão e se foi. Partiu. Sem eira foi ali pela beira. Marginal se ausentou da realidade.Talvez dissesse que ia atraz de Zaratustra, em busca do mito da caverna, participar da guerra do fogo, no encalço do santo graal, percorrer a estrada de tigolos amarelos, encontrar o caminho do Eldorado.
Definitivamente não vamos aqui tergiversar nem usar de subterfugios para melhorar a fama do poeta, nem vamos preservar sua imagem, livrar-lhe a cara, tirar-lhe o ... da reta, salvar-lhe a pele, aninhá-lo nos braços e nina-lo. Não, não vamos não.
O poeta enlouqueceu e pronto!
Dispensa-se o eletrochoque, o sossega leão, a camisa-de-força, o cloridrato de fluoxetina, o ficar de bem dando o dedinho.
Dispensam-se as mensagens de condolencias, as coroas de flores, os epitáfios, as tele-mensagens, os telegrams cantados, as olas da torcida, as volta olimpicas, os jogos de despedidas.
O poeta enlouqueceu e é só!
Não deixou testamento, bens a inventariar, penduras no boteco, livros no prelo, cartas para serem abertas depois.
Não legou herança, esperança, crianças nem lembranças...
O poeta ficou de saco cheio e irmanou-se com a insanidade e na sua idade isto foi fundamental. Tirou o cavalinho da chuva, o burro da sombra, desencostou do barranco, deu bom dia pra poste.
Que não venham com nome de rua, praça ou avenida, não precisa, nem enredo de escola de samba, não componham hino, nem disco, nada...
O poeta enlouqueceu...
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