FUJI
lílian maial
Debruçada sobre o parapeito,
sou feliz e grata.
Confundo-me com a paisagem
e os portais da janela.
Sou vento e madeira entalhada na tarde
e sopro um sorriso de maresia.
Plena como a montanha,
dourada de mar e sol,
vejo-me inundada de tanto azul,
que aperto os olhos
para nada escapar ao ângulo.
Os barquinhos lá longe
- leves borrões de tinta
de um pintor displicente -
ancorados na fotografia.
Embarco na brisa que vem de dentro
e sigo na palavra-marinheira
que não ousou navegar.
Sou desejo de céu e terra,
cometa suicida.
Estou em cima,
tão no alto,
que sinto asas de anjos vizinhos.
Ouço cânticos,
pequenos pássaros
ciumentos de galhos,
braços entre o vôo e o ninho.
Reparo nuns contornos,
familiares vitrais,
luzindo cores absurdas,
feito enlouquecido cata-vento,
girando no meu sopro de vida,
a brincar sério de criança.
Reúno as vontades no instantâneo,
eternizo a imagem
com um beijo do ocaso.
Faço as malas decidida:
vou morar no cartão postal. |