----- Gostava que o sonho nunca encalhasse, em face da descoberta - tal qual ovo exemplarmente exposto – e por este atalho nunca dantes navegado.
----- A esbelta professora, dona Armanda, que me empurrou para o mundo das letras, se olhasse para este texto, decerto que me outorgava a melhor nota da turma – nobel escolar – , agora naturalmente composta de veteranos como eu, porventura despertos nos tempos que decorrem, duas boas dezenas deles ou, quem sabe, alguns menos, de toda aquela esplendorosa centena que frequentou nos anos quarenta a Escola do Monte Pedral, no Porto.
----- A velha escola perpassa-me claramente pelo pensamento, com cerca de cem assentos ao longo de quatro alas, lado a lado uns dos outros, dotados de pequenas mesas na frente, com tampa, aonde a garotada guardava em desmaselo a ferramenta da cultura fora de pronto uso.
----- Lembro-me bem, tenho-os marcados nos olhos, do Carlos, do Nelo, do Baltazar e do Farrepas, quatro craques da bola que nunca deram nada no futebol de estampa. Era com eles que eu deslisava sobre os golos do meu excelso sonho e me contentava a valer. Que fez o tempo deles?! Nem me ocorre sequer uma nesga de luz sobre como se apresentam de rosto em face da hora presente. Praza, pelo menos e aonde se encontrem, que passem como eu ou melhor.
----- Neste ponto e no termo desta atenta prova escolar e portuguesa, a saudosa mestra, dona Armanda (que bela mulher!), dava-me concerteza o dobro dos valores em apreço: - Quarenta, para o Torre, por este aturado e bem exposto trabalho sem acentos. Este modesto aluno logrou contornar as manchas das moscas e dos moscardos.
-------------- Cem assentos, que saudade,
-------------- Que belos esses momentos
-------------- Das palavras sem maldade,
-------------- Abertas e sem acentos!
Para a Musa Morena que me tem dado consolo com ternura, empenho e devotado zelo.
----------------- Torre da Guia ----------------- |