Nós vamos conversar diretamente.
É como qualquer médium nos pressente,
Assim que a vibração lhe chega perto.
P’ra dar passividade, basta amor,
Pois é segura a arte de compor,
Estando o coração em peito aberto.
Nem todos os humanos se permitem
A receber os fluidos que se emitem,
Pois desconhecem quem lhes traz notícias.
Têm medo que um perverso ser lhes diga,
A provocar apenas séria intriga,
Que é o demônio, a lhes furtar carícias.
É de brinquedo o verso desta tarde,
Ou é chama do inferno que mais arde,
Ao se falar de amor e de bondade?
Há tantos que somente pensam nisso,
Sem compreender o nosso compromisso
Com a doutrina, o bem e a caridade!
Allan Kardec, um dia, foi chamado,
Porém, se não tivesse duvidado,
Talvez seguisse em frente, sem se ater
A que as batidas tinham um sentido,
Como o mistério fora resolvido
Por quem não via nisso tal poder.
Já não se trata mais de simples frases,
Pois temos p’ra ofertar quadra de ases,
Em versos com sentido e com doutrina,
Quem duvidar agora compromete
O nosso médium, por pintar o sete,
A repetir o que Jesus ensina.
Desprestigiar o Espiritismo visa
A sustentar quem mais materializa,
Que a religião em dogmas viceja.
Junto de nós, existem sacerdotes
Que deram, no seu tempo, piparotes,
Oferecendo o céu numa bandeja.
Aqui chegando — oh!, grande surpresa! —,
Foram trazidos para junto à mesa,
Que repetissem cá o tal recado.
Despreparados para fazer versos,
De qualquer modo, viram, bem imersos
Na imantação, os médiuns, do outro lado.
É essa a sina de quem julga inúteis,
Toscos, maldosos, réprobos e fúteis,
Estes poemas em que pomos fé.
Não lamentamos, pois, a rejeição,
Pois bem sabemos que os irmãos irão
Provar, no etéreo, como a vida é.
Se o bom amigo aceita a pobre rima,
Pois a ruindade nossa, em paz, sublima,
Fazendo seus os sentimentos rudes,
Alegrará a turma que hoje vem
Para trazer do etéreo mais alguém
Com ganas de exaltar essas virtudes.
Por que falar a quem suspeita tanto
Da espiritualidade deste canto,
Havendo gente boa no pedaço?
Ocorre que este verso mais destoa,
Quando se sabe lúcida a pessoa,
Capaz de versejar, sem embaraço.
Vamos pensar que o Mestre lesse o verso:
Alguma coisa mais do que perverso
Iria colocar no fim da trova?
Mas essa sua idéia é muito feia!
Assim, é bom que o Mestre não nos leia,
Que a nossa arte ainda é muito nova.
Para que serve, então, este entrevero?
Tão-só para aumentar o desespero
De quem peleja tanto aí na Terra?
De forma alguma eu quero que essa luta
Termine por dizer que a força bruta
É que toda a verdade em si encerra.
Mediunidade é a forma que se presta
Para mostrar que a lida aqui é festa,
Quando a poesia é feita e transmitida.
Assim as entidades se divertem,
Querendo que os amigos se despertem
Para a verdade etérea desta vida.
Complete o verso quem esteja certo
De não termos obrado no deserto,
Conforme até Jesus o fez, um dia.
Diga de coração: — “Sei com certeza
Que o médium que chegar a esta mesa
Receberá do Pai grande alegria.”
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