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Ensaios-->Euroforce - implicações e possíveis conseqüências -- 18/05/2002 - 13:13 (Lindolpho Cademartori) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

“Euroforce” – implicações e possíveis conseqüências


“Perfazem um número bastante extenso as dúvidas e demandas explicativas acerca da utilidade e da finalidade de uma força militar conjunta na Europa. Afinal, de quem o Velho Mundo pretende se defender? Estarão os europeus desconfiados do sistema de defesa anti-mísseis dos EUA, a ponto de não confiarem na OTAN? Quanto à esta, sua existência não seria posta em xeque com a criação da “Euroforce”? Qual seria a reação de Moscou diante de uma deliberação da UE favorável à constituição de uma força conjunta?”



Uma das pautas deliberativas em discussão na União Européia é concernente à criação de uma força militar conjunta no continente. Trata-se, com efeito, de uma questão delicada e que prerroga análises criteriosas.
A resposta lógica pertinente à razão pela qual a UE pretende criar uma força militar conjunta seria a de que se trata de uma “retaliação” à decisão norte-americana de retomar o projeto Guerra nas Estrelas. Bruxelas não vê a decisão de George W. Bush com odes de apreciação. Teme, não obstante, que a desnecessária deliberação desencadeie uma nova corrida armamentista que envolveria, a priori, Estados Unidos e China. Tratados e Convenções - tais como os acordos SALT I e SALT II (Strategic Arms Limitation Talks) - assinados em parceria com a Rússia (então URSS) seriam violados. Ocorre que, no meio da tríade da discórdia – Estados Unidos, China e Rússia -, há o continente europeu, teatro experiente e já malogrado por duas guerras mundiais. Pode-se, pois, aferir a seguinte conclusão prévia – a de que o Velho Mundo pretende se prevenir, no intuito de nao permitir que possíveis conflitos em larga escala assolem suas vizinhanças. Dir-se-á, entretanto, que há motivos para que se analise as implicações e possíveis conseqüências inerentes à possível constituição de uma “Euroforce”, bem como outras razões que podem estar implícitas e/ou subentendidas por entre os desvãos políticos.
Não constitui novidade o fato de que ambas as guerras mundiais insurgiram, dentre outros fatores, engendradas em alianças militares ou similares. Nos silvos lúgubres que prenunciaram a Primeira Guerra, divergiam a Tríplice Entente e a Tríplice Aliança. Na magna-catástrofe ensejada durante a Segunda Guerra Mundial, um malogrado pacto de não-agressão entre Hitler e Stálin resvalou propicialidade para que o primeiro deflagrasse, ao invadir a Polônia, o embate inicial do conflito. Na contemporaneidade, entremeada por ensejos de grandeza histórica por parte da Rússia e por mal justificadas intervenções da OTAN nos Bálcãs, diante da criação de uma força militar conjunta européia, não constituiria surpresa alguma se o Gigante do Leste resolvesse alfinetar diplomaticamente seu vizinhos do Ocidente. Analisemos a pauta.
A debilidade econômico-financeira russa afigura-se, numa primeira análise, como uma prerrogativa para sua alienação diante das negociações mundiais relativas à paz e à segurança. A infra-estrutura militar em frangalhos coaduna-se com a inépcia do governo em deliberar acerca do futuro do país no cenário geopolítico global. Muito embora a Rússia tenha tido níveis de crescimento alentadores no ano passado, o persistente déficit orçamentário não permitiu uma reestruturação de suas forças armadas. E destarte o assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, Moscou não demonstra força e/ou soluções imprescindíveis cujos propósitos sejam a cessão dos conflitos intra-regionais e civis nos rincões de tensão. Em outras palavras, equivale a dizer que o poder dissuasivo do Kremlin tem como frágil alicerce os mísseis nucleares cujos projetos foram concebidos nos áureos tempos de despojo da União Soviética.
Tais razões, todavia, não encerram uma prerrogativa para que a Rússia seja excluída dos fóruns de discussão acerca da pauta em voga na União Européia. Apesar dos desatinos e malogros da potência eslava, ela ainda ocupa posição de primeira grandeza nas decisões concernentes ao âmbito militar. Está-se, pois, incorrendo em periculosidade ao manter os debates restritos ao eixo Washington-Londres-Paris-Berlim, uma vez que a reação russa pode ser desastrosa para a etapa final do processo de integração do Velho Mundo como um todo.
Destarte o empecilho da alienação russa, ver-se-á, não obstante, as divergências históricas que envolvem os países membros da União Européia. Apesar das retratações e da inversão doutrinária de cento e oitenta graus que a Alemanha perfez após a derrocada nazista na II Guerra, britânicos e franceses podem não ver com bons olhos a criação de uma força militar unitária que, sob os auspícios de uma virtual posição de destaque alemã, esteja engendrada no esteio da UE. Diferentemente da estrutura da OTAN, a constituição de uma “EuroForce” implicaria em laços mais estreitos e de interdependência irrestrita, onde os termos “segredos de estado” e “pautas confidenciais” teriam de ser riscados do vocabulário político-militar das nações integrantes. Por óbvio, a virtual liderança da Alemanha na União Européia também representa um fator de desconfiança em relação ao projeto – toda e qualquer força militar prerroga um comando. Seria a Alemanha a nação responsável por exercê-lo? Adiante: em questões político-históricas, cinquenta e seis anos não representam um ínterim extenso, o que equivale a dizer que a Europa ainda não se esqueceu da barbárie perpetrada pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial.
As diferenças atinentes à estrutura de uma aliança como a OTAN e a de uma força militar conjunta e integrada são, uma vez criteriosamente observados os aspectos, gritantes. A título de exemplo, mencione-se o fato de que há diversos países europeus que não são membros da Aliança do Atlântico – vede Suécia, Irlanda, Finlândia, Áustria – sem que isso implique (ou, nos tempos da bipolaridade, implicasse) em prejuízos e/ou discriminações para suas relações com os demais países que fazem parte da organização. Numa eventual “Euroforce”, as circunstâncias afigurar-se-iam de maneira distinta. A não-adesão de um país poderia resvalar espaço para argumentações perniciosas e veladas retaliações socio-econômico-diplomáticas. No caso da OTAN, a questão desdobra-se num cerne menos integrado e mais independente – observe-se que a Aliança é constituída por nações de três continentes diferentes: América, Europa e Ásia (parte da Turquia).
Um outro fator preponderante concerne à posição norte-americana diante da proposta. Os Estados Unidos teriam, dadas as circunstâncias geopolíticas, poucos – ou nenhum - interesse em endossar e apoiar a força militar conjunta da Uniào Européia, mesmo tendo em vista a afrontadora e desnecessária retomada do projeto Guerra nas Estrelas, cujo mote engendra a estruturação de um sistema de defesa anti-mísseis. Poderiam, não obstante, argumentar um distanciamento e um rompimento político-doutrinário para com as relações Estados Unidos - Europa. E, veja você, não lograria exagero se Washington rotulasse os europeus de ingratos. Sim, ingratos. Afinal, quem os salvou da ensandecida égide nazista e, posteriormente, dos auspícios do totalitarismo comunista?
Numa inferência mais alarmante e pessimista, faz-se passível de afirmação o fato de que a existência da OTAN seria posta em xeque com a eventual criação de uma “Euroforce”, visto que uma parcela substancial da organização é composta por países-membros da UE. Logo, arqueariam os EUA a argumentação de que não há razão para que se crie um “Exército Europeu”, posto que a OTAN – e os EUA, obviamente - suprem as necessidades concernentes à segurança do Velho Mundo. E, uma vez subjugada tal argumentação, a força militar européia substituiria a OTAN na “manutenção da paz e da segurança” no continente.
Um último argumento prévio é concernente às improváveis – mas não impossíveis – conseqüências internas e externas na hipótese de surgirem divergências incontornáveis entre países constituintes da “Euroforce” após a criação da mesma. De que maneira seriam contornadas as contendas? Quem seria o responsável pelo arbitramento e deliberação acerca de eventuais divergências?
Perfazem um número bastante extenso as dúvidas e demandas explicativas acerca da utilidade e da finalidade de uma força militar conjunta na Europa. Afinal, de quem o Velho Mundo pretende se defender? Estarão os europeus desconfiados do sistema de defesa anti-mísseis dos EUA, a ponto de não confiarem na OTAN? Quanto à esta, sua existência não seria posta em xeque com a criação da “Euroforce”? Qual seria a reação de Moscou diante de uma deliberação da UE favorável à constituição de uma força conjunta?
Por óbvio, não se esgotam aqui os argumentos, prerrogativas, hipóteses e conseqüências advindas da eventual criação de uma “Euroforce”. Não obstante, as argumentações expostas podem ser laicas ou até mesmo exacerbadas, visto que as possibilidades reais de um conflito global são parcas e escassas. Far-se-á necessária, entretanto, uma maior observância do desenrolar político acerca da pauta de discussão em voga em Bruxelas. E muito embora as previsões expostas neste artigo possam ser consideradas volúveis e momentâneas, não logra sensatez exclui-las integralmente de um catálogo de possibilidades, pois, em se tratando de Europa, não se pode prescindir de quaisquer precauções no intuito de evitar o recrudescimento de conflitos generalizados no eternamente conturbado Velho Mundo.

Lindolpho Cademartori
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