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Ensaios-->VOLTAR A COIMBRA -- 24/04/2002 - 18:24 (Ana Maria Garcia Iglesias) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Se eu me sustento na pedra do arco de Almedina ela murmura-me ao ouvido uma história de amor, tragédia e lenda. Do rei Dom Pedro I de Portugal e a sua dama galega dona Inês de Castro, musa de poemas, canções e declarações de amor guardadas nestas gastas pedras formando sussurros que desafiam ao vento no seu constante lamentação. Agora as confesões que ficam guardadas em baixo deste arco, que é a porta de entrada à antiga e deslumbrante cidade de Coimbra, são outras, nem mais nem menos intensas, somente distintas.
Hoje eu tinha voltado a Coimbra depois de muitos meses de evocadoras lembranças. Hoje fico novamente a pisar e reclamar velhas e calcetadas ruazinhas que uma vez, e sò durante um instante perteneceram-me. Um constante halo de sabedoria envolve esta ilusória cidade que ao longe parece ressurgir das águas do rio Mondego como se fosse uma jóia ou uma divina visão, mas ao aproximar-nos mostra a mais cruel e desesperante pobreza, reflectida nos tristes olhos dessa mulher que sube e baixa a carregar aflições próprias e alheias sob a sua cabeça e coração. Um halo de sabedoria certamente merecido, pois aqui nasceu uma das universidades mais antigas de toda Europa baixo o reinado dum soberano que tinha desejado que o seu povo fosse livre e dono das sua próprias capacidades.
Dois estudantes se cruzam comigo ao passar pela sé velha, caminham resguardados em baixo das suas capas pretas, cobrindo-se dos lances da chuva e o frio vento, próprios deste ainda tormentoso mês de Maio.
Muito longe ficaram os meus anos de estudante, de aulas cheias de risos, sonhos e paixões que hoje inevitavelmente foram aniquiladas pelo tempo e por essa hipotética virtude que traz consigo a madureza de sobreviver no mundo real. O meu olhar enche-se de evocações perante estos jovens estudantes que hoje desfolham o presente com a mesma ilusão e intensidade com que teram saudade no futuro.
Tão longe estarão os risos, os jogos inocentes, os primeiros amores, as primeiras lágrimas, tão distantes ficarão os corações quando o outono da madureza apropriei-se das flores que hoje conservam com a ingénua crença de que jamais irão a murchecer.
Mas inclusive nisto Coimbra ressurgues única entre as demais cidades, neste lugar a juventude não se desvanece por completo, aqui há um belo rincão onde a poesia tem reservado um lugar onde repousar, aqui um dia nasceu o Penedo da Saudade. Um pequeno e tranquilo jardim à fora da cidade onde os estudantes, antes de deixar a mocidade, antes de abandonar Coimbra, gravam na pedra os seus poemas e despedidas. Grandioso triunfo este, ganhado ao esquecimento, que segura-se como as raizes à terra.
Eu gosto sentar-me nas ruas e jardins, embriago-me com o voo das pombas e imagino que são as da minha terra. Nada é igual ao que olhamos pela primeira vez, esta flor não estava aqui hà uns dias, o sol não iluminava aquela varanda e uma nova pedrinha da calçada començou a desunir-se. Nada é igual e poderia caminhar cem vezes pelas ruas de Coimbra e o assombrado silêncio seria o único capaz para descrever a beleza que eu descobro de novo nelas.
Volto de novo ao arco de Almedina onde começa e termina uma cidade de lenda. São sò as quatro da tarde e a maioria da gente descansa nas suas casas antes de voltar ao trabajo. Em baixo do arco uma loja de postais e recordações não permite que esqueçamos, que ainda tínhamos saboreado cada uma das suas ruas, portas, monumentos e historias, continuamos a ser turistas numa cidade que abriou suas portas à sabedoria e à liberdade.
Uma leve musica invade a silenciosa viela e de repente eu sinto que me afasto, que a minha viagem termina, que os bons momentos jà començaram a formar parte das lembranças. É um fado o que se escuta, nem triste nem alegre, assim como são os fados, alma dum povo que nasceu para sentir, para evocar, para experimentar saudade por aquilo que perdeu ou que jamais chegou a encontrar.
Eu sempre quise saber que é a saudade para os portugueses, perguntei muitas vezes mas só consegui como resposta um prolongado brilho nos olhos que os sorrisos não foram jamais capazes de mascarar.
Começa a chover suavemente, eterna chuva de Maio...Saudade; penso nela enquanto observo a traves das gotas de chuva a musica que invade o ar e nao sei se chove fora o chove dentro.
Fecho os olhos, não consigo ocultar o brilho do olhar e penso que algum dia, não muito distante, ei de encher a minha mala de novo com ilusões e sonhos e então, só então, voltar...voltar a Coimbra.

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