O repertório fadista português, invadido nos últimos 35 anos pelos ditos poetas intelectuais à procura de proveito e glória, tem versos e expressões só possíveis de sairem da cabeça de santos vivos: 'Tu és a falena e eu sou a chama' é um verso que só lhe falta 'arder' deveras e presumo mesmo que, em consecussão e para mais luz ainda, a borboleta não hesitaria nunca em sacrificar-se, se fosse inteligente... eis a dúvida!
Eu sou um borboleto! Recuso a palavra uniformizante - vinda daqueles que pretendem subsistir à custa da confusão que espalham no seio da humanidade. Explícito: vestem a verdade de mentira e propalam a existência de Deus dentro dos bolsos das vestes.
Eu sou o faleno que, com as minhas asas, alívio o espaço aúreo aonde a tua chama se exprime sem receio de apagar-se. Somos os dois um do outro sem nos tocarmos, ambos entregues ao mistério dos olhares que tudo vêem sem imaginarem sequer o micro segundo da fusão do tudo e nada e vice-versa.
Tu és a chama que, sem mais, se acende sózinha para que eu possa voar em torno dela. E foi assim que soubemos que ambos existíamos!