Do horrível ao excelso ou do mais lúcido juízo à mais extrema das loucuras, o silêncio da verdade contém um profusante leque de emoções, sempre indizíveis ou vez alguma definidas em gestos e, por evidência óbvia, deixa de ser o que afinal é logo que se revela à flor dos sentidos e permite que outrém tire o mínimo partido da sua expressão. Será até a mais importante das verdades que nunca se deve ousar dizer. As pessoas que têm capacidade psíquica para bem dominá-lo alcançam lisonjeiramente os objectivos que colocam em sonhado banho-maria. De rosto à vela, em face de capitosa chuvada, é a preferente imagem que este deus do raciocínio carece para enfrentar as tormentas do mar da vida e alcançar sem grande embargo o cais da sorte. Eu, que bem o conheço e sinto, não consigo sequer dominá-lo da porta de casa até ao café. Os que lhe desconhecem a prática, e daí infringindo-o, apontam-o e chamam-lhe regularmente 'hipocrisia'; outros, mais prudentes e astuciosos, designam-o por 'segredo da vida' ou 'mistério existencial'.
Em suma e para melhor me fazer entender, o silêncio da verdade é um talento individual que não se aprende em parte alguma e vai-se adquirindo ao longo da vida, em silêncio, claro.
Sobre os que bem o dominam, se porventura eu fosse mestre de regras, proclamaria bençãos e alvíssaras para todos aqueles que utilizam o 'silêncio da verdade' ao serviço do bem comum da humanidade. Esses, por muito que a inveja os assedie, merecem sem dúvida as benesses do cais da sorte.
Torre da Guia |