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Poesias-->Uma das faces da poesia -- 10/01/2003 - 10:48 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Uma das faces da poesia



A poesia não enche a barriga

A poesia não pára a guerra

A poesia não come verdura

A poesia não planta na terra

A poesia não salva da morte

A poesia não melhora sua sorte

Não urina, não defeca, não sua, não goza



A poesia não cheira nem fede

A poesia não fala palavrão

Aliás, nem fala, cala

A poesia não traz dinheiro

Não traz progresso

Segundos de sucesso

De alguns imortais



A poesia não acusa ou perdoa

Não se cansa, não enjoa

Não facilita nem atrapalha

Não junta, não espalha, não encalha



A poesia não compra nem vende

Não elogia, não ofende

Aos que não sabem ler

A poesia não sofre nem faz sofrer

Não sente medo, não tem segredo

Não tem espasmo, não soluça



A poesia não é redonda nem quadrada

Jamais se sente culpada

Se a culpam sem merecer



A poesia não é grande nem pequena

Não é nervosa nem serena

Não é patriota nem foge à luta

Não tem preguiça, mas não labuta

Não tem lugar para a riqueza

Não tem horário para a pobreza

Não se revela para ninguém

Não tem agenda



Poesia não se pega, não se adoece

Não se come, não se espreme

Não se guarda no congelador

A poesia não se troca

Não se empresta, não se trai

Não enruga, não engessa, nem perde a cor



A poesia não consta do planos de Governo

A poesia não consta dos orçamentos participativos

Das verbas públicas desviadas

Das obras sem conclusão

A poesia mal sobe a favela

Não deixa seqüelas em quem ouve ou declama

A poesia não prende bandido

Não moraliza a polícia

Não ama, nem reclama

Não vira notícia, não sensacionaliza



A poesia não rouba, nem esmola

Não ignora, nem vai à escola

A poesia não sofre atentado

Não tem pureza ou pecado

Não é virgem, disso eu sei



A poesia não sente sede

Não sente fome

Nenhuma dor a consome

Nenhum amor a conquista

A poesia não é artista

Não tem nenhuma profissão

Não é descrente

Não tem religião



A poesia não tem time pra torcer

A poesia não tem impostos a recolher

A poesia não tem contas a vencer

A poesia não tem ninguém pra sofrer



A poesia não conclui, não encerra

Não opina, não vota, não espera

A poesia não ajuda ao miserável

A poesia não ajuda ao doutor

Não é ao menos confiável

Mas é digna de louvor

Não entende de caridade

Não entende de maldade

É seca, conforme escrita

Feia ou bonita, é assim



A poesia não engana nem se engana

Não é chique nem vulgar

Não fere, mas machuca

Às vezes envelhece, não caduca

Não é elegante, nem impopular



A poesia não tem emblema

Não tem problema

Não vive em crise

Não tem reprise

Não tem mérito, nem demérito

Não é cheia, nem oca

Não tem ouvido, nariz ou boca

Não tem crânio, nem cabelo

Não tem barriga, nem é modelo

Não tem molde, nem moldura



A poesia não sente frio ou mormaço

Não sente arrepios ou cansaço

Não tem pavor ou tranqüilidade

Não faz inimigos ou amizades

A poesia não blefa, não deve nem teme

Não adoece, não enfrenta fila, não geme



A poesia não estuda línguas

Mas as fala

Não procura emprego

Não deixa recados

Não assiste novelas

Não faz palavra cruzadas

Não cozinha em panelas

Não se prostitui

Não entra em furadas



A poesia não é assaltada

Violentada, seqüestrada, roubada

Abandonada, recusada, perturbada

Internada, enganada ou mal amada

A poesia não se droga

Não enche a cara

Não vence barreiras

Não enfrenta barras

Não come o pão que o Diabo amassou

A poesia não deixa-se amar, nunca amou



A poesia não tem dependentes

Não posta correspondência

A poesia não arruma os dentes

Não paga consulta, não compra remédios

Não tem lepra ou lombriga

Não tem febre, nem dor de barriga









A poesia é assim

Sem problemas financeiros

Sem meias palavras, sem surpresas

Sem despesas, sem olheiras

Sem telefone grampeado

Sem a menor emoção

É esnobe com as dores

Com as flores, com os amores...

Com os poetas



A poesia é crua

A poesia é apática

É luxuosa, elitista

É pra quem sabe ler

Escrever, se entreter

Saborear



A poesia custa caro

A poesia custa tinta

Custa pestana, custa banana

Custa sono, custa abandono

Custa família, custa pilha

Custa frustração, custa escritor

Mas por ser poesia, se isenta

De todas as fraquezas humanas

Por ser poesia, se permite

A ser simplesmente poesia

Por ser poesia, faz o que faz

Por ser poesia, deita e rola

Por ser poesia, tira o corpo fora

Por ser poesia, se mete em tudo

Por ser poesia, atua nos bastidores

Por ser poesia, vende a alma e traí

E ninguém faz nada

Ninguém protesta ou prende

Ninguém fala, fuxica ou denigre

Todos a amam, a querem

Se deixam iludir

Como a vida é cheia de dores

Só temos a poesia para fugir





( Codo. Recife, Pernambuco, dezembro de 2002)

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