O que um santo disse, ou deveria ter dito
Eu vim um santo
Não usava coroa ou manto
Vestia uma cacharel, calça baiana
Sem cinto, cueca.; sandalha havaiana
Pisava devagarinho, leve, sem levantar poeira
Veio sem anjo, sozinho, pra não fazer zoeira
Foi até uma imagem dedicada a Ele, e pensou:
Que trabalho lindo! Quanto será que custou?
Não sai por menos de cinco mil
Que exagero, com tanta fome no Brasil
Gastam dinheiro com essas idiotices
Imagens de ouro para louvar crendices
E estes templos cobertos com tanta riqueza
Que disparate onde só se vê pobreza
Tudo guardado, esperando cobrir de pó
Tudo isso me envergonha, me dá um nó
Há! o que fizeram com o exemplo
Daquele que não teve sequer um templo
Uma casa, um pedaço de terra, uma cabeça de gado
Viveu descalço e morreu numa cruz, crucificado
Que tristeza ser santo da fartura
Ser venerado como criatura
Que ajuda a esta religião a fortalecer
Não posso fazer nada, nem me arrepender
Aquilo que pregam é tão sinistro
Colocam a cruz, que já foi de Cristo
Nos ombros de quem mal tem para se alimentar
Que não tem a passagem para ir orar
E ainda cobram dízimos
E os apelidos são tantos, tantos
Carregados por tantos prantos
Sem ver que têm tudo na terra
Mas não enxergam, o olho cera
Como ajuda-los se o pregador não quer?
Se apregoa o errado ao homem e a mulher
Deus colocou tudo ao homem, para que tanto pedir?
É só aprender a tudo dividir
E o santo passou por mim sem dizer nada
Estava desolado, foi-se sem deixar pegada
Foi para o céu, assim imagino
Longe de tanto lama, tanto desatino
( Codo. Recife, Pernambuco, dezembro de 2002)
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