Apesar da natural polémica que possa suscitar, ou até por muito que incomode e faça doer aos credores dos impossíveis poderes sobrenaturais, que quanto a mim não passam de paliativos de lesa inteligência, atrevo-me a expor aos escritores e leitores da USINA o assunto titulado, em jeito de reduzida equação objectiva.
Temos concerteza, independentemente de qualquer crença, o Papa João Paulo II por pessoa de dimensão ímpar e excepcional envergadura humana. Legítimo e incontestado sucessor do primeiro Papa, São Pedro, segundo a Igreja é o representante directo de Deus na terra, dogma de tal modo enigmático que tem gerado e continua a gerar montanhas de dúvidas sobre os indivíduos. Em igual circunstância se tomam os chefes das demais religiões e seus respectivos deuses. Talvez através dum soneto o busílis se equacione mais esclarecidamente:
Se Deus é dito e redito altar ego
Divino do sensato e do absurdo
Às gentes do Biafra está cego
Aos gritos do Ruanda está mudo.
Se Deus é esse pão que escasseia
Nas mãos de quem o medra com suor
Porque inunda, destrói e incendeia
A terra onde se esvai tanto labor?
Esse... sublime inventado detentor
Propalado omnipotente e senhor
Exclusivo de toda a Humanidade
Só pode ser em tudo como nós
Deuses da bondade e logo após
Paradôxais escravos da maldade!
E eis a questão: porque não assumirão os chefes das respectivas igrejas e credos a assunção de deuses vivos sobre a terra, aliviando os seu fieis seguidores do jugo ínvio da dúvida sobre a existência dos seus inventados deuses? A persistente tenacidade dos credos à sombra do mistério traz-me desde logo uma imagem: corda, balde e roldana dentro duma torneira!
Com reverência e respeito pelo credo religioso de cada qual, esteja eu ou não de acordo.