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Contos-->A magia dos Jetsons -- 31/10/2002 - 02:07 (Edison Gasparim) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A magia dos Jetsons

–– Diego, acorda, meu filho… tome banho logo e se apronte. O café está quase pronto.
E era assim, toda a manhã, como a sua mãe o chamava, desde quando ele podia se lembrar. Tão mecanicamente igual, até mesmo na pequena pausa, depois de dizer ‘meu filho’, como se quisesse ter certeza de que estaria acordado, antes de continuar a falar. Sempre igual. Sempre doce. Ele gostava de receber, a cada manhã, aquele carinho disfarçado de obrigação, mas repleto de zelo.
Na rua, a caminho da escola, dois quarteirões apenas até a estação do metrô, seguiam Diego com a sua mochila nas costas e seu inseparável companheiro Jetson. Era preciso ir rápido, pois o noticiário informara sobre a greve dos ônibus e, por certo, os trens estariam cheios. Esse é Diego, um garoto simples de 16 anos, que tinha um viver igual ao de muitos outros meninos de sua idade, e que parecia estar um pouco adiante do seu tempo. Sentia que algo nele era diferente, mas, pelo seu próprio tempo de existência, a vida ainda não lhe oferecera a capacidade de avaliar essa sensação esquisita.
A segunda estação... Ele ainda não havia se movido um passo sequer além do vão entre as portas. O apito de partida já soava quando, na plataforma, um gesto... Uma mão erguida no ar... um olhar apressado, mas limitado pelo andar das pernas já cansadas e por fim, um apelo...
–– Por favor!
E então, Jetson entrou em ação.
O skate colocado entre as folhas da porta, impediu seu fechamento, retardou a partida e deu tempo suficiente para a entrada de mais um passageiro. O homem entrou, olhou para Diego e falou:
— Muito obrigado, meu filho!
O menino que parecia indiferente ao agradecimento, sentiu que algo mais devia ser feito. Uma rápida olhada ao redor e a constatação de que todos os assentos preferenciais estavam ocupados, provocou em Diego outra reação.
— E aí, mano – dizendo, imperioso, a um passageiro – dá o lugar pro vozinho, cara!
Um semblante sonolento transmudou-se em perplexidade para depois se tornar sisudo, mas, por fim, o lugar foi ofertado. Ao sentar-se, o senhor voltou-se para ele e falou de um modo bastante terno:
— Parece que vou passar toda a viagem te agradecendo, rapaz.
— Tá limpo! Esses cara parece que não se enxerga.
— Quer que eu segure seu... er .. brinquedo? Diga-me, porque você o leva à escola?
— O Jetson? Obrigado! Mas ele não é um só um brinquedo, não! Já é parte de mim mesmo e levo sempre junto, porque, quando sair do metrô tem umas ladeira sarada até o colégio, e dá pra eu fazê uns arregaço até lá, sacou?
— Acho que sim, mas, esse nome... Jetson, você tirou de onde? Porque, pela sua idade, eu não acredito que...
— Eu dei esse nome por causa de um desenho animado do tempo do meu pai. Ele gostava muito e então, quando eu vi na TV a cabo, achei maneiro paca. Se parece com o jeito deles andarem flutuando, então eu chamei de Jetson, que tem a ver com foguete, né não?
Na terceira parada vagou o assento ao lado do velhinho que, estendendo a mão ao garoto, apresentou-se:
— Meu nome é Ângelo. Eu estou indo ver o meu bisneto que tem cinco anos, e você, como se chama?
— Diego… E foi tudo que o menino conseguiu dizer, enquanto segurava a mão do senhor Ângelo. Pensou que devia dizer mais. E até quis dizer, porém, nenhum pensamento lhe pareceu melhor que segurar aquela mão por mais alguns segundos. Sentiu-se um pouco acanhado, mas, estranhamente satisfeito, por ter sido agente de uma ação solidária. Por fim, desatou a falar.
— Sabe, vô... quer dizer, senhor Ân..
— Pode me chamar assim que não me importo, na verdade eu gostei do ‘vozinho’, quando você se referiu a mim. Soou-me de forma muito respeitosa e carinhosa. Você tem muita bondade e de uma forma muito natural! Mas… o que você estava dizendo?
— Sabe, sempre que eu pego o metrô, e não é só quando vou à escola, não... eu fico indignado de ver pessoas novas que ocupam os bancos cinzas, disfarçando quando entra um velho ou uma mulher grávida, só pra não ter que dar o lugar. Também acho que tem poucos lugares cinza numa terra de muita gente mal-educada. E mais, por que cinza? Por que não outra cor? Cinza parece que está descorando. Acho que o melhor é tudo da mesma cor e mudar a maneira de pensar... em vez de ter assentos especiais para algumas pessoas, devia ser, algumas pessoas especiais terem preferência sobre todos os assentos.
Fez-se um silêncio de reflexão compartilhado inclusive por outros passageiros que conseguiram ouvir aquele desabafo, mas, uma freada brusca, veio novamente desalinhar os pensamentos.
— Bem, eu desço na próxima estação – disse o senhor Ângelo – e mais uma vez, obrigado por me permitir ficar mais tempo com o meu bisneto. Seu nome é Gabriel, eu estou contando uma história muito longa, e ele quer que eu a termine antes que vá viajar.
— Que história tão comprida é essa que o senhor está contando?
— Talvez você ache estranho, mas é a minha história. Ele me pediu para contar como uma pessoa fica velha e o melhor exemplo que tenho sou eu mesmo. Que tal?
As portas se fecharam e Diego observava o velhinho, enquanto, lentamente, o trem se movimentava.
Diego ficou a imaginar se chegaria àquela idade e por quanto ainda teria que passar até lá. Não pensava em filhos ou netos, nem se os teria ou não. Apenas pensava em quanta paciência existia naquele homem que, atendendo ao pedido de uma criança, tentava explicar o que é ser adulto. Ele próprio nunca pensou seriamente nisso, nem mesmo chegou a elaborar quais seriam os seus planos para o futuro. Tinha apenas dezesseis anos e, de tudo que se lembrava, sabia que viveu muita coisa diferente, muita situação esquisita, engraçada e inusitada. Então, se deu conta do muito que continha a longa história do senhor Ângelo. Desejou, intimamente, também ouvir aquele relato de vida. Seria verdadeiro ou não? Será que não inventava alguma coisa só para contentar o bisneto que só tinha cinco anos?
O restante da viagem Diego seguiu incomodado com esses pensamentos mas, logo, ao estar diante das ladeiras, esqueceu-se de tudo, pois daquele ponto, até a escola, só existiam ele e o Jetson.
Diego e senhor Ângelo, passaram a se encontrar com certa frequência, uma vez que seus horários sempre coincidiam. E cada um, a seu modo, via no outro um referencial, um ponto de apoio para sua própria existência.
Das necessidades íntimas de cada um estabeleceu-se uma grande afinidade entre os dois. Em um desses encontros, o homem quis saber mais da opinião de Diego sobre os assentos preferenciais...
— Não sei de onde eu saquei essa idéia, não! Mas é uma coisa que eu gostaria muito de ver acontecer.
— Se você deseja isso de verdade, faça acontecer então! Não perca mais tempo! — disse o senhor Ângelo.
O garoto não entendeu como poderia fazer tal coisa. Aquilo implicava em modificar hábitos e costumes de um mundo de pessoas. Como os parâmetros lhe pareciam impossíveis, quedou-se a observar o velhinho, acreditando que ainda teria dele a solução para aquela afirmativa.
— Vou te contar uma história que aconteceu de verdade – continuou o homem.— O seu pai gostava do desenho dos Jetsons, e eu também gostei de um desenhista chamado Walter Elias. Ele sonhava em construir um enorme parque aonde todas as crianças e adultos do mundo poderiam brincar com os seus personagens. Mas, quando Walter ía em busca de dinheiro emprestado para realizar o seu sonho, era taxado como um visionário maluco e pouca ou quase nenhuma gente lhe dava ouvidos. Mas, para ele, o seu sonho haveria de acontecer e, quando enfim, alguém lhe confiou o dinheiro, ele conseguiu realizar o que mais desejou em toda sua vida.
— Se é verdadeira essa história, onde fica esse parque? Fica aqui na cidade? Quis logo saber o menino.
— Não, Diego! Fica na América do Norte. Foi lá que Walter... quer dizer, Walt Disney, como era conhecido, construiu a Disneylândia. E o que eu lhe disse antes, não são palavras minhas, não! Conta-se que foi o próprio Disney quem falou – “se você pode sonhar, também é capaz de fazer!”
A solução enfim surgira, mas, mesmo assim, ele se via incapacitado para desfazer algo que já fazia parte do viver das pessoas. Mudar a crueza dos sentimentos que tornava o ser humano frio, reservado, e ensimesmado de falsa retidão à bondade. Era impossível, pensava ele. Diego, porém, raciocinava com a lógica de um menino de dezesseis anos e, tais mudanças, lhe soavam como executar um serviço qualquer de oficina, tal como trocar peças estragadas por novas. Eram muitas as peças; e muita gente. Em nenhum momento o menino pensou que, às vezes, a peça podia não estar estragada, mas emperrada, necessitando apenas de uma lubrificação.
Calou-se por um tempo, torcendo para que o bondoso senhor não prosseguisse com a conversa. Era preferível ficar com os complicados problemas de matemática da escola.
A sua identificação com aquele senhor era muita. Tanta, que não se incomodava quando ele insistia em oferecer parte da sua experiência de vida, fosse na forma de um conselho ou até quando parecia imperativo. Talvez se sentisse preenchido nalgum pequeno vazio que a sua mãe jamais alcançaria.
Numa destas ocasiões, depois de vários encontros e muita coisa conversada, o senhor Ângelo, mais à vontade, o repreendeu pelo fato de ir estudar e levar um brinquedo junto. — Não é certo! — dizia, com tom de autoridade ou indignação diante da recorrência.
— Seguinte, vô! Eu cumpro direitinho com as minhas obrigação. Então, acho que num faz mal nenhum eu levá ele pra escola! Eu sou meio que viciado nele, pô!
— Então me escute direito, rapazinho. Porque, agora você acaba de dizer um monte de bobagem.
Dizendo isso, o homem empertigou-se todo. Passou o dedo indicador pelo vão entre o colarinho e o pescoço, e forçou a gravata, parecendo buscar uma reserva de espaço para respirar melhor e dizer o que tinha a dizer...
— Você não sabe a diferença entre prática e vício e deve tomar muito cuidado ao dizer as coisas.
— O que você tem é prática com o seu Jetson. Essa prática foi adquirida pelas várias vezes que tentou andar em cima dele; para cada tombo, outra tentativa, e assim foi até você conseguir. Prática, só isso! Ninguém lhe ensinou a andar de uma maneira que fosse diferente da sua. Você praticou e conseguiu!
Calado e atento, Diego o escutou e reconheceu a diferença entre o que tinha dito e o que de fato gostaria de dizer.
— Por outro lado, — continuou o sr. Ângelo — há uma coisa que você já aprendeu a fazer de modo correto e ainda continua aprendendo, mas que não pratica com o mesmo empenho que faz com o Jetson. É a maneira de falar; com as regras certinhas, com todo um manual de gramática. Você, cada vez mais, se esquece disso e se vale das gírias, das concordâncias erradas. Está desaprendendo o que já devia saber.
— É... o senhor tem razão, sabe? A minha mãe até já falou...
— Eu ainda não terminei, e, se me permite... agora falta pouco! — interrompeu o velho ao menino, e finalizou... — Mais tarde, quando você se tornar adulto, vai ter que deixar de lado este brinquedo. Você terá de assumir responsabilidades mais importantes, com manobras ainda mais arriscadas. Mas, se continuar a falar desta maneira, aí sim, terá adquirido um vício.
Apesar da forma severa como foi dito, o conteúdo das palavras tocou bem fundo o coração de Diego, pois coincidia em grande parte com o que sua mãe sempre lhe falava. E, com o silêncio de quem consente, ele aceitou a reprimenda e prometeu um esforço para se modificar.
De outra vez, quando viu o velhinho entrar no vagão, Diego tratou de iniciar a conversa. Era melhor ele falar, para não acontecer de ficar acuado, como das vezes passadas.
— Como está o seu bisneto? — disse, e foi logo atacando no ponto que mais deixava o bom senhor enternecido.
— Faz tempo que o senhor não fala dele. E a história... terminou? Ainda falta muito?
Satisfeito, o menino viu a sua estratégia surtir efeito, pois, instantaneamente, o homem disparou a falar...
— Contei ao Gabriel sobre você, pois, agora também é parte da história da minha vida. Ele quer lhe conhecer e eu também gostaria muito de apresentar você a ele. Quer ir comigo no sábado? É o aniversário dele! — disse isso tirando um cartão do bolso e acrescentou:
— Pense e depois me diga, aqui está o meu endereço para irmos juntos.
Diego guardou o cartão, mas não disse nada, embora soubesse que não iria, porque sua mãe já havia programado uma série de obrigações e até um passeio à casa de familiares. Depois que o seu pai morreu, tinham apenas um ao outro, e, numa espécie de pacto, sempre conversavam no fim de cada dia, onde cada um contava coisas e acontecimentos do seu dia. Chamavam de “passar o dia a limpo”.
Diego reconhecia em sua mãe um grande esforço para completar a ausência do pai e não iria contra aquela decisão já estabelecida só para não vê-la contrariada.
Mas, sempre espontâneo, porque era a sua maneira de driblar o acanhamento, Diego tirou um objeto da mochila e disse:
— Não vou poder ir ao aniversário do Gabriel, mas eu quero que o senhor dê isto a ele. Eu ia colocar no Jetson, mas pode dar pra ele.
O senhor Ângelo apanhou das mãos de Diego um adesivo recortado com um símbolo bastante familiar, mas que pouca gente saberia do que se tratava.
— Oh! O símbolo OM, a representação do som em que vibra o universo — disse para a surpresa do rapaz — Obrigado, mas é uma pena que você não possa ir... quem sabe em outra ocasião...
— Certo! Antes de ele viajar, né? Acho que o senhor vai sentir muita saudade. Quando ele viaja?
— Logo, e espero terminar a história antes. Quanto a sentir saudade... isso, todos nós sentimos e eu venho me preparando há muito para esses momentos.
Despediram-se, como de costume, onde o sr. Ângelo descia e depois daquele dia ele nunca mais apareceu na estação. Diego concluiu que, sendo ele muito velhinho e, se a família toda ia embora, o levaram também. Quase um mês se passou, mas sempre que o trem parava naquela estação, seu desejo era ver de novo o rosto do bondoso senhor entre os passageiros que entravam. E foi então que tomou uma decisão para acabar de vez com suas as dúvidas.
No dia seguinte, desceu na mesma estação aonde subia o senhor Ângelo e com o cartão que ele lhe dera foi procurar o endereço que havia nele.
Uma senhora aparentando não mais que 50 anos atendeu à porta e o menino, apressadamente, perguntou:
— Bom dia, o senhor Ângelo mora aqui?
A mulher não respondeu. Apenas demorou o seu olhar para o menino que segurava na mão o seu inseparável skate, e lhe fez uma revelação incrível ao perguntar:
— Você é o Diego, certo? O senhor Ângelo disse que viria e me fez prometer uma coisa. Espere um pouco! — entrando novamente na casa, retornou com um envelope nas mãos, que logo entregou ao menino. Dentro do envelope, um bilhete onde se lia: “Querido, Diego / Não consegui terminar a história em tempo / por isso mesmo estou indo para poder terminar. Sabe, acho que não me preparei tão bem, a respeito da saudade./ Felicidades/ Vozinho Ângelo”.
Diego quis saber da mulher se a família deixou algum endereço, para ele poder se corresponder.
— Não! — disse ela — o senhor Ângelo morava só e eu nunca soube se tinha família — continuou a falar sem perceber que estava para revelar algo muito importante àquela mente despreparada.
— Seu maior prazer era ser voluntário em uma casa para crianças com sérios problemas de saúde. Mas, depois que o Gabriel partiu, ele nunca mais voltou lá. Foi ficando cada vez mais abatido até que...
Diego não esperou para ouvir o fim. Desolado, já estava indo embora e após alguns passos, resolveu voltar para pegar o bilhete que deixou cair sem perceber. Ele o apanhou novamente das mãos da mulher que, tendo-o lido, se mostrava amargurada e sem saber o que dizer. O menino agradeceu, também sem dizer uma palavra; apenas um leve gesto com a cabeça e foi embora.
Os pensamentos se sucediam numa velocidade estonteante. Ele, que já havia vivido uma perda, voltava a sentir o vazio novamente. Precisava parar de pensar e só tinha um jeito. As ladeiras perto da sua escola souberam quão tumultuados estavam os sentimentos daquele ser. Sua concentração em executar as manobras não lhe permitia desviar os sentidos para outra coisa e assim, conseguiu desabafar um pouco.
Naquela noite, tentou omitir esse ocorrido de sua mãe no “passando o dia a limpo”, mas, foi em vão porque, como toda mãe, ela não apenas ouvia suas palavras, mas também sabia ler em seus olhos o seu estado de espírito. Mesmo sendo inquirido a respeito da tristeza, preferiu mentir a ter que revelar. Mais uma vez, percebeu em sua mãe outra virtude até então não revelada. De alguma forma ele sabia que ela não acreditou no que disse, mas respeitou sua dor fingindo uma indiferença na base do “Isso passa! Amanhã você não tem mais nada!”
Os trens cheios nunca o incomodaram mais do que um dia de chuva, quando não podia andar com o skate.
Um dia, porém, ao entrar no trem, deparou-se com um vagão não muito lotado, mas com muitos velhos em pé. Notou também algumas mulheres grávidas e uma delas tinha pela mão uma menininha de uns dois anos. Talvez houvesse alguns deficientes físicos, também, mas ele já não queria saber. Desconfortado, pensou em sair do vagão, quando, na plataforma, um ruído...
O som das pequenas rodas no tapete emborrachado, representava o ronco de um motor, mas ele sabia o que era e, antes mesmo que pudesse olhar, um garoto com um skate entrou no trem. Pára bem ao seu lado e, olhando para o vagão como um todo, grita alto com peculiar autoridade:
— Ei! Está tudo errado! Vocês não se enxergam, não é? — Neste instante, percebeu-se um clarão muito forte, que percorreu todo o trem e, ao voltar, tingia todos os assentos de uma só cor ...de cinza. Estabeleceu-se uma grande confusão, pois as pessoas se viram obrigadas a ceder os lugares aos idosos e às gestantes. Perplexo, Diego viu o rapaz sair do vagão subindo no skate. Identificou um adesivo colado na prancha. Viu também uma letra G, bem destacada nas costas da jaqueta que ele usava e não se conteve:
— Quem é você? – gritou, enquanto observava o garoto afastando-se, sem ao menos olhar para trás.
— Quem??... Diz alguma coisa, cara? – insiste, mesmo temendo o que poderia ouvir como resposta.
Então, parecendo vir de muito longe, Diego escutou uma voz a dizer:
— Diego, acorda, meu filho! O café está quase pronto!
A alegria agora estava manifesta em seu rosto. Não cabia em si de tanto contentamento, pois tudo lhe pareceu muito revelador e imediatamente lembrou-se do senhor Ângelo, o seu conselheiro de algumas manhãs.
Parecia incrível, mas ele tinha sonhado o seu maior sonho.
— Nossa! Por que você está com essa roupa boa? Você não tem aula, hoje! — observou a mãe ao tomar café em sua companhia, e acrescentou — Aproveita! Pega o Jetson e vai brincar na pracinha, enquanto eu arrumo a casa.
Ainda mastigando um último naco de pão, ele se dirigiu à porta com uma determinação nunca antes experimentada. E até esquecendo de solicitar permissão ou mesmo de dar um beijo na mãe, explicou-se:
— Não, mãe! Eu vou até o metrô. Tive umas idéias que eles precisam saber.
E antes que a porta se fechasse por completo ele ainda concluiu:
— E o nome dele agora é ‘Walt Disney Jetson’!
FIM

Não existe o “fim da vida”. Ela é como o vento que sopra em todas as direções;
forte; às vezes brando... pode ser uma simples lufada ou até parecer eterno,de tão sereno e contínuo.
Não existe o “fim da vida”. Ela é como o vento que, quando parece que parou,foi só para dar lugar a outro vento!
Edison Gasparim – agosto/2002



O FUTURO DO PRESENTE É O PASSADO Este é mais um texto que nos remete à uma reflexão de nossas atitudes.
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