'Um dia caminhando na rua, vi sacos plásticos vazios (de lixo?) jogados ao chão. Automóveis passavam por eles como seres infernais desafiando-lhes as maiores virtudes para o completo ridículo. Com a força do deslocamento do vento, os sacos plásticos eram lançados nas mais variadas direções, ao alvedrio do tempo. Olhei para aquela situação e não vacilei em traçar um paralelo por entre as pessoas. Poderiam as pessoas se dividir em dois grupos onde os primeiros, seriam representados pelos carros que, em alta velocidade, rasgavam os caminhos em busca da felicidade plena de se chegar ao destino com maior rapidez. Eles talvez saibam fazer a hora não esperando que tudo aconteça, uma vez que dispõem de algo chamado poder. O outro grupo, propositadamente menos privilegiado, era composto pelos sacos plásticos já usados que ficavam a mercê daqueles que, sem compaixão, os atropelavam. Eram lançados para as mais variáveis direções, conforme a vontade do vento. Vulneráveis e sem vontade própria, estes eram obrigatoriamente convidados a tomarem caminhos de acordo com a vontade de quem os atropelavam. O atributo de quem detém a força exerce a soberania sobre aqueles que tem a inércia como fundamento e modo de vida e de morte.
Entretanto, os sacos plásticos não percebem ou talvez tenham medo de perceber que são tão fortes quanto aqueles que os oprimem. A gênese da força destes é proveniente da falta de coragem daqueles em vencer os seus medos...'
TRECHO DO LIVRO 'SOFISMAS?' lançado em Niteroi em 2001