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Ensaios-->A criança e o pensamento mágico -- 30/08/2001 - 02:20 (Georgina Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Você sabia que o sono do bebê também possui uma finalidade defensiva? Os estímulos externos são tão excessivos, que a natureza ocupa-se de inserir o recém-nascido gradualmente no mundo. Com isso, a criança fica preservada dos traumas decorrentes de uma brusca e complexa percepção ambiental.

No tocante ao aspecto emocional, ocorre algo semelhante. O pensamento mágico infantil constitui-se como um elemento de defesa, possibilitando o convívio gradual de suas emoções com um mundo externo agressivo. Envolver-se com a fantasia é condição imprescindível para que ela possa enfrentar a realidade da vida nas fases de desenvolvimento subseqüentes.

A criança, como sabemos, convive com experiências emocionais diversas, tais como: amor, raiva, violência e agressividade. A sociedade tenta sufocar a expressão daquelas que considera negativas, na intenção de formar adultos mais pacíficos. Que recursos poderiam ser utilizados para a elaboração de suas questões inconscientes, medos e carências? Os contos de fadas folclóricos, sem dúvida, atenderiam a essa questão.

Um fator interessante dessas histórias é que, geralmente, os personagens não têm nome, identificados apenas como 'a bruxa ', 'o rei', 'a fada' etc. Isso vem a favorecer as projeções da garotada. A mãe protetora, ao atender os desejos de seu filho, representa a boa fada madrinha. Quando o castiga ou nega um determinado pedido do mesmo, é imediatamente transformada em perversa bruxa. Essa leitura inconsciente e simbólica, portanto, propicia à criança melhor lidar com as suas questões subjetivas, preparando-a para a maturidade. A aceitação da ambivalência do outro certamente fará parte de uma exigência futura e, trabalhando-a internamente, estará melhor preparada para vivenciá-la.

As histórias em que os personagens seguem solitários pelo mundo, enfrentando situações que acabam por lhe dar vitória, podem ser extremamente confortadoras para os filhos únicos, por exemplo. Já o conto 'João e Maria', no qual as crianças flagram os pais na premeditação de abandoná-los na floresta, pode vir a facilitar-lhes a elaboração da cumplicidade sexual entre os mesmos , assim como do sentimento de rejeição decorrente. Assemelha-se à percepção de um segredo que não lhes é revelado, a impressão angustiante da existência de uma trama para livrarem-se dela. Enfim, penetrar no mundo da fantasia é como estabelecer uma parceria, ou seja, desfrutar da possibilidade de intuir nos personagens com os quais se identifica, sentimentos semelhantes aos seus. Além disso, vivenciar essa viagem é vislumbrar um ganho final real, ou seja, o reforço de sua autoconfiança.

Enquanto os heróis míticos posicionam-se muito acima das expectativas infantis, nos contos de fada as temáticas permanecem mais próximas. A rivalidade entre irmãs é vivida e superada no conhecido 'A Gata Borralheira'. Em 'O João e o pé de feijão', o assustador gigante é destronado pela astúcia de um menino. Em 'A Bela Adormecida', a mãe idealizada morre e surge em cena uma madrasta perigosa. O ciúme edípico entre mãe e filha fica delineado e surge um outro objeto de amor que não o pai, na figura de um príncipe glorioso.

Na verdade, os contos de fadas nunca foram muito considerados nas escolas. Antigamente, por serem tomados pelos educadores como muito violentos ou amorais. Atualmente, por concederem maior valor às publicações editoriais com ilustrações mais complexas e chamativas, assim como o rótulo valorizado de 'livro interativo'. Esses recursos, obviamente, não propiciam à criança o fortalecimento da imaginação, por não deixarem lacunas para serem preenchidas pela seu histórico emocional. Devem por isso ser utilizados como leitura complementar. Trazem até o leitor, na maioria das vezes, um lobo bonzinho ou um dragão medroso, objetivando a extinção do medo infantil perante essas figuras 'lendárias'.

Com relação a um passado próximo, apesar da indiscutível competência de Maria Clara Machado, há quem lhe considere um marco, assim como o fazem a outros escritores infantis, para a posterior formação desse quadro. Em 'Pluft, o Fantasminha', o assustado personagem dava início à peça perguntando: '- Pai, gente existe?'. As suas produções foram muito adotadas nas vivências culturais dos tradicionais colégios católicos e seguiram-se a elas uma intensa propagação de trabalhos que, sem a originalidade e o pioneirismo da referida autora, refletiam a equivocada tentativa de excluir a maldade e o medo da realidade psíquica infantil. Numa tentativa de extirpar o temor das crianças, as 'bruxinhas' passaram à condição de extrema fragilidade e os monstros, a insipientes figuras acovardadas.

Por outro lado, submeter a criança apenas à leitura realista significa uma rejeição ao seu mundo interior, que é essencialmente mágico. A realidade de um indivíduo está atrelada à sua percepção individual e, devido a isso, os educadores que insistem nesse procedimento certamente deveriam retomar às suas recordações e sentimentos da infância, à procura dos ricos tesouros que ali deixaram um dia.





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