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Contos-->O náufrago de si mesmo- Cap I -- 28/10/2002 - 18:58 ( Andre Luis Aquino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A vida costumava ser algo muito parecido todos os dias, acordava cedo e me arrumava com pressa estava sempre correndo contra o relógio, sempre atrasado, saia correndo ás vezes nem me lembrava de tomar café da manhã, trabalhava num escritório muito agitado, não tinha tempo nem de respirar, às vezes almoçava na frente do computador.
Quando eram seis horas, era à hora de sair, mais poucas vezes consegui sair no horário, sempre ficava um pouco mais e muitas vezes muito mais, voltava para casa sempre muito cansado com o corpo todo doendo e com uma dor de cabeça incrível, para não dizer horrível, acaba passando no mercado e comprando alguma coisa para comer.
Chegava em casa e ia checar os recados na secretária eletrônica, quase todo dia escutava a voz da minha mãe me dizendo para se cuidar, comer direito, essas coisas de mãe superprotetora até a quilômetros de distância, que apesar de ser insistente, faz muita falta.
O momento mais especial do dia era quando eu podia me deitar na banheira e ler o jornal e ainda ficava escutando a televisão, do meu banheiro dava para até para assistir, gostava muito de uma série antiga que falava de um golfinho amigo, acho que era Flipper.
O momento mais calmo e amoroso do dia era falar com o meu amor ao telefone, morávamos muito longe um do outro e era praticamente impossível nos ver em dias de semana, mas nos amávamos o suficiente para vivermos separados, já tínhamos tomado essa decisão anos atrás, mas hoje já tínhamos planos de revogar essa lei e criar um novo mundo juntos, quem sabe morar sob o mesmo teto e ter um filho, ver no que ia dar, ver se o nosso amor era mesmo algo que vinha para ficar em nossas vidas, faltava tempo e dinheiro, como sempre.
O amor da minha vida era alguém especial, nossos amigos diziam que tínhamos o mesmo sorriso, ela era também uma batalhadora, lutava para conseguir seus objetivos, queria ser grande, queria ter uma casa grande com piscina e um monte filhinhos correndo pela casa.
A viagem

Era uma terça-feira comum aquela, não me dava sinal algum que algo de muito diferente poderia estar por acontecer,exceto pelo fato de que eu iria fazer uma viagem muito importante para minha carreira, estava indo representar minha empresa numa reunião do outro lado do oceano, era a oportunidade de conseguir um bom negócio e assim uma promoção, salário melhor e o começo da realização dos meus sonhos.
Essa viagem me havia sido prometida á muito tempo, os sócios da empresa confiavam no meu poder de barganha e persuasão para obter um negócio vantajoso para empresa deles, as negociações haviam caminhado muito bem nos últimos meses e essa reunião havia sido marcada para se acertar os detalhes finais do negócio, eu iria viajar com um dos sócios da empresa, ele estava indo lá só para assinar os papéis.
Passei a manhã discutindo com o conselho da empresa quais deveriam ser as estratégias que eu deveria utilizar na negociação, acertando os detalhes e sabendo exatamente o que eles esperavam de mim.
No período da tarde fiquei arrumando minhas malas, esqueci até de almoçar, meu vôo saia no final da tarde e tinha que organizar minhas coisas, não era muito bom em organizar, meu apartamento podia testemunhar contra mim, por isso passei muito tempo tentando dobrar e separar minhas roupas e outros itens.
Havia chamado um táxi para me levar e quando ele chegou eu ainda estava checando se estava esquecendo algo, se havia fechado bem as janelas ou fechado o gás, esperei muito por essa viagem, mas ela chegou de surpresa, soube de manhã que tinha que fazer uma viagem importante e longa dessas não deu tempo de nada e o tempo voa quando você mais precisa dele.
Entrei no táxi com pressa, para variar estava já bem atrasado e uma pontinha de nervosismo começava a me revirar o estômago, talvez fosse o fato de não ter tido tempo de comer nada durante o dia inteiro também, essas coisas fazem mal a saúde.
Após os procedimentos necessários para embarcar eu já estava dentro do avião, sentadinho confortavelmente na minha poltrona ao lado do sócio de minha empresa,ele era um homem desses sofisticados, sua presença era intimidadora, não sei porque, acho que devia ser por causa do estilo dele, era gordo, assim bonachão, fumava charutos, ainda bem que não poderia fazê-lo durante nosso vôo, andava sempre de terno preto e gravata vermelha e adorava usar chapéu, usava relógios que valiam um ano de meu trabalho e um perfume que deveria ser bem caro, mas não tinha um cheiro assim tão agradável, o cheiro dos charutos se sobrepunha a este.
As comissárias de bordo começaram a falar dos detalhes do vôo e de detalhes mórbidos caso o avião caísse, Deus me livre! Quando eu olhei para o lado e vi um casal se beijando e olhando bem no fundo dos olhos um do outro, meu Deus! Eu havia esquecido de ligar para o amor da minha vida, precisava faze-lo urgentemente era algo imperdoável de se fazer com a minha querida.
Tive que me abaixar para ligar meu celular, o sócio da empresa apenas olhou de canto de olho, era visível a sua petulância e o seu desprezo por mim, ele era um dos três sócios, o mais incompetente deles, por isso foi designado para viajar e assinar papéis, não iria fazer falta na empresa durante o tempo da viagem, os outros dois sócios é que gostavam muito de mim.
- Olá querida, tudo bem?
- Sim, tudo, estou no meio do trânsito, as coisas estão complicadas por aqui, tive um dia cheio e estava precisando sair um pouco e descansar a cabeça, estava pensando em passar na sua empresa para tomarmos um café, sai um pouco mais cedo vai, por mim, o que acha?
- Querida, você não vai acreditar, lembra aquela viagem da qual lhe falei? Então, estou prestes a inicia-la, já estou no avião, estou ligando para dizer que te amo!
- Querido que lindo! Como assim, já está indo? Que pena que não vou poder te dar um beijo de boa sorte, também te amo!
- Um beijo, agora tenho que ir...
Nossa conversa teve que ser interrompida quando foi flagrado pela aeromoça com o celular.
- Senhor, por favor, não é permitido o uso de telefone celulares durante os vôos , eles podem...
Pedi desculpas e guardei meu telefone, o sócio só olhou de lado mais uma vez e enterrou a cabeça no jornal que lia, era como se eu não estivesse ali, azar o dele, eu não ligava para ele mesmo, olhei para o lado e o casal estava abraçado olhando para a janelinha do avião, pareciam sonhar o mesmo sonho.


Viajando

E lá estava eu nas alturas voando em direção ao meu destino, o mundo é mesmo muito bonito aqui de cima, Deus deve ser mesmo uma pessoa feliz por ver essa paisagem todos dias por esse ângulo, daqui dá para ver tantas coisas que lá debaixo nem podia imaginar.
Estava tudo muito bonito, mas me deu um sono, acho que finalmente estava relaxando, eles estavam passando um filme, acho que era Endless Love, sempre achei a Brookshields linda, desde a lagoa azul, queria muito assistir para lembrar daquela triste história, mas estava com muito e sono, fechei os olhos e cai no sono.
Sonhei algo bem diferente, acho que a altitude que estava me fazendo algum efeito sonhei com um lugar muito bonito, cheio de arvores, acho que era um jardim, havia muitos pássaros, uma praia, não, não era um jardim, tinha um mar lindo e cheio de ondas, ventava forte naquela praia e nossa só tinha eu lá! Que estranho, mas era um lugar lindo, dava vontade de ficar lá descansando.
Acordei com o barulho dos motores do avião, começamos a descer, foi bom dormir a maior parte da viagem, aquele homem insuportável ao meu lado não disse uma palavra, estava lá aboletado na poltrona, roncando feito um porco.
A aterrissagem foi tranqüila, batemos palmas para o piloto, graças a Deus chegamos em terra firme sãos e salvos, apesar de gostar de voar não posse negar que sempre ficava meio nervoso, peguei minhas coisas e aquela coisa também, me despedi das aeromoças, ainda vi o casal de namorados ainda grudados, eles realmente formavam um bonito casal, a gente podia ver que se amavam mesmo sem conhecê-los, a linguagem dos corpos deles falava por qualquer coisa.

Quarto de hotel


Ainda bem que me deram um quarto separado daquela coisa, já imaginou ter que dormir do lado de uma pessoa que parece uma britadeira roncando e ficar sentindo o odor daqueles fedorentos charutos, valha-me Deus! Estava salvo, o hotel era bem agradável, tinha uma vista para uma praça bem ampla, era toda iluminada, lá de cima, eu estava no 22º andar, as pessoas pareciam formiguinhas.
Liguei a teve e fui tomar um banho, na minha cabeça eu já imaginava a estratégia que ia elaborar para a minha negociação, se eles fossem japoneses eu tinha que ir na manha, melhor negociar num almoço quem sabe, mas não em um de comida japonesa, eles iriam ficar muito à vontade, melhor em um de comida mexicana, não, talvez isso iria intimidá-los...
Fiquei mais de três quartos de hora debaixo do chuveiro pensando no que eu ia fazer, com que tipo de negociador ia negociar, essas coisas, estava ansioso.
Liguei a tevê e deitei na cama, o noticiário falava dos acontecimentos do dia, Bin Laden havia aparecido em um novo vídeo, os palestinos continuavam na sua Intifada, as bolsas caiam em algumas partes e subiam em outras partes do mundo, enfim a mesma coisa de sempre.
Antes de dormir foi até a sacada do meu apartamento de hotel e lá estava a praça, estava quase vazia exceto por um casal sentado num dos bancos, lá de cima eles pareciam duas formiguinhas se beijando, ali sozinhos parecia que o mundo era só deles, lembrei do meu amor.
- Oi querida, já cheguei!
- Ahn,ah oi querido estava dormindo, que bom, tá tudo bem?
- Desculpe querida te acordar, senti sua falta, apesar de estar a quilômetros e quilômetros de distancia parece que estamos tão distantes quanto quando estamos na nossa cidade
- É verdade, querido, mas logo vamos morar juntos, não vamos? Ter nossos filhinhos...
- É querida acho que finalmente vamos nos unir de verdade...
E ficamos ali sonhando durante algum tempo, nos despedimos e eu fui dormir, minha cabeça ainda estava a mil por hora, era o momento de desacelerar, com certeza ia sonhar com a negociação.
Acabei sonhando que estava no meio de uma guerra, estava no Líbano e ele estava sendo invadido pr Israel, nossa que viagem a minha! As pessoas fugiam de lá, as bombas explodiam por todo lado.
Foi só mais um dos meus loucos sonhos, ainda bem.
A negociação

Nem consegui tomar café da manhã direito, estava muito nervoso, sentia até umas pontadas no meu estômago, era a minha gastrite nervoso me atacando, ao contrário de mim o sócio da empresa, senhor-Rolha-de-poço-de-terno parecia ter tomado um belo café da manhã e passado uma noite maravilhosa, deve ter roncado muito!
Nos encontramos no Hall do hotel, ele mais uma vez com aquele olhar de desprezo,deixa ele, vai ver só como eu vou me sair bem na negociação e esse olhar estúpido vai sair de lá, ele não perde por esperar.
O taxista que nos levou até local da negociação não parava de falar, minha cabeça dava voltas, preparava estratégias mirabolantes, mas as abandonava em seguida, ou eram agressivas demais ou muito fracas, não via a hora de chegar, o sócio bonachão estava lá com aquele charuto insuportável conversando não sei o que com o taxista que parecia uma matraca ambulante, falavam em espanhol, uma língua que para mim é meio histérica, as pessoas que falam ela muito rápido parecem loucos não dá para entender nada, espero que os negociadores não sejam espanhóis, argentinos ou qualquer um desse naipe.
Finalmente chegamos, era um outro hotel, só que esse parecia um palácio das mil e uma noites, hummm, acho que meu sonho tinha pertinência, uma intuição me percorreu o pensamento, mas não queria dar muita bola para ela, tinha que ter calma, não podia deixar meus pressentimentos me atrapalharem, precisa de clareza no meu pensamento, não podia perder a razão.
Adentramos a sala, era uma sala toda branca, num estilo bem limpo, mais parecia um hospital de tão alva, havia músicas no fundo, minha intuição estava cada vez mais certa, uma mesa enorme preta destoava do resto, ela era cumprida e cheia de cadeiras, seria ali que a negociação iria se desenrolar.
É meu sonho estava certo, eles eram negociadores árabes, do oriente médio, Sauditas, Libaneses e Sírios, seria uma negociação dura, muito dura, esses homens não era de ceder muito, mas eu estava bem preparado, já esperava me deparar com esses.
Foram alguns dias de negociação, eles não queriam ceder alguns pontos, tive que usar subterfúgios e uma estratégia moderada negociava alguns pontos em troca de algumas concessões nos pontos que eu tinha como objetivo e meta alcançar, aos poucos encontramos pontos pacíficos,a unanimidade foi sendo construída pouco a pouco, os dois lados iriam sair ganhando, mas era preciso que eu conseguisse uma negociação vantajosa para minha empresa, seria uma maneira de mostrar o meu valor para eles.
Demonstrei meu conhecimento pelos costumes deles e ganhei a simpatia, fui me tornando mais próximo e ao final de três exaustivos dias de negociações já sabia da vida de cada um deles e já estava até dando conselhos, muitos jantares e almoços depois e fechamos o negócio, havia sido um belíssimo negócio para a minha empresa, estava feito, tinha alcançado minha meta!!!
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