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Poesias-->Contramão -- 08/01/2003 - 14:59 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Contramão



A minha inspiração vem do arroto de feijão

Do barulho da caixa de descarga

Da mão quando se lava

Do azedo do sabão



Vem da filha pública no hospital

Do cheiro de suor no coletivo lotado

Do sangue no corte do sisal

Do carro desgovernado



Vem da força no cabo do arado

Da grávida de várias vezes

Do cheirador de cola abandonado

Do bêbado fedendo fezes



Vem do esgoto da praia cheia

Do travesti que esconde seu desejo

Do estupro de cara feia

Do desabrigo da ordem de despejo



Vem do tédio

Da falta de remédio

Da goteira no prédio

Da maldade do assédio



Vem do pobre cantando brega

Do bandido matando a fome

Da caridade que só se prega

D o filho sem pai no nome



Vem do carroceiro vendendo bicho

Do médico mal remunerado

Do mendigo comendo lixo

Do surfista todo quebrado



Vem do segredo da esquina

Do operário que sabe nada

Da prostituta inda menina

Do Galo da Madrugada



É a roupa surrada e falha

É o cigarro paraguaio

É a dengue que logo espalha

O estouro do pára-raios



É o pneu careca

O carro empurrado

O padre que peca

O rosto esmurrado



Da telha barata

Do rango requentado

Da receita que mata

Do vilão inocentado



Da lombriga na barriga

Do nariz assoado

Do galo que briga

Do bife mal passado



Do pão com ovo

Do café da manhã

Do grito do povo

Do cortador de maçã



Vem do endividado

Do professor municipal

Do telefone cortado

Do classificado no jornal



Do cabo eleitoral

Do lixo no carnaval

Do gasto com arsenal

Do Jornal Nacional



Vem da seca queimando o chão

Do gado em osso tísico

Do assobio do sertão

Do calo no deficiente físico



Vem da careta

Da muleta

Da lambreta

Da sarjeta



Me inspiro no lodo

Que compõe com a vida o todo

Para poetizar



Não vivo a falsa ilusão

Que um verso bonito ilida

Só ando na contramão

Versando como é a vida



( Codo. Recife, Pernambuco, dezembro de 2002)

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