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Poesias-->Como são felizes os pequenos -- 08/01/2003 - 14:55 (Clodoaldo Turcato) |
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Como são felizes os pequenos
Já fui criança um dia
E tudo era diferente
Só existia uma fantasia
Crescer logo, virar gente
O tempo passava devagar
A Páscoa, o Natal, os feriados
As festas todas
Demoravam a chegar
E eu nunca virava gente
Como eram felizes os “grandes”
Com seus narizes empinados
Casacos de couro
Talões, cartões, contatos
Carros importados
Indo pra todo o lado
Sem dar a menor explicação
Sem alguém pra bater
Ou pedir benção
Há! como eram felizes
Demorados anos passaram
E comecei a me sentir diferente
O que antes não chegava
Agora vinha de repente
Pêlos, voz grossa, masturbação
Vontade de ter alguém
Experimentar coisas novas
Machucados no coração
Os pais perderam o encanto
Papai Noel já não existia
Minha casa cheia de brigas
Desencontros e desarmonia
Mas os grandes continuavam felizes
Com suas bebedeiras e hipocrisia
O amor mostrando a força
Contra minha rebeldia
O tempo voou
Mal reparei: era de maior
Era doutor em uma porção de coisas
Sabia a vida de cor
Casamentos, filhos, casas, posses
Vieram com outros anos
Que já não eram tão rápidos
Que já não eram tão planos
E a alegria dos grandes eu não encontrava
Busquei-a no álcool, no fumo
No jogo, na perversão
Na vida fútil do consumo
O tempo foi
E as estações mudaram depressa
Tronei-me grande
E da alegria somente promessas
Compreendi em todas as minhas dores
Por que queremos voltar a ser criança
Hoje estou com medo
Daqui a pouco serei velho
Daqui a pouco serei mais triste
Daqui a pouco vou me arrepender
De que um dia
Quando fui criança
Teimei em querer crescer
Há! como são felizes os pequenos
Pena que não saibam
Dessa dura realidade
Que se ficassem sempre crianças
Só teriam felicidades
( Codo. Recife, Pernambuco, dezembro de 2002)
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