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Poesias-->Boa Viagem -- 08/01/2003 - 14:51 (Clodoaldo Turcato) |
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Boa Viagem
És matreira
Longos cabelos azuis
Rosto liso, às vezes calejado
Pisoteiam teu corpo
Urinam em tuas covas
Riem contigo
Prostituem aos teus olhos
Amores nascem e morrem
Junto às tuas curvas
Compram, vendem e trocam
Jogam sem a sua permissão
O teu nariz se entorta
Quando o esgoto cai sobre sua pele
És calma, pacífica e meiga
Quando todos se vão
E a noite cai
Só, deves chorar
Tratar as feridas
Pra no outro dia
Junto com o sol
Acordar faceira
E acolher gentilmente os exploradores
Já foste jovem e desleixada
Virgem e pequena
Ninguém se dava conta de ti
Porém, um dia o progresso chegou
E te reconheceram
Musicaram os seus encantos
Publicaram sua beleza nua
Te cercaram e violentaram-te sem dó
Eu me pergunto porquê?
Por que não te revoltas?
Jogando seus cabelos sobre a cidade
E espanta quem te faz mal
Mas pelo visto gostas assim
Ser mal tratada
A não ser tratada
Gostas de companhia
De movimento
De se ver poderosa, falada
De esbanjar seu trejeitos
De assustar, às vezes
Amigando-se com tubarões
Num aviso firmado aos ousados
Eu não entendo
Não sei o que tens em ti
Não me culpo
Afinal, não vivo sem você
Mesmo caprichosa
Mesmo dada assim com todos
És meu caso de amor
Padeço, te idolatro
Para algumas vezes
Tarde da noite
Ser toda minha
E me fazer viajar
Só me resta respirar fundo
E aguarda a minha viagem
Minha Boa Viagem
( Codo. Recife, Pernambuco, dezembro de 2002)
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