Alvorada
Seis horas da manhã
Num dia de inverno
João sobe o inferno
É preciso trabalhar
Mas antes de vender bola
Leva os filhos para a escola
Pra mode de estudar
Um em cada braço
Cercados pelo abraço
Enlaço de amor paternal
É preciso dar futuro
Pros meninos, mesmo duro
Em um mundo desigual
João sabe que se dormir
Os filhos é que vão sentir
Toda a dor que vem de fora
Tem saudade de Recife
Negão, deixa de tolice
Pega os filhos e vai-te embora
Vai João.; vai João.; vai João
Vai João.; vai João.; vai João
Os filhos precisam comer
Os filhos precisam vestir
Os filhos vão se perder
Se você não resistir
Força João, sobe o morro
Dê um esporro, se o menino reclamar
Eles estão bem vestidinhos
Alimentados, bonitinhos
Sem vontade de estudar
Lembra a rua, lembra a fome
Lembra o crack, lembra a Febem
Lembra a prisão
Veja o que tens pros pequenos
Sobe o moro, sobe agora, força João
Vai-te embora
Pra vida não te pegar
( Codo. Recife, Pernambuco, dezembro de 2002)
|