A musa livre do Derby
Vejo, ao longe, ela chegando
Figura fincada em velhos trapos
Restos de tecido em cacos
Pobreza em traços e farrapos
Acompanham-na ganidos finos
De várias gargantas com fome
Misturados aos latidos fanhos
De uma matilha com fome
João, José, Arnaldo...Pascoal
Madalena, Sophia e o Brigadeiro
Amigos de muitas horas medidas
Amantes, cúmplices e o seresteiro
Ela esbanja a sua pobreza
Sua avareza, sua condição
Sua presença como número social
Seu custo para a nação
Eles a aplaudem
Protestam a desigualdade
Em suas faixas imaginárias
Como são livres, falam à vontade
Ela folga seus gestos
Querendo fazer-se notada
Cospe na cartola do doutor
Alva, pura, virgem, emancipada
Eles tem a noção do humano
Não tem crueldade ou covardia
Parceiros para todas as dores
Solidão, fome, descaso e moradia
Ela não tem compromissos políticos
Seu partido é a sobrevivência
Não sabe de esquerda, centro ou direita
Vive sem problemas de consciência
Mesmo sendo rápida é barulhenta
Sua cruzada deixa marcas na cidade
Destoa nossa falsa situação
Derrubando nossa mediocridade
Ela fede, enoja, afugenta
Ninguém a adota para sua mesa
É a esmola rápida e distante
Atrapalha o trânsito com sua pobreza
Mas vejo-a como única séria
A única que impõe sua rebeldia
Não se corrompe com os homens
Pois tem cães por companhia
( Codo. Recife, Pernambuco, dezembro de 2002)
|