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Ensaios-->Tributo a Fernando Pessoa -- 02/06/2001 - 15:47 (•¸.♥♥ Céu Arder .•`♥♥¸.•¸.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Escrevi, há algum tempo, uma crônica em que eu dizia:

“HÁ COISAS QUE A PSICOLOGIA NÃO CONSEGUE EXPLICAR...”

E retornou-me à memória essa frase, ao ler algo sobre o “Gigante da Poesia”, Fernando Pessoa, que diz:

“Fernando Pessoa era alguém com seríssimos problemas psíquicos. Grande parte de sua genialidade veio de sua ousadia em inovar, ousadia esta, oriunda de seu desequilíbrio mental. Apenas sua fama impediu, até agora, pesquisas mais profundas sobre seu comportamento, mas torna-se óbvio, para o iniciado, quais eram elas. Pairam dúvidas, no entanto, sobre a intensidade das mesmas...”

Para esses “incautos”, minha mensagem:

Se procurassem ler, com atenção, a obra do “Gigante”, poderiam constatar que ele próprio, o Pessoa, nunca negou o seu “provável desequilíbrio”. E, como reza a “Senhora Psicologia”, o louco que se reconhece louco, não pode ser louco...

Ilustrando com um comentário de Coelho Jacinto Prado “Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa”, Lisboa, Ocidente, 1949:

“Caso sui-gêneris na literatura portuguesa, Fernando Pessoa representa a superação de um grande ciclo poético iniciado em Camões. De fato assimilando em si toda a experiência lírica tradicional e adequacionando-a à sua estranha personalidade, pôde acrescentar-lhe matizes originais e abrir um novo ciclo lírico, já evidente na larga influência que exerce entre os Poetas da Língua Portuguesa. Sua poesia atribuída aos heterônimos (Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis), que são outros-eus de sua personalidade multi-dividida, a fim de melhor conhecer todos os lados da verdade, ou todas as verdades, - tem por base o verso que lucidamente plasma seu processo criador: “O QUE EM MIM SENTE ESTÁ PENSANDO”. Por outras palavras, a inteligência, exigentemente indagadora e analítica, debruça-se sobre os dados da sensibilidade para os fixar e os conhecer. Emoção pensada , no íntimo consórcio da sensação com a idéia que a inteligência formula em torno da mesma. Tal processo obriga a um constante jogo entre o ser e o não-ser, que destrói toda a afirmação ou toda verdade básica, graças ao poder diluidor da inteligência. Nada se lhe resiste, e o Poeta acaba por negar qualquer verdade que não contenha, na raiz, uma contradição, isto é, a análise profunda das coisas desmancha-as porque lhes descobre o paradoxo interno, provocador de anarquia e caos. O pensamento assim, verruma a sensação poética para fixá-la, para “limpá-la” das “verdades” aceitas pela tradição e pelo vulgo, como se fossem idéias que o ato de pensar descobre falsas ou mentirosas. Esse processo aniquilador confere à sua poesia um caráter niilista que não deve iludir ou surpreender, visto tratar-se de uma organização mental extraordinariamente lúcida, que remove todo conhecimento já catalogado, em busca de um absoluto que a razão nega e a sensibilidade repudia. O intelectualismo, apoiado numa linguagem de síntese individualíssima, aproxima-o do filósofo, que não chega a ser pelo fato de seu conhecimento do mundo ter por base ainda a emoção, embora emoção pensada. É, por isso, um dos maiores poetas portugueses (ao lado de Camões e Antero), e dos maiores poetas europeus.”

Creio que o comentário acima é bem elucidadtivo sobre o Poeta em questão. Teria muitos outros depoimentos que esclarecem a grandiosa forma de ser do ilustre e incomparável Pessoa. Mas seria “chover no molhado”, pois todos fazem reluzir a personalidade do autor, do qual, atualmente tentam, alguns “desclassificados”, que se julgam “especialistas” em análise de comportamentos, denegrir a imagem de alguém que nos legou, por assim dizer, uma “literatura inteira” ...
Isto, porque, tão “delirantes seres” não foram ainda capazes de observar o Poeta que, em sua própria obra, faz uma análise perfeita de si mesmo. Penso, sobre isto, que ele, de antemão, já imaginava o que sucederia após sua morte.
Quem, melhor do que ele, poderia definir de tal forma, a célebre pergunta que paira na mente de todos nós, em alguns momentos da vida? :

“ Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”

Que criatura, neste mundo, já não se sentiu assim? :

“Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas...”

O trecho abaixo retrata a sensação de vazio, que todos sentimos, ao repensar os conceitos apreendidos, aleatoriamente, por força de uma formação, sem alguma base sólida, ou segura, que tentam nos passar na infância:

“Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pelas janelas das traseiras da casa.”


Mais ainda... Ressalta o sentimento humano da dúvida diante do eterno conflito de cada um de nós: “De onde venho; o que sou e para onde vou?”
Partindo desta premissa, seremos todos desequilibrados, então?


“Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!”

Mais uma “contemplação” em que ele declara, talvez, a irreverência dos que os julgariam mais tarde. Creio que esses, sim, andam à solta nos manicômios de suas próprias deliberações insensatas, por falta do que fazer, com as suas teorias falidas e fétidas!

“Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos varridos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais do que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades...

Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrama-me a natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo...


Vejam aqui, onde ele “derrama a sua poesia” na execução de versos que tão apropriadamente definem o sentimento de pessoas “normais”, como nós:


“Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama,
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

O que, para os “Senhores da alma humana”, ou seja, os analistas de “meia-pataca”, que julgam ser, o indivíduo, uma cobaia para suas análises malucas, são palavras de um ser consciente, apenas, de suas incertezas, decepções ou o não preenchimento dos vazios, que afligem qualquer ser vivente. Pessoa, somente, expressa nos seus versos, que talvez o intelecto e o muito “pensar e analisar”, ou adquirir conhecimento das coisas, pode não nos trazer realização nenhuma, visto que alcançou tudo isso e não se declarou feliz; viu-se apenas alguém em um mundo caótico, onde vagam seres “mascarados”... como ele.


“Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.'

Enfim...
A grande e incontestável “arte” no dizer de Alberto Caeiro, o “eu” de Pessoa que fala da natureza:

“Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso, tomo a infelicidade como a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha
Pensar como quem anda
E quando se vai morrer lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...'


Arremato, aqui, com alguns versos que demonstram a simplicidade de uma alma, que os “abusados legistas do pensamento”, esses que têm, inadvertidamente, a alcunha de “analistas”, tentam denegrir e tirar-lhe o descanso eterno, na tentativa de DIFAMAR um SER que nos legou uma Obra de tão alto Nível Literário.
Ah! Eles não devem pensar, seriamente, que são dignos de tal coisa. Pois, se pensam...
É POR INOCÊNCIA!

'PARA SER GRANDE, SÊ INTEIRO: NADA
TEU EXAGERA OU EXCLUI.
SÊ TODO EM CADA COISA. PÕE QUANTO ÉS
NO MÍNIMO QUE FAZES.
ASSIM EM CADA LAGO A LUA TODA
BRILHA PORQUE ALTA VIVE.'

(F. Pessoa)

Tributo a Fernando Pessoa
Por Milene Arder
Em 2/6/2001


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