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Artigos-->O CÉU BURGUÊS -- 14/05/2011 - 21:46 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O CÉU BURGUÊS



Francisco Miguel de Moura

(Da Academia Piauiense de Letras)





A democracia formal vem dos gregos, que a inventaram, e é hoje forma de governo quase universal. Poucos países não a adotaram. Entretanto permanece, substancialmente, a mesma forma de quando nasceu. Além disto, a cada dia se torna uma instituição fria e sem sal - repasto de povos amadurecidos, sem perspectiva de real crescimento. Paralelamente, nas chamadas democracias liberais, aumenta a concentração da renda, isto é, da riqueza nacional na mão de poucos (os ricos) e se generaliza a fome e a miséria. São 800 milhões de famintos, em todo o mundo, conforme pesquisa divulgada pela FAO, na recente reunião de Roma. Na democracia que conhecemos, algumas vezes chamada democradura como no Chile atual, os partidos são iguais, os políticos também.

Outrora, quando havia os perigos nazi-facista, socialista ou da esquerda, as eleições tinham um sabor de luta por mudança. Assim, as campanhas políticas se enriqueciam de conteúdo. Hoje, o voto eletrônico é muito asséptico, frio, sóbrio, calculado: nada acontece de novo no reino da Dinamarca, ao perpassar dos pleitos e campanhas.

É assim que a burguesia deseja. Se necessita gastar dinheiro com propaganda na tevê, ela gasta. Se as despesas forem outras, também gastará. O que importa é que todos os riscos sejam calculados com precisão. Não haja surpresas. E tudo isto para o que o Senhor Deus Mercado funcione a contento. Estamos na era dos gigantes shopping centers.

No reino da mercadoria, eles - os burgueses - são os donos: da terra, dos recursos naturais todos, da máquina, dos bancos (onde manipulam os juros), do capital e da renda. Por que deixar o Estado escapar-lhe das mãos? Jamais. Sindicatos? É bom que existam. Greves? Pode haver. Sabem como manipular os trabalhadores menos conscientes. Uma grevezinha, às vezes, concorre para que determinados setores faturem até mais. Os prejuízos e lucros todos são calculados.

Até pouco tempo, falavam em acabar com a pobreza por meios lícitos, éticos, com uma certa piedade compreensivelmente humana. Por exemplo: promovendo campanhas do tipo «limitação de filhos» ou de suprimento a entidades filantrópicas, desde que apoiados por um credo religioso e/ou instituição de caridade que lhes garantissem uma boa passagem para o céu.

Na atualidade, a burguesia não está nem aí. Há tanta crueldade que se pensa até que o Demônio instalou aqui seu plano-piloto de horror. Lembram-se de um governador que mandou jogar mendigos no rio? Sim, no Rio. Agora, somos testemunhos de chacinas e matanças de pobres e menores de rua. De presos políticos, ontem. De presos comuns, hoje.

- Pobre? Só é pobre quem quer - é o que dizem e pregam. - É só trabalhar. Pobre é pobre porque é pobre de espírito, não trabalha.

- Mas, trabalhar onde, em quê? Se a oferta de emprego desceu a zero?!...

- Por conta própria, ora! Eu dei o duro. Por isto tenho o que tenho - ronca um pequeno burguês aqui e outro mais acolá.

Vejamos a frase com que respondem aos pobres, quando estes lamentam que «atrás do pobre corre um bicho».

- E atrás do rico corre o pobre o bicho.

Tudo é máquina, tudo é robô, ou está a caminho. E a televisão trabalha para eles, os burgueses, com sua exposição descarada de produtos, com as melhores propagandas, na apresentação dos melhores artistas, etc.

Emprego? Só se for de vendedor de livros, de seguros, de picolé. Ou de serviçal doméstico. Mas a parafernália de máquinas é tão grande que querem liquidar já com este último tipo. É microondas, é frizer, é máquina de lavar roupa, pratos, etc. É cozinha comandada por computador.

Pobre? Que se arrebente.

Moral? É a do dinheiro, do poder corrompido.

Religião? Preferem aquelas que não venham com a história de que «é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico ganhar o reino do céu». Por isto modificaram a sentença bíblica para: «É mais fácil uma corda passar pelo fundo de uma agulha...»

A ética? Há muito tempo foi parar nas cucuias.

O desemprego aumenta mas não assusta nem os velhos empresários mais compreensivos e conscientes.

Tudo o que os burgueses desejam é poder afixar, um dia, na frente das suas fábricas: NÃO PRECISAMOS DE EMPREGADOS. TODOS FORAM DESPEDIDOS. SÓ TRABALHAMOS COM ROBÔS.

Chegará também o tempo em que não precisarão pedir (ou comprar) votos. Pois terão acabado com os pobres. E aí também já mataram a democracia. E o mundo todo se transformará num deserto de homens. Ou num inferno. Pois, onde existir apenas uma ideologia, também uma tirania, certamente, se instalará. Quem duvidar, consulte Maquiavel.



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